Os aprendizados da pandemia e o futuro da indústria farmacêutica
OPINIÃO | A pandemia nos deixou um legado de destruição e sofrimento, mas também demonstrou que o Estado e a iniciativa privada, quando cooperam um com o outro, podem produzir feitos incríveis
Publicado em 13 de setembro de 2023 às 06h56.
Uma das heranças da pandemia de COVID-19,ao redor do mundo,foi transformar a saúde públicaeo desenvolvimento do complexo econômico e industrial da saúdeem temascentraispara a segurança nacional.
Oimpacto da pandemia nas vidas das pessoas rapidamente se alastrou para a economiae, em 2020,o nível de atividade se contraiu em 90% dos países.Um impacto tão disseminadonão ocorreu nemnasduas guerras mundiais nem na Grande Depressão dosanos 30, segundo o Banco Mundial.As sucessivas ondasde contaminação desestabilizaram aproduçãomundial e, com isso, o funcionamento dascadeias globaisde valor. A escassezem vários mercadosimpactouo comérciointernacionalde benseproduziuprofundos impactos sobre ainflaçãoao redor do mundo.
- Empréstimos em moeda chinesa aumentam 1,36 trilhão de yuans em agosto
- ONS: níveis dos reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste estão em 73,5%
- Opep mantém previsão de alta na demanda global por petróleo em 2023, em 2,4 milhões de bpd
- Prazo de inscrição de credores no Desenrola Brasil é prorrogado até 12 de setembro
- Taxa de desemprego do Reino Unido sobe a 4,3% no trimestre até julho; salários avançam 7,8%
- Exportações e importações caem na China, mas números saem melhores que o esperado
Nos anos que se seguiram à eclosão da pandemia, aperda de rendaem decorrência do desemprego se somou à perda depoder de compra dos saláriosprovocadapela inflação. As estimativas do impacto para a próxima geração são igualmente desastrosas:Banco Mundial, UNESCO e UNICEF (2022) estimavam em US$ 17 trilhões o valor presente das perdas de rendimento ao longo da vida dos estudantes afetados pelo fechamento de escolas durante a pandemia.
Esse conjunto de efeitosmotivougovernos ao redor do mundo a lançar planos visando evitarquea eventualidade deuma nova crise sanitáriano futuroprovoqueperdas humanitárias e econômicasna proporção vista na sequência de 2020.O elemento central nesses planos é a busca da resiliência de cadeias produtivas estratégicas, sendo ada indústria farmacêutica umadasmais importantes, pois ograu de interdependência entre os países para a produção de medicamentos passou a ser visto como vulnerabilidade.Esses movimentos internacionais motivaram oGrupoFarmaBrasilaelaborarum mapeamento das iniciativas internacionais de fortalecimento da indústria farmacêutica.
A priorização do setor farmacêutico nas estratégias internacionaisestudadastemdiversasmotivações, a começar pelagarantia de acesso ainsumos e medicamentosna eventualidade de uma nova crise sanitária.A crise sanitária da COVID-19 e a disputa pelo fornecimento de bens críticos que se seguiu a ela evidenciou a relação entre dependência externa e vulnerabilidade do acesso à saúde globais, sujeitas até mesmo amedidasunilaterais de governos estrangeiros que estabeleceram barreiras às exportações de produtos na área da saúde.
Além disso,estudos econômicos revelam que melhores condições de saúde têm impacto relevante sobre o crescimento do PIB, decorrentes dos fortes vínculos entre saúde e produtividade.Por fim,o setor farmacêutico éaltamente intensivo em tecnologia eo quemais investe em P&Dno mundo, de modo que o seu desenvolvimento também alimenta o crescimento da produtividade, fundamental para ocrescimento econômico e o desenvolvimento dos paísesno longo prazo.
Nesse contexto, o conceito de resiliêncianão se limita àampliação da capacidade produtiva, mas tambémàevolução tecnológica eàmaior diversificação defornecedores.Ou seja, ficou claro que o acesso à saúde de qualidade, com ampliação da oferta e redução de custo, dependeda criação de capacidade produtiva e inovadora no paísque garantaos insumos, medicamentos e a estrutura necessária para objetivamente viabilizar o amplo acesso almejado.
Olhando para o Brasil, a vulnerabilidade do SUS éevidenciadapelocrescente déficit comercial do setorfarmacêutico, cada vez mais concentrado em produtos inovadores. A agenda, portanto, é uma agenda de estímulo e de remoção de barreiras internas à inovação.
Aboa notíciaé queo Brasilestárelativamentebem posicionado para adotar uma estratégia de desenvolvimento produtivo e tecnológico visando ampliar a resiliência e a sustentabilidade da saúde.Ao longo das últimas décadas,construímosumecossistemaintegradopor um sistema de saúde com o porte doSUS, por uma agência com a qualidade e a reputação daANVISAe por umaestruturaprodutiva e tecnológica composta por universidades e instituições de pesquisa altamente capacitadas e umabase industrial com o centro detomada dedecisão no país,a exemplodas empresas associadas ao GrupoFarmaBrasil.Foi a solidez desse ecossistema que permitiu que o país assegurasse a oferta de medicamentos essenciais ao enfrentamento da pandemia da COVID-19.
A pandemia nos deixou um legado de destruição e sofrimento, mas também demonstrou queoEstado eainiciativa privada, quando cooperam um com o outro,podem produzirfeitos incríveis. As exigências da COVID nos forçaram a avançar na esfera regulatória e no desenvolvimento de políticas públicas. Se aproveitarmos as experiênciasbem-sucedidaspara avançar em uma estratégia de desenvolvimento baseada na inovação,em pouco anoscolocaremosa indústria farmacêutica em outro patamar tecnológico.