Oposição quer obstruir reforma da Previdência após delações
Oposição já fala em pedir obstrução da PEC devido ao clima político de incerteza
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 07h28.
Brasília - A delação do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, deve trazer resistências à aprovação da PEC da reforma da Previdência na Câmara, por atingir o governo Temer.
A PEC será lida na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta segunda-feira, e deputados governistas devem pedir vista (um tempo para análise) para, após duas sessões do plenário, haver a votação na quarta-feira.
No entanto, a oposição e o PSB, da base do governo Temer, falam em obstruí-la.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos quatro integrantes do partido na CCJ, justifica que a delação agrava a crise política.
"Temos clima para votar uma reforma que mexe tanto com as pessoas?", questiona. "Não adianta correr igual coelho, para depois a aposentadoria do cidadão ser a passo de tartaruga".
"Se, para debater, for preciso obstruir, nós vamos", reforça Tadeu Alencar (PSB-PE), líder do partido na Câmara.
O PR, partido do 'Centrão' e alinhado à base do governo, não está fechado quanto ao tema, mas o deputado Delegado Waldir (PR-GO) vê motivos para a CCJ não aprovar a matéria ainda nesta semana.
"Eu penso que governo está abalado, treme com as delações trazidas pela Odebrecht, eu acho que deveríamos adiar esta discussão para o próximo ano, até que nós tenhamos mais estabilidade no governo", disse Waldir, um dos seis integrantes do PR na CCJ.
Com sete integrantes na CCJ, o PT vai entrar com um "kit obstrução", de acordo com o líder do partido, Afonso Florence (PT-BA). "Claro que o governo tem uma maioria muito expressiva, mas vamos buscar dificultar, porque a PEC retira muitos direitos. Há, entre nós, os que defendem que não devemos ficar no plenário se eles forem votar", disse.
Deputados e senadores do PT terão uma reunião no fim da tarde com o PCdoB e o PDT para traçar estratégia de fortalecimento da oposição ao governo. Rede e o PSOL serão convidados para a reunião.
O deputado Chico Alencar, do PSOL, engrossa a crítica. "A delação aponta que Governo e o Parlamento vêm implementando políticas, projetos de lei e iniciativas legislativas movidas a dinheiro e interesse privado", disse. "Quem elaborou matéria tão complexa para o relator Alceu Moreira, também do PMDB, apresentar seu relatório em tempo recorde? Essa correria é muito suspeita", questionou Alencar.
O relator Alceu Moreira (PMDB-RS), que chegou a se autointitular 'The Flash', pela rapidez com que entregou o relatório, diz que o responsável pelo ritmo da tramitação é o presidente da CCJ - Osmar Serraglio (PMDB-PR). "Só tenho de relatar a admissibilidade, e é algo jurídico e técnico", disse Moreira. (Breno Pires)