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Não sou oposição ao Bolsonaro, mas às suas lambanças e filhos, diz Joice

Pré-candidata à prefeitura de São Paulo, a deputada federal não acredita que o racha com o clã Bolsonaro irá afetar a sua votação em 2020

A pré-candidata Joice Hasselmann: "São Paulo precisa ter um padrão Manhattan" (Vinicius Loures/Agência Câmara)

A pré-candidata Joice Hasselmann: "São Paulo precisa ter um padrão Manhattan" (Vinicius Loures/Agência Câmara)

AJ

André Jankavski

Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 09h00.

Última atualização em 18 de janeiro de 2020 às 10h00.

São Paulo – Em uma guerra aberta desde a sua saída da liderança do governo, a deputada federal Joice Hasselmann não acredita que precisará do presidente Jair Bolsonaro para vencer a disputa pela prefeitura de São Paulo. Para ela, apesar de estar sendo atacada recorrentemente pelos apoiadores do presidente nas redes sociais, o Brasil não é a “bolha falsa” vista no Facebook e no Twitter.

Mesmo assim, Joice não se posiciona como oposição ao presidente. “Não faço oposição ao presidente, mas às lambanças do presidente”, diz ela. “Mas eu sou oposição declarada aos filhos dele.”

Até agora, apenas três pesquisas foram realizadas para disputa de 2020 pela principal cadeira do Edifício Matarazzo, também conhecido como Palácio do Anhangabaú, sede da prefeitura paulistana. As primeiras, realizadas pelo Instituto Paraná Pesquisas e a XP/Ipespe (e antes da briga da parlamentar contra o clã Bolsonaro, em outubro), colocavam Hasselmann entre os cinco primeiros com cerca de 8% das intenções de voto.

O último levantamento, realizado pela desconhecida consultoria Brada Comunicação, apontou a deputada federal como a 10ª opção, com 1,5% de intenção de voto. Mesmo assim, a deputada não enxerga correlação.

“Nesse momento, o percentual e nada é a mesma coisa. É só lembrar da última eleição para a prefeitura que tivemos um candidato que saiu de 1% para vencer no primeiro turno, que foi o própria João Doria”, diz a parlamentar. Para ela, "São Paulo precisa ter um padrão Manhattan" em referência ao centro da cidade de Nova York.

Na entrevista a seguir, a deputada federal, que recebeu mais de um milhão de votos em 2018, fala sobre os seus planos para a campanha de 2020, relação com o presidente Bolsonaro e o Congresso e o futuro das reformas econômicas. “Se depender do governo, não será aprovado nada”, afirma ela.

Uma pesquisa divulgada recentemente pela Brada Comunicação mostra que a senhora está com 1,5% das intenções de voto. Qual foi a sua visão sobre esse resultado?

Cada instituto dá uma resposta diferente para a intenção de voto. Pesquisas anteriores me colocaram com intenções de 6% a 8%. Nesse momento, um alto percentual ou nada é a mesma coisa. É só lembrar da última eleição para a prefeitura em que tivemos um candidato que saiu de 1% para vencer no primeiro turno, que foi o própria João Doria. Mas uma coisa é fato: serei a única candidata direita que estará concorrendo à prefeitura. A Brada também trouxe que o eleitor quer uma mulher, com mais de 35 anos, e que não tenha o radicalismo reacionário que o Bolsonaro apresenta. Ele se apresentou como um liberal de direita, mas vimos que não é nada disso.

Mas a pesquisa mostra que 54% querem um prefeito com pensamento moderno, enquanto apenas 37% querem alguém de pensamentos conservadores. A senhora não se considera uma conservadora?

Eu sou absolutamente liberal na área da economia e em relação aos costumes sou conservadora. Porém, não sou reacionária. Eu aceito as diferenças e respeito as escolhas das pessoas. As pessoas maiores de idade e vacinadas fazem o que quiser com a vida delas, desde que respeitem a legislação. Mas a minha escolha pessoal, na minha casa e na educação dos meus filhos, é conservadora. Mesmo assim, não sou professora de Deus para colocar o dedo no nariz dos outros e dizer o que as pessoas precisam fazer com as suas vidas. Cada um faz o que quiser e temos a obrigação de respeitar. Essa é a diferença entre ser um liberal na economia e conservador nos costumes – e não o que foi feito por um grupo que se apresentou dessa maneira em 2018, mas que é paternalista, militarlista e reacionário. E isso é tudo o que eu abomino.

A senhora não terá mais o apoio do presidente Jair Bolsonaro em sua campanha. O quanto isso pode te atrapalhar? 

