No Pará, 42% dos casos confirmados de covid-19 são da área da saúde
Servidores da saúde lidam com a falta de equipamentos de segurança e os profissionais que pertencem ao grupo de risco continuam trabalhando
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de abril de 2020 às 09h32.
Profissionais da área da saúde representam quase metade dos casos confirmados do novo coronavírus no Estado: são 42% dos casos, de acordo com o Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa). Em dez dias, sete médicos morreram pela doença. Falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), de treinamento, contratações precárias e até o trabalho contínuo de profissionais do grupo de risco estão entre as principais reclamações.
A técnica de enfermagem Rosana Rocha, que atua no Hospital e Pronto-Socorro Mário Pinotti, afirma que a falta de equipamentos foi um fator decisivo para a contaminação dela e de outros servidores. "Somos 1.200 trabalhadores. As pessoas faziam fila no almoxarifado para pegar equipamento e não dava para todo mundo. Foi um nível de precarização muito grande" disse. Rosana, de 53 anos, está afastada do trabalho com sintomas da covid-19 desde segunda-feira (27).
Outro problema é que servidores da saúde de Belém que pertencem ao grupo de risco continuam trabalhando. Mayck Gaia é filho de uma técnica em enfermagem com mais de 60 anos, hipertensa, diabética e cardiopata que está afastada por ter sido infectada pelo coronavírus. "No dia 18 de março houve o decreto de que todos deveriam se afastar, mas no dia 26 veio decisão para que todos os servidores da área da saúde e segurança voltassem. Ela acabou cedendo às pressões. No dia 9, ela já saiu do plantão se sentindo mal." Ele não revela o nome da mãe com medo de represálias.
A reportagem apurou que pelo menos outros dois idosos que retornaram ao trabalho tiveram complicações: um trabalhava no setor da radiologia e morreu - uma copeira segue internada.
O Estado afirma que 16% dos profissionais de saúde estão com covid-19 no Pará, com três óbitos confirmados. Sobre o retorno ao trabalho de servidores do grupo de risco, a Secretaria de Saúde do município de Belém não negou e se limitou a responder que "cumpre decreto municipal".