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Mudanças na Esplanada: o que sinalizam as trocas feitas por Bolsonaro

Novos nomes em ministérios apontam para uma abertura de espaço para o Centrão e para pessoas mais alinhadas ao presidente

Vista aérea do Congresso Nacional em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

Vista aérea do Congresso Nacional em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 30 de março de 2021 às 06h00.

Última atualização em 30 de março de 2021 às 22h40.

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Depois de um dia de reuniões no Palácio do Planalto e do anúncio de trocas no comando de seis ministérios, o presidente Jair Bolsonaro indicou ontem militares, parlamentar e delegado para cargos importantes no primeiro escalão do governo. As datas das posses ainda serão anunciadas, mas as mudanças já sinalizam uma abertura de espaço para o Centrão e, principalmente, para nomes mais alinhados ao presidente.

Em um dos arranjos internos, a Casa Civil passará a ser comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos, que deixa a Secretaria de Governo. No lugar dele, entra a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), que estava na presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO) no Congresso, por onde passa o Orçamento da União. Na Secretaria de Governo, ela será responsável por fazer a ponte entre o governo e o Parlamento.

Essa é uma das indicações mais ligadas diretamente ao Congresso. “O nome dela é o maior sinal ao Centrão. Flávia Arruda é a pessoa que representa o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no governo”, avalia André César, da Hold. Ele lembra que a deputada foi a escolha de Lira para assumir a CMO, após uma queda de braço iniciada em 2020 com o ex-presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Também teve influência do Congresso a troca mais esperada, do ex-chanceler Ernesto Araújo. Ele se desentendeu recentemente com parlamentares e foi alvo de uma série de pedidos para que ele deixasse o cargo. O próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), recomendou uma “mudança nos rumos” da política externa, na semana passada.

Para o analista político Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, Bolsonaro tenta, com as mudanças, mandar sinais ao Centrão e à sua própria base. "A reforma visou sinalizar, ainda que de forma tímida, alguma disposição em negociar com o Congresso e autoafirmação da autoridade do presidente dentro do próprio governo. O segundo ponto pesou mais", avalia Vidal.

Mais alinhados

Especialistas afirmam que a maioria das mudanças indica um movimento para colocar pessoas alinhadas a Bolsonaro nos cargos importantes, mais do que sinais ao Centrão. “A tendência, pelo que tem sido indicado, é colocar pessoas mais ligadas a Bolsonaro. Dá um aceno, ainda que tímido ao centrão, e pôr para dentro do governo quem está disposto a apoiá-lo em qualquer decisão, sem se opor", avalia a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social Mackenzie e do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

É o caso do embaixador Carlos Alberto Franco França, que assume o lugar de Araújo no Itamaraty. O ex-chanceler já estava com a imagem desgastada, apesar de próximo à família Bolsonaro. França, no entanto, também é ligado ao presidente: já chefiou o cerimonial do Palácio do Planalto e foi nomeado em seguida para a chefia da assessoria especial da Presidência. 

Mas, ao contrário de Araújo, o embaixador conta com a simpatia de parlamentares e é uma aposta para melhorar a relação com o Legislativo. Outro nome muito alinhado a Bolsonaro é o do delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres, secretário de Segurança do Distrito Federal. Ele assumirá o Ministério da Justiça com a saída de André Mendonça, que voltará a chefiar a Advocacia-Geral da União (AGU), no lugar de José Levi. 

Amigo pessoal de Flávio Bolsonaro, Torres por pouco não foi escolhido diretor-geral da Polícia Federal pelo presidente, em negociações que ocorreram pouco antes da eleição de 2018. Já conhecido do delegado, Bolsonaro cogitou dividir o Ministério da Justiça e da Segurança em dois para incluí-lo no governo, mas mudou de ideia para manter Sergio Moro na pasta. 

Sob pressão

Para o analista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, as mudanças anunciadas nesta segunda marcam o início de uma rearticulação sob pressão. “Já era cobrada uma reforma ministerial desde janeiro, fevereiro. Agora, Bolsonaro foi obrigado a fazer e não deve parar por aí”, afirma. Além de sinalizar para o Centrão que os espaços estão sendo rearranjados, o presidente abre a porta para novas alterações em ministérios já desgastados, como o da Educação e o do Meio Ambiente.

“Há muita coisa em aberto ainda. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, segue muito pressionado”, avalia César. Um indício dessa pressão foi a saída da secretária de Educação Básica do MEC, que pediu demissão também nesta segunda-feira, uma sinalização de problemas no ministério. Ela era um dos poucos nomes na pasta que tinham boas relações com especialistas da área e não tinha ligação com a ala ideológica do governo.

Outra saída que pode vir ao radar é a do ministro da Economia, Paulo Guedes, mais para a frente, ainda mais diante dos impasses a respeito do Orçamento de 2021. “Quando ele sair, Bolsonaro deve voltar a repartir o ministério em três, como era antes. Volta Planejamento, Fazenda e Indústria e Comércio”, acredita César. “Todas essas movimentações mostram que Bolsonaro pensa na sobrevivência, o que passa pelo Centrão”, diz.

 

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