O Brasil não se resume ao Twitter, ao Facebook e ao Instagram. O Brasil é muito mais do que isso. Muita gente usa as redes sociais como ferramenta de trabalho, agora tem gente que não tem o que fazer e fica falando bobagem o dia inteiro por lá. Além disso, usam milhares de robôs que estão ali só para atacar as pessoas, como eu mostrei na CPMI das Fake News. Essa bolha que existe na internet, hoje, é falsa. Não tem nada a ver com a realidade do povo. Quando você anda na rua e olha nos olhos das pessoas, se percebe que a bolha é falsa. As pessoas me parabenizam pela coragem e o meu posicionamento. Eu não apoio quem passa a mão na cabeça de bandido. Não faço parte do grupo da rachadinha e do filé mignon para os filhos, por exemplo. Isso é o que o (ex-presidente) Lula fez. As pessoas que precisam ganhar o pão de cada dia estão sabendo o que está acontecendo.

Quais são as questões que a senhora acredita que são as mais urgentes de serem resolvidas na cidade de São Paulo?

Já estou com grupos estratégicos formados em áras como habitação, plano diretor, revitalização do centro e privatizações. Esses temas têm mexido comigo. Quando você enxerga o plano desenhado pelos outros candidatos e o que foi colocado em prática se vê que não foi feito praticamente nada. Houve uma sequência de estelionatos eleitorais. Antes de sair prometendo tudo, quero saber o que é possível fazer. Não adianta iniciar um processo de privatização para, depois de uma semana, a Justiça embargar. Tem que ser uma conversa de cavalheiros. Temos que ter uma São Paulo padrão Manhattan.

A senhora e o governador João Doria costumam trocar elogios públicos. Porém, o atual prefeito Bruno Covas irá concorrer como candidato ao PSDB. Como fica essa relação? O governador irá te apoiar?

Eu separo muito bem as coisas. Me dou bem com o João Doria, que é o meu amigo pessoal, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Não vou misturar a política que envolve milhões de brasileiros que moram em São Paulo com uma amizade pessoal. Seria criminoso fazer isso. O candidato do João Doria é o Bruno Covas. Gosto muito dos dois, mas terei que derrotar ambos, lamentavelmente.

Como a senhora enxerga a agenda de 2020 no Congresso? As reformas econômicas serão aprovadas ou o a relação do governo com o Legislativo pode atrapalhar?

Se depender do governo, não será aprovado nada. O governo não fez nada na própria reforma da Previdência. O presidente quando abria boca atrapalha o nosso trabalho para a aprovação. Estávamos fazendo caravana da Previdência de 1 trilhão de reais pelo Brasil e o presidente fazia "live" dizendo que se desse 600 bilhões de reais de economia já estava bom. Eu, o ministro Paulo Guedes e a equipe econômica ficávamos desesperados. O governo atrapalhava e muito. O presidente atrapalhava muito. A reforma aconteceu porque o Congresso queria. O Paulo Guedes ajudava bastante, apesar de algumas falas que não foram bem recebidas, assim como o secretário Rogério Marinho. Se as outras reformas terão o mesmo empenho, não acho que teremos mudanças tão profundas. A reforma tributária, por exemplo, vai acontecer, mas não na profundidade necessária. A atual está longe de ser a ideal, pois o governo está sendo omisso.

Hoje, a senhora se coloca como oposição ou situação ao presidente e ao seu governo?

Eu não sou oposição ao presidente, sou oposição às lambanças do presidente. São coisas bem diferentes. Se o governo quer passar por cima da lei e da ordem, criar subterfúgios, juiz de garantia, fazer acordos com o ministro do STF para colocar a investigação contra o filho debaixo do tapete, fazer o Brasil passar vergonha internacionalmente ao falar demais, colocar o filhinho de embaixador, passar a mão na cabeça de um maluco que tem o Twitter do pai liberado, sou oposição. Mas contra o presidente que deveria ser um homem dedicado ao Brasil, um estadista, nunca seria oposição. Quando ele mandar algum projeto para o bem do país, ele contará com o meu apoio e ao meu trabalho.

Então, a sua relação com os filhos do presidente continua deteriorada.

Eu sou oposição declarada a eles. São três patetas. Um é completamente megalomaníaco e louco, que é o Eduardo. Já o Carlos tem realmente um problema psiquiátrico, não à toa tem uma relação complicada com a família. Já no caso do Flávio, não conheço nenhum deputado que ganhe salário que um deputado ganhe que tem tanto aquele de imóveis, um apartamento gigantesco na Barra da Tijuca, que eu conheço, que tem a vida que ele tem criança na escola e afim. Tem alguma coisa muito errada no mundo de Flávio e não posso compactuar com isso.

Se a sua candidatura não engrenar, a senhora pensa em sair da corrida eleitoral ou até compor uma outra chapa como candidata à vice?

Isso nem passa pela minha cabeça. Não vou ser vice de ninguém. Não é por nada, e nada contra o cargo, mas o meu perfil é para fazer as coisas. Nâo é para ficar sentada como rainha da Inglaterra - não tem como dar certo. Preciso ter autonomia para decidir. Eu não tenho nenhum perfil de vice. Muita gente me procurou para isso e vem me procurado. Eu sou uma deputada de mais de um milhão de votos, a mais votada da história da Câmara dos Deputados, então não vou fazer isso com o meu eleitor.

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