MPF vai investigar caso de empresários que tomaram vacina às escondidas
A investigação foi iniciada após reportagem da revista Piauí, segundo a qual um grupo do setor de transportes importou vacina contra covid e ofereceu a amigos e familiares
Reuters
Publicado em 25 de março de 2021 às 19h02.
Última atualização em 25 de março de 2021 às 19h31.
O Ministério Público Federal ( MPF ) abriu nesta quinta-feira uma investigação para apurar suposta vacinação irregular de empresários e políticos de Minas Gerais com o imunizante da Pfizer contra a covid-19 , informou o órgão.
A investigação foi iniciada após reportagem da véspera da revista Piauí, segundo a qual um grupo do setor de transportes importou a vacina e ofereceu a amigos e familiares ao preço de 600 reais pelas duas doses.
"Os fatos narrados na reportagem, se vierem a ser confirmados, podem indicar, além de violação à Lei nº 14.125, a ocorrência de crimes relacionados à importação ilegal do medicamento", disse o MPF em comunicado.
A Pfizer negou em nota qualquer venda ou distribuição da vacina da empresa no Brasil fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização (PNI), e lembrou que o imunizante ainda não está disponível no território brasileiro.
A empresa lembrou ter firmado um acordo com o Ministério da Saúde para o fornecimento de 100 milhões de doses ao longo deste ano, com as primeiras entregas em abril.
A compra de vacinas pelo setor privado foi autorizada pelo Congresso neste ano, por meio da Lei nº 14.125, como forma de ampliar a imunização contra a covid-19 no país, mas a lei determina que as doses sejam doadas ao Sistema Únido de Saúde (SUS) até que todo o grupo de risco (mais de 77 milhões de pessoas) tenha sido vacinado, e mesmo depois metade das doses compradas deve ser destinada ao governo.
O juiz substituto da 21ª Vara Federal de Brasília, Rolando Spanholo, entendeu que a exigência da doação, incluída na lei pelos parlamentares, é inconstitucional, aceitando a argumentação do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, de que a vedação violava o direito fundamental à saúde ao atrasar a imunização.
Empresa nega
De acordo com a Piauí, um grupo de empresários e políticos de MG teria sido imunizado na mineradora Belgo Mineira, pertencente à ArcellorMittal Aço.
A ArcelorMittal disse, em nota, que nunca comprou nenhuma vacina para o combate à covid-19, e que sua empresa de gestão de saúde, a Abertta Saúde, atua como posto avançado de vacinação do SUS em Belo Horizonte e Contagem.
"A ArcelorMittal desconhece qualquer atuação de seus profissionais em atos correlacionados à vacinação fora dos protocolos do Ministério da Saúde e do Programa Nacional de Imunização – PNI", afirmou.
O processo de vacinação contra a covid no Brasil tem sido lento desde meados de janeiro, o que tem contribuído para o pior momento da pandemia no país, com média de mortes superior a 2.000 por dia nas últimas semanas.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 12,4 milhões de pessoas foram vacinadas com a primeira dose no país, o equivalente a cerca de 6% da população.