(Agência Brasil)
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 14h42.
Por Gustavo Maia*
Em 2025, algo mudou de forma definitiva no debate global sobre tecnologia para governos. Não foi o surgimento de mais plataformas, nem a ampliação de portais digitais. Foi a consolidação de uma nova compreensão sobre o papel das GovTechs: tecnologia não como ferramenta de apoio, mas como mecanismo de escala do próprio Estado.
Essa virada ficou explícita quando o Fórum Econômico Mundial estimou que a transformação digital dos governos pode destravar US$ 9,8 trilhões em valor público na próxima década. Esse número não fala de eficiência marginal. Ele aponta para uma mudança estrutural na forma como os governos funcionam.
A tecnologia sempre foi, no fundo, uma forma de escalar capacidades humanas. Escalamos produção, comunicação, acesso à informação.
Quando levamos essa lógica para o setor público, o impacto é ainda mais profundo, porque estamos falando de serviços essenciais: saúde, educação, assistência social, mobilidade, habitação.
Em contextos onde a demanda é enorme e os recursos são limitados, a tecnologia deixa de ser opcional e passa a ser infraestrutura de política pública.
Os principais relatórios globais publicados em 2025 convergem nessa leitura. A OCDE mostrou que os países mais avançados em governo digital não são aqueles que simplesmente digitalizaram processos, mas os que conseguiram integrar dados, decisões e serviços em uma lógica de governo como plataforma.
Identidade digital, interoperabilidade e uso estratégico de dados tornaram-se mais relevantes do que canais isolados. O digital virou meio. O objetivo passou a ser a capacidade estatal.
Esse raciocínio ganha ainda mais força quando entram em cena as novas arquiteturas baseadas em inteligência artificial.
O debate sobre agentes autônomos, sistemas capazes de perceber contextos, tomar decisões dentro de parâmetros públicos e executar ações, deslocou o eixo da discussão.
Não estamos mais falando apenas de automação de tarefas administrativas, mas de robôs trabalhando em nome do governo, analisando dados, priorizando atendimentos, acompanhando cidadãos e escalando servidores humanos apenas quando necessário. Isso abre caminho para um Estado mais proativo, menos reativo, capaz de agir antes que o problema vire crise.
Os dados do Banco Mundial reforçam esse ponto. Países que trataram GovTech como estratégia de Estado avançaram rapidamente. Onde a tecnologia foi vista como projeto isolado, os ganhos ficaram limitados. O aprendizado de 2025 é claro: GovTech não é compra de software, é redesenho do funcionamento do governo.
No Brasil, esse futuro não é uma promessa distante. A digitalização de serviços públicos já vem sendo tratada como política pública há alguns anos, com experiências maduras em diferentes níveis de governo.
Casos como o de Recife mostram como dados, gestão e canais digitais podem reorganizar a relação entre Estado e cidadão. Nesse cenário, o Colab também atua como uma infraestrutura viva dessa transformação, operando serviços digitais e agentes autônomos em conjunto com governos locais.
Hoje, essa lógica já impacta milhões de pessoas em cidades como Santo André, Niterói, Mogi das Cruzes, Diadema, Duque de Caxias e Mesquita, no Rio de Janeiro, além de municípios menores, onde o efeito da escala é ainda mais visível, como Paraíso do Tocantins.
É nesses contextos que a tecnologia mostra sua força real: permitir que governos façam mais, melhor e mais rápido, mesmo com estruturas enxutas.
O mercado entendeu isso antes de muitos governos. 2025 foi um ano recorde em investimentos, fusões e aquisições em GovTech.
O setor deixou de ser nicho e passou a ser tratado como infraestrutura crítica. Não por moda, mas porque ficou evidente que serviços públicos digitais bem desenhados reduzem custos, ampliam acesso, aumentam confiança institucional e geram impacto social mensurável.
O que esses US$ 9,8 trilhões simbolizam, no fim das contas, não é apenas dinheiro. Eles representam a possibilidade de um governo mais capaz, mais justo e mais presente. Um governo que usa dados para decidir melhor, inteligência artificial para operar com eficiência e agentes autônomos para escalar sua atuação junto à população.
A partir de 2026, a pergunta não será mais se os governos vão adotar esse modelo, mas quão preparados eles estarão para fazê-lo de forma responsável, ética e centrada nas pessoas. 2025 deixou claro o caminho. Agora, a escolha é de execução.
*Gustavo Maia é diretor executivo do Colab e membro do Conselho Global sobre GovTech e Infraestruturas Públicas Digitais do Fórum Econômico Mundial.