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"O povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda", diz Bolsonaro

Presidente eleito dava resposta sobre conversa com primeiro-ministro da Hungria; ele também disse que "quem ferrou o Brasil foram os economistas"

Jair Bolsonaro: "Eu não entendo de economia, mas tenho bom senso" (Adriano Machado/Reuters)

Jair Bolsonaro: "Eu não entendo de economia, mas tenho bom senso" (Adriano Machado/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de novembro de 2018 às 18h14.

Última atualização em 19 de novembro de 2018 às 19h52.

São Paulo - O presidente eleito Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (19) em conversa com jornalistas no Rio de Janeiro que "o povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda".

A resposta foi dada em meio a um questionamento sobre sua conversa por telefone com Viktor Orbán, primeiro-ministro de extrema direita da Hungria.

"É um país que sofreu muito com o comunismo no passado, é um povo que sabe o que é ditadura, o povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda, não sabe o que é sofrer nas mãos dessas pessoas, tá certo, e ele tá muito feliz com a nossa eleição e nós com toda certeza seremos grandes parceiros para o futuro".

A Hungria viveu uma ditadura comunista brutal sob a ocupação soviética entre 1949 e 1989, marcada por forte repressão e milhares de mortos e exilados.

A agência de notícias húngara "MTI" informou a visão da conversa com Bolsonaro expressa pelo escritório de imprensa de Orbán:

"Orbán parabenizou o novo chefe de Estado brasilero, que assumirá o cargo em janeiro, e explicou que vê com agrado que os valores que a Hungria considera como importantes tenham ganhado graças a Bolsonaro".

Democracia e imigração

Orban, que está em seu terceiro mandato, recebeu recentemente uma moção de censura do Parlamento Europeu, a primeira do tipo na história, por violar salvaguardas democráticas da União Europeia em relação à liberdade acadêmica, de expressão, pelo seu sistema eleitoral e político e por sua atuação contra minorias, entre outras questões.

O governo de Orbán é conhecido pelo discurso xenofóbico e pela política linha-dura em relação à imigração; seu governo aprovou medidas para registrar, penalizar e punir pessoas e organizações que auxiliem imigrantes ilegais a conseguirem residência legal.

Questionado sobre isso, Bolsonaro respondeu sobre o contexto brasileiro: "Se são não-governamentais, por que receber dinheiro do governo? Nós vamos dar um tratamento específico pra ONGs no Brasil. Empresas públicas não vão financiar ONGs pra fazer campanha contra interesse nacional no Brasil", sem definir o que seria o interesse nacional ou tratamento específico.

Ele também disse que a Lei de Imigração regulamentada em novembro do ano passado pelo governo de Michel Temer transformou o Brasil em um país "sem fronteiras" e que "se essa lei continuar em vigor qualquer um pode entrar no Brasil e chega aqui com mais direitos do que nós".

A lei, que substitui o Estatuto do Estrangeiro feito em 1980 ainda na ditadura militar, cria a figura do "visto humanitário" temporário e define novas regras para o estrangeiro estabelecer residência no Brasil.

Contexto

O Brasil viveu sob uma ditadura militar entre 1964 e 1985, quando houve restrição ao direito de voto, suspensão de direitos políticos e restrições à liberdade de imprensa e de manifestação, entre outros aspectos comuns a governos autoritários.

Bolsonaro já afirmou em outras ocasiões que “o período militar não foi ditadura” e que é favorável à tortura.

Ele também já expressou admiração e dedicou seu voto pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ao Coronel Brilhante Ustra, chefe do órgão de repressão Doi-Codi em São Paulo e reconhecido como torturador pela Justiça brasileira.

Equipe econômica

Bolsonaro também disse na conversa de hoje que Paulo Guedes tem "carta branca" para as nomeações da equipe econômica, que está quase completa, e que cobra apenas "produtividade".

Perguntado sobre a Petrobras e a promessa de que os eleitores não arcariam com os custos da flutuação do preço de gasolina, o presidente eleito destacou a sua falta de conhecimento no assunto:

"Você sabe que eu não sou economista, né, quem ferrou o Brasil foram os economistas. Eu não entendo de economia, mas tenho bom senso e sei o que o povo quer na ponta da linha. Sem canetaço, sem a mão grande do governo, eles querem combustível mais barato, um gás de cozinha especial mais barato. Mas isso depende em grande parte dos governadores que colocam o ICMS lá em cima.”

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