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Fernando Goldsztein: tragédia histórica no RS requer ajuda histórica

'Não resta nenhuma dúvida de que o Rio Grande do Sul, como diz o governador Eduardo Leite, precisará de uma espécie de Plano Marshall'

Rio Grande do Sul: águas do Guaíba atingiram alta histórica, subindo mais de 5,29 metros (Ricardo Stuckert/Brazilian Presidency/AFP)

Rio Grande do Sul: águas do Guaíba atingiram alta histórica, subindo mais de 5,29 metros (Ricardo Stuckert/Brazilian Presidency/AFP)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 6 de maio de 2024 às 19h00.

Última atualização em 7 de maio de 2024 às 17h08.

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Por Fernando Goldsztein*

Escrevo estas linhas num momento extremo para o nosso Rio Grande do Sul. As águas do Guaíba atingem sua alta histórica – 5,29 metros – superando a marca de 1941. São centenas de milhares que perderam tudo, mais de uma centena de mortes, até agora e, muita gente ainda precisando ser resgatada nos tetos de suas casas. Os relatos, vídeos e aúdios que circulam são dramáticos.

Isso tudo sem falar na destruição da infraestrutura pública como estradas, pontes, hospitais, escolas e muito mais. Uma catástrofe sem precedentes. Não resta nenhuma dúvida de que o Rio Grande do Sul, como diz o governador Eduardo Leite, precisará de uma espécie de Plano Marshall para a sua reconstrução, numa alusão ao financiamento americano para reerguer a Europa após a Segunda Guerra Mundial.

São 322 municípios atingidos. Serão necessários muitos e muitos bilhões de reais de ajuda do governo federal. Seja por meio de empréstimos, suspensão do pagamento das dívidas do estado, flexibilização de regras de compliance, desburocratização e, principalmente, a criação de um Fundo Constitucional com recursos da União, a exemplo do que já existe para o Norte e o Nordeste.

Neste momento, ainda vivemos o drama dos resgates e o desespero das dezenas de milhares de familias que estão nos abrigos. Aliás, se existe algo de positivo nesta calamidade, é ver a reação da comunidade através das doações e do trabalho voluntário, especialmente os que atuam como resgatistas. É comovente. As doações, que agora vêm de todo o Brasil, são fundamentais para este primeiro momento da tragédia. Mas será necessário muito mais para a reerguer o estado, para colocar todas estas pessoas de volta na sua vida, para recuperarmos empresas e empregos, para recontruirmos um Rio Grande devastado.

E mais, concordemos ou nāo, tudo indica que os eventos climáticos vieram mesmo para ficar inclusive com inundaçāo recente em Dubai. Será preciso investir não apenas na reconstrução, mas também na prevenção. Muitos investimentos serão necessários para reforçar/modernizar os sistemas de contenção, recuperaçāo de encostas e, especialmente, para a realocação de populações inteiras para fora de áreas de maior risco especialmente em municipios do interior.

Isso tudo sem falar no investimento em educação para agir em desastres, rotas de fuga, abrigos de emergência e sistemas eficientes de alerta.

Não será mais possível aceitar que a população seja pega desprevinida ou não entenda o perigo iminente, a fim de que seja possível ir para um local seguro.

Conversava hoje cedo com meu filho caçula Henrique de 10 anos. Ele tem estado atento às notícias, tanto na TV, como, principalmente, no rádio. Está impressionado com o que vê e ouve. Especialmente com o sofrimento que se abate sobre as crianças que perderam tudo.

Disse a ele que o pior já tinha passado. Que em breve aquelas crianças receberiam outra casa com geladeira, fogão e camas. Que ganhariam brinquedos novos. Que logo voltariam a frequentar a escola e brincar com os amigos. Enfim, que tudo voltaria ao normal. E, que as autoridades cuidariam para que, mesmo se chover muito novamente, estas pessoas não passem outra vez por este drama.

Após esta difícil conversa com o meu filho de 10 anos, perguntei a mim mesmo? Teria eu falado a verdade para o Henrique? Rezo a Deus e às autoridades, especialmente as de Brasília, que sim…

Fernando Goldsztein é fundador do The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Childrens National Foundation.

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