"Não é cedo para falar em reeleição agora", diz Marco Feliciano
Em entrevista, o deputado disse que não é cedo para falar de 2022 e que é "legítimo" o presidente já "marcar território"
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de junho de 2019 às 09h30.
São Paulo - Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para ser vice-líder do governo no Congresso, o deputado Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP) se tornou um dos mais próximos interlocutores do Planalto.
O parlamentar viaja com Bolsonaro em agendas oficiais e participa de "lives" com o presidente, de quem tem sido uma espécie de "porta-voz informal".
Depois que Bolsonaro admitiu disputar a reeleição, durante ato evangélico, Feliciano se apresentou como candidato a vice para o que chamou de "chapa dos sonhos". Ao Estado, o deputado disse que não é cedo para falar de 2022 e que é "legítimo" o presidente já "marcar território".
O sr. espera compor uma chapa presidencial em 2022 se Jair Bolsonaro disputar a reeleição?
Seria interessante ele (Bolsonaro) ter um vice com entrada em um núcleo da sociedade que é extremamente fiel e leal. Não sei se o nome seria o meu. Se ele tem essa proximidade com um grupo que representa 60 milhões de fiéis, que é a comunidade evangélica, é claro que dá um salto muito grande. Essa é uma base social de sustentação muito grande do presidente.
Há uma aproximação de Bolsonaro com os evangélicos?
Eu assumi a vice-liderança do governo no Congresso com a missão de aproximar o presidente de um grupo que é a Frente Evangélica, que representa 1/5 do Parlamento. Percebi que o presidente, embora tivesse apoio dos evangélicos, conhecia muito pouco das grandes lideranças nacionais. Entre o fim de abril até agora consegui abrir a porta para o presidente em cinco grandes eventos, nos quais ele falou para 4 milhões de pessoas. Em Goiânia, foi lá que ele passou a possibilidade de o Brasil ter um ministro do Supremo Tribunal Federal evangélico. (Em São Paulo) Foi a primeira vez que o presidente vai em uma Marcha para Jesus. Tenho feito a ponte do presidente com os evangélicos.
O senhor pediu o impeachment do vice-Hamilton Mourão. Como Bolsonaro recebeu o episódio?
Foi uma questão muito particular minha. Ele é muito ético e jamais falaria de uma pessoa como o Mourão, que é vice dele. Como vice-líder do governo, não pude ficar calado vendo o que estava acontecendo. Um vice-presidente desde o primeiro momento indo para a imprensa e desdizendo tudo o que o presidente dizia. Minando a autoridade presidencial. O pedido de impeachment tinha 13 páginas. Não é um tiro para matar, mas um tiro para o ar, de aviso, para ele saber que tem alguém olhando. Mandei recados pesados para que ele entendesse que a Casa Civil não é a caserna. Porque na caserna manda a hierarquia militar, mas, em uma democracia, manda o presidente.
O que Bolsonaro achou disso?
O presidente nunca se meteu nessa história. Mas só pelo fato de ele não me repreender publicamente sendo eu vice-líder do governo, já é o tal silêncio ensurdecedor. É a maneira dele de falar que não é contra o que estou fazendo. Mourão estava colocando as asinhas de fora. Vice só serve na ausência do presidente. Ponto final. Não pode atrapalhar.
Como está hoje a relação do senhor com Mourão?
Eu nunca conversei com o Mourão. Fiquei muito feliz pelo silêncio dele. Ele entendeu o recado. Quando falei do ministro Santos Cruz, as pessoas acharam que eu estava de birra com a ala militar. De repente, ele cai. Não sou contra militar, mas contra aquele que mina a autoridade do meu presidente.
Como é a sua relação pessoal com Bolsonaro?
Nos tornamos amigos em 2013, quando assumi a Comissão de Direitos Humanos. Na comissão passei por aquele perrengue todo. Sofri demais no momento que nem toda a bancada evangélica deu apoio. O Bolsonaro esteve comigo desde o primeiro momento. Nasceu ali nossa amizade. Tínhamos algo em comum: ambos eram perseguidos pela esquerda. Fizemos uma dobradinha legal. Temos uma afinidade ideológica.
Bolsonaro pode se converter e virar evangélico?
Ele já é casado com uma evangélica. É católico praticante, cristão fervoroso.
Como é a relação do senhor com o núcleo ideológico do governo, de Olavo de Carvalho?
Sou um admirador do Olavo. Estudo com ele faz três anos. Conheci muito da política de esquerda com o Olavo. Fiz curso de filosofia com ele, comprei livros. Aprendi as questões de Lenin, de como a esquerda trabalha, o comunismo na Europa. Olavo expandiu minha mente política, que era tacanha e pequena. Minha relação com a ala que gosta do Olavo é muito boa.
Bolsonaro admitiu que pode disputar a reeleição. Com a popularidade em queda e a economia em crise, é um bom momento para se falar sobre isso?
Não tem um lugar em que o Bolsonaro tenha sido vaiado. O povo foi para a rua em defesa dele. Tanto que o povo está defendendo algo que vai tirar direitos. A reforma (da Previdência) vai tirar direitos e o povo quer que vote. Não é cedo para falar em reeleição agora. Outros pré-candidatos já estão em campanha. Ou você tem dúvida de que o (João) Doria é candidato? Que o (Wilson) Witzel é candidato? O Ciro Gomes? Bolsonaro está marcando território. Está dizendo: "Olha, eu vou arrumar a casa. E não vou deixar na mão de um qualquer". É legítimo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.