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O que está acontecendo na Cidade de Deus?

Moradores acusam policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de terem executado sete homens

Policiais na favela Cidade de Deus: na noite de sábado, antes dos corpos serem encontrados, houve uma operação policial intensa (Mario Tama/Getty Images)

Policiais na favela Cidade de Deus: na noite de sábado, antes dos corpos serem encontrados, houve uma operação policial intensa (Mario Tama/Getty Images)

Fernando Pivetti

Fernando Pivetti

Publicado em 21 de novembro de 2016 às 11h52.

Última atualização em 21 de novembro de 2016 às 12h43.

Sete homens foram encontrados às margens de um brejo, na Comunidade do Caratê, localidade da favela Cidade de Deus, na zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã deste domingo (20).

Os mortos estavam sem objetos pessoais ou armas e alguns deles estavam sem roupas.

Os moradores acusam policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de terem executado os homens.

"O problema é a forma como as mortes aconteceram. Eles eram traficantes, mas isso não justifica terem sido mortos com tiros à queima roupa e facadas", afirmou o pastor Leonardo Martins da Silva, pai de Leonardo Martins da Silva Júnior, 22 anos, uma das vítimas. Leonardo, segundo o Estadão, integrava o Comando Vermelho (CV).

A noite de sábado, antes dos corpos serem encontrados, houve uma operação policial intensa. "A noite foi de terror. Tiroteio o tempo inteiro. Mas, pelo visto, esse pessoal foi morto quando já estava rendido", falou uma moradora, que não quis se identificar.

A versão dos moradores

Os moradores falam que os confrontos começaram na noite de quinta-feira (17) na Gardênia Azul, bairro vizinho à Cidade de Deus, em uma disputa de territórios entre milícia e tráfico. A PM interveio e estendeu a ação para a Cidade de Deus, concentrando abordagens na região conhecida como Caratê. Foi lá onde foram encontrados os corpos.

A versão oficial

No sábado pela manhã, houve denúncia sobre a tentativa de traficantes do Comando Vermelho de invadirem uma área de milícia e os policiais foram checar. Na chegada, a polícia foi recebida a tiros e o confronto terminou sem presos. Na tarde de sábado, houve novo confronto e a PM decidiu acionou helicóptero de apoio (que caiu) porque a situação estava ficando séria.

A imprensa que esteve lá

Conta o repórter-fotográfico do jornal O Globo, que participou da cobertura:

Fomos até a região do Karatê e o clima começou a ficar pesado, porque eles não sabiam onde os corpos estavam. Achamos estranho, que podiam estar nos enganando, mas um parente confessou: “Vou falar a real. Tá vendo os restos de bomba de efeito moral no chão? Eles (PMs)estão jogando na gente. Com vocês aqui, entramos na mata”. Nós seguimos em frente e umas cem pessoas vieram atrás. O clima voltou a pesar e decidimos retornar para a entrada da favela.

Duas horas depois, por volta do meio-dia, uma senhora veio gritando, avisando que os corpos tinham sido achados. Corremos de volta ao Karatê e encontramos a cena, os sete mortos sendo velados. Uns parentes estavam agressivos, não queriam fotos.

Mas um pai, um pastor que havia tirado o corpo do filho todo fuzilado, permitiu que fizemos as imagens durante um minuto, e fomos embora.

A queda do helicóptero

O helicóptero da Polícia Militar caiu na noite de sábado na Avenida Ayrton Sena, perto da Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, matando seus quatro ocupantes, quando dava apoio a uma operação contra o tráfico de drogas.

A operação foi feita depois que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da região foi atacada a tiros por homens fortemente armados durante a manhã. Devido à ação, o tráfego de veículos ficou interditado na Linha Amarela, via expressa que liga a Barra da Tijuca à Avenida Brasil, e na Avenida Salazar Mendes de Moraes, onde fica instalada a sede da UPP.

A perícia inicial feita no helicóptero da Polícia Militar (PM) não encontrou perfurações por arma de fogo. A informação foi dada pelo secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, após participar do velório no Batalhão de Choque, no centro do Rio, de três dos quatro policiais mortos no acidente.

Roberto Sá informou que as causas do acidente estão sendo investigadas e que ainda é cedo para descartar qualquer hipótese. “O laudo de necropsia dos quatro policiais que estavam no helicóptero já saiu, a perícia foi muito rápida e muito eficiente, não há perfuração por arma de fogo nos corpos.

A perícia está sendo feita pela Delegacia de Homicídio e pela Aeronáutica. Na aeronave, até o momento, não se encontrou nenhum tipo de perfuração, mas é muito cedo ainda para qualquer conclusão. A perícia vai levar mais tempo, para ser uma perícia conclusiva. Então, não se descarta nada até o presente momento”.

Casamento marcado e tragédia

O terceiro-sargento Rogério Félix Rainha, da PM, foi dos mortos na queda do helicóptero, no início da noite deste sábado, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. Segundo o jornal Extra, ele estava com casamento marcado para esta semana. Ele foi levado para o Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, na Zona Oeste.

Operações continuam

A cúpula da Secretaria de Segurança Pública determinou, após reunião de mais de quatro horas no Centro Integrado de Comando e Controle, que as unidades do Comando de Operações Especiais (COE), integradas pelo Batalhão de Operações Especiais, Batalhão de Choque, de Ações com Cães e Grupamento Aero Marítimo, vão permanecer na Cidade de Deus por tempo indeterminado até que os líderes da facção criminosa que atua na região sejam presos. Nesse domingo (20), sete corpos de homens, com marcas de tiros, foram encontrados por moradores na mata que circunda a comunidade.

Com informações da Agência Brasil.

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