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Os sete erro fatais de Dilma

Como foi mesmo que chegamos a essa situação? O Senado deve votar nesta quarta-feira pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. A pauta é o crime de responsabilidade pelas agora famosas pedaladas fiscais. Mas os erros que devem culminar no afastamento vão muito além das contas do governo. Começaram ainda em 2011, no primeiro ano de […]

DILMA ROUSSEFF: presidente cometeu erros que podem causar o encerramento precoce de seu governo / Ueslei Marcelino / Reuters

DILMA ROUSSEFF: presidente cometeu erros que podem causar o encerramento precoce de seu governo / Ueslei Marcelino / Reuters

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Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2016 às 14h30.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h13.

Como foi mesmo que chegamos a essa situação? O Senado deve votar nesta quarta-feira pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. A pauta é o crime de responsabilidade pelas agora famosas pedaladas fiscais. Mas os erros que devem culminar no afastamento vão muito além das contas do governo. Começaram ainda em 2011, no primeiro ano de Dilma no Planalto. Abaixo, os sete erros fatais da presidente:

1) Falta de articulação

Até Humberto Costa, senador petista, reconhece que a presidente Dilma Rousseff tem dificuldade se articular politicamente. Num sistema político em que os principais partidos têm pouco mais de 10% dos assentos na Câmara e no Senado, a falta de apoio costuma ser fatal. Deputados de diversos partidos passaram anos reclamando da falta de diálogo do Planalto. Alguns de seus principais articuladores, como o atual ministro da Educação Aloísio Mercadante, nunca foram bem vistos no Congresso. Quando ela precisou dos votos para barrar o impeachment, a falta de apoio ficou evidente.

Dentro de seu partido, o PT, a relação não foi mais simples. Dilma não conseguiu convencer a cúpula petista da assertividade de suas decisões. Quando ela escolheu Joaquim Levy para assumir o Ministério da Fazenda, foi criticada por Rui Falcão e pelo ex-presidente Lula. Dilma e Lula passaram meses sem se falar, e só se reaproximaram quando o ex-presidente virou alvo da operação Lava-Jato.

2) Mentiras na campanha

Quando era candidata à reeleição, em 2014, Dilma Rousseff fez promessas que não conseguiria cumprir por questões orçamentárias. Depois de muito criticar o programa de seus adversários, a petista acabou adotando medidas defendidas por Aécio Neves na campanha. O desenho que ela construiu sobre o seu possível futuro governo não se concretizou, para a decepção de muitos eleitores. Além disso, o avanço das investigações da Operação Lava-Jato começou a mostrar indícios de que a campanha de Dilma em 2014 pode ter sido financiada com dinheiro desviado da Petrobras. A confissão do ex-líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral – que perdeu o mandato nesta terça-feira – só aguçou as suspeitas.

3) Resposta falha aos protestos de 2013

O ano de 2013 foi decisivo para o destino de Dilma Rousseff. Foi quando uma série de protestos iniciados pelo Movimento Passe Livre levou milhões de pessoas às ruas. A pauta era a melhoria dos serviços públicos e o fim da corrupção em todas as esferas de governo. Mas Dilma virou o alvo principal. E reagiu muito mal. Ela foi à TV afirmar que lançaria um plebiscito para debater uma reforma política, e também lançaria pactos nacionais por melhorias em áreas como saúde, educação e transporte. Esperava-se algum anúncio mais concreto, como redução no número de ministérios. No fim, ficou a impressão que o governo estava desconectado das demandas populares – um sentimento que só fez crescer desde então.

4) Bater de frente com Eduardo Cunha

Esse ponto é consequência direta da falta de diálogo com a Câmara. No início de 2015, o governo tentou, sem sucesso, emplacar o deputado Arlindo Chinaglia como presidente da casa, batendo de frente com seu principal aliado, o PMDB. Acabou perdendo a parada para o agora notório Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que já se sentou na cadeira de presidente com certo rancor do partido de Dilma. Aos poucos, Cunha foi dificultando a vida da presidente da República. O ápice dessa relação conflituosa aconteceu quando o PT decidiu não apoiar Cunha após denúncias da Lava-Jato e na abertura de investigação no Conselho de Ética. “O governo tem um ódio pessoal contra mim”, afirmou Cunha à época. No fim das contas, Cunha foi decisivo para selar o destino de Dilma.

5) Tentar interferir na Lava-Jato

O maior escândalo de corrupção da história do Brasil foi decisivo para levar adiante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. A cada nova fase da operação foram surgindo evidências de que integrantes do Partido dos Trabalhadores participaram do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras. Em fevereiro, numa ação que deu a impressão de que o governo queria frear o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público, Dilma tirou José Eduardo Cardozo do comando do Ministério da Justiça (ao qual a Polícia Federal está subordinada). Na sequência, nomeou Lula como ministro da Casa Civil logo depois do ex-presidente ser levado para depor coercitivamente pela Polícia Federal. O áudio vazado da conversa da presidente com Lula acabou sendo decisivo para que se consolidasse a tese de que Dilma estava tentando melar a Lava-Jato.

6) Pedaladas fiscais

A justificativa que embasa o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff são as famosas pedaladas fiscais. Ela é acusa de ter cometido crime de responsabilidade por sua equipe econômica não ter repassado dinheiro dos cofres federais aos bancos públicos, e por ter mascarado essas dívidas no balanço do governo. O deficit chegou a 60 bilhões de reais. Especialistas alegam que, por conta dessa “contabilidade criativa”, o governo
turbinou a crise econômica do país. Além disso, a política de controlar os preços de itens como gasolina e energia elétrica antes das eleições de 2014 forçaram o governo a anunciar altas sucessivas desde o início de 2015, o que faz os índices de inflação ficarem muito acima da meta estabelecida pelo Banco Central – e corrói ainda mais o poder de compra dos brasileiros.

7) Escantear Michel Temer

Michel Temer chegou a escrever uma carta reclamando de ser apenas um vice decorativo no governo de Dilma Rousseff. Quando a presidente percebeu que estava perdendo força no Congresso, em abril do ano passado, ela ainda tentou fazer de Temer o articulador político do governo, mas, sem respaldo do governo e do PT, ele deixou o cargo em poucas semanas. Mais recentemente, quando o impeachment ganhou força no Congresso, Dilma se afastou ainda mais do vice, quando, na visão de aliados, deveria ter feito um pacto para se manter no cargo. Deu no que deu. A partir desta quinta-feira, Temer deve ser o novo presidente.

(Rafael Ihara)

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