Executivos no Fórum expressam ceticismo sobre a zona do euro
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2011 às 10h47.
A máquina da economia global voltou a funcionar. Em ritmo pós-crise, um otimismo cada vez menos tímido sobre a recuperação passa a latejar. Entretanto, a lista de riscos não é pequena e a inflação vem como o principal perigo do momento. O Fórum Econômico Mundial terminou hoje em Davos, na Suíça, com um tom mais animador do que o esperado. Executivos se surpreenderam, por exemplo, com as perspectivas positivas para a atividade dos Estados Unidos, a maior esperança para 2011. "No geral, a sensação é de que conseguimos passar pela crise", disse Martin Wolf, colunista do Financial Times.
Não há dúvida de que os emergentes puxam a retomada, engatando velocidade considerada até perigosa. Um número apresentado em Davos deixa clara a disparidade de desempenho entre as economias: desde 2005, os emergentes acumulam crescimento econômico de 45%, enquanto os países avançados praticamente estagnaram no período (+5%).
O aquecimento emergente e o excesso de liquidez em circulação, fruto dos juros extremamente baixos no exterior, criam o atual ambiente inflacionário. "A maior preocupação na China é uma bolha no mercado imobiliário, porque a demanda por casas é tremenda", disse o economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yu Yongding.
A disparada dos preços dos alimentos e da energia gera tensão mundo afora, trouxe muitos alertas sobre a possibilidade de choques e acabou parando no centro da agenda do G-20. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, que lidera o grupo neste ano, fez um firme discurso contra a especulação com commodities. Ele defende a imposição de regras para aumentar a transparência do mercado e limitar os solavancos dos preços - tema que começa a ser discutido na reunião ministerial do G-20 nos dias 18 e 19 de fevereiro, em Paris.
"Os desafios para a economia são o superaquecimento, a inflação e o surgimento de bolhas", afirmou o presidente do Banco Mundial Robert Zoellick. Os emergentes também enfrentam a apreciação de suas moedas, resultado do enorme fluxo de investimentos que recebem. "Há enorme liquidez e a Índia se preocupa com o fluxo que recebe, não estão satisfeitos com esse dinheiro de curto prazo", afirmou o vice-presidente da Comissão de Planejamento da Índia, Montek Singh Ahluwalia.
A crise de dívida soberana na Europa também aparece como fator de cautela. As principais lideranças do continente vieram a Davos para tentar transmitir uma mensagem de confiança e mostrar vontade política para resolver os problemas. Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel fizeram uma forte defesa do euro. O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, passou a mensagem de austeridade que marca seu governo, como forma de reduzir o déficit público.
Ausentes nos últimos anos, os banqueiros retornaram a Davos, sem deixar de criar polêmica. Houve inclusive troca de farpas com políticos. Sarkozy manteve o tom crítico em relação às instituições financeiras, o que não foi bem recebido pelo presidente do JP Morgan, James Dimon. Em outro momento, o presidente do Barclays, Robert Diamond, disse que os banqueiros vieram a Davos para agradecer às autoridades por tudo que estavam fazendo pelo sistema financeiro. Ouviu uma resposta imediata e direta da ministra de Finanças da França, Christine Lagarde. Ela disse que a melhor forma de agradecer era voltando a emprestar e fortalecendo o capital do banco.
A participação do Brasil foi bastante tímida. O governo veio representado pela equipe mais técnica enviada pela presidente Dilma Rousseff, com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, todos pela primeira vez em Davos.