Brasil

No Brasil, conselheiro de Trump encontra Bolsonaro e faz lobby anti-Huawei

O conselheiro de Segurança afirmou que os dados do governo poderão ser "decifrados" pelos chineses caso o Brasil escolha a Huawei para a implantação do 5G

Conselheiro acusou a China de usar ataques cibernéticos para roubar propriedade intelectual (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

Conselheiro acusou a China de usar ataques cibernéticos para roubar propriedade intelectual (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 07h54.

O conselheiro de Segurança dos Estados Unidos, Robert O’Brien, disse que se o Brasil escolher a empresa chinesa Huawei para implantação da tecnologia 5G no País, os dados do governo e de empresas brasileiras poderão ser "decifrados" pelos chineses.

Em visita ao Brasil, o conselheiro fez a afirmação em reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), à qual o Estadão/Broadcast teve acesso. No evento, que teve a participação virtual de cerca de 70 empresários, O’Brien recomendou "fortemente" que os parceiros dos norte-americanos adotem fornecedores "confiáveis".

"Se vocês terminarem com a Huawei na sua rede 5G, haverá ‘backdoors’ e a capacidade de decifrar quase todos os dados que são gerados em qualquer lugar do Brasil, seja pelo governo, na frente de segurança nacional, seja por empresas privadas em suas habilidades de inovar e desenvolver novos produtos", afirmou. "Backdoors" ou "porta dos fundos", em inglês, é o método usado para ter acesso às informações dos usuários contornando medidas de segurança.

Espionagem

O conselheiro acusou a China de usar ataques cibernéticos para roubar propriedade intelectual em todo o mundo e disse que os Estados Unidos abrem um novo caso de espionagem contra a empresa a cada 10 horas. "Estamos preocupados que a China vá buscar alvos que não sejam tão difíceis como os dos EUA. Estamos preocupados que a China se volte cada vez mais para os países como o Brasil, especialmente se eles conseguirem sua rede 5G", completou.

De acordo com O’Brien, os Estados Unidos podem trabalhar conjuntamente com o governo brasileiro para defender o país dos ataques cibernéticos. "Nós podemos trabalhar juntos contra países que irão roubar ao invés de comprar ou pagar pela nossa tecnologia. Acredito que vamos trabalhar próximo dos militares brasileiros e do governo brasileiro para defender o Brasil no mundo cibernético.

Em meio a uma guerra comercial com a China, os Estados Unidos vêm fazendo forte campanha contra a Huawei e pressionam, desde o ano passado, para que ela seja banida da licitação para escolha de empresas para implantação da rede 5G no País.

Potencial

A tecnologia 5G é a quinta geração das redes de comunicação móveis. Ela promete velocidades até 20 vezes superiores ao 4G. Em ambiente controlado, as redes 5G podem ter velocidades de até 1 gigabit por segundo (Gbps). Assim, permite um consumo maior de vídeos, jogos e ambientes em realidade virtual. Além disso, promete reduzir para menos da metade a latência, tempo entre dar um comando em um site ou app e a sua execução - dos atuais 10 milissegundos (ms) para 4 ms. Em algumas situações, a latência poderá ser de 1 ms, importante, por exemplo, para o desenvolvimento de carros autônomos.

Em visita ao Brasil, o conselheiro terá hoje uma reunião com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, para tratar de segurança, e há expectativa de que a questão do 5G seja discutida. O’Brien encontrará na quarta-feira o presidente Jair Bolsonaro.

Acompanhe tudo sobre:5GEstados Unidos (EUA)Governo BolsonaroHuawei

Mais de Brasil

'Tentativa de qualquer atentado contra Estado de Direito já é crime consumado', diz Gilmar Mendes

Entenda o que é indiciamento, como o feito contra Bolsonaro e aliados

Moraes decide manter delação de Mauro Cid após depoimento no STF

Imprensa internacional repercute indiciamento de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe