Moro defende investigação sobre conta de ex-assessor de Flávio Bolsonaro
Moro afirmou que o presidente eleito já esclareceu sua parte e que os demais fatos devem ser esclarecidos pelos envolvidos ou por apuração
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 14h02.
Última atualização em 10 de dezembro de 2018 às 14h51.
São Paulo e Brasília - O ex-juiz federal Sérgio Moro , futuro ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro , se manifestou pela primeira vez nesta segunda-feira (10) sobre o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta do ex-policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou o caso no dia 6. Flávio Bolsonaro é o filho mais velho do presidente eleito.
Moro sugeriu, ao falar com a reportagem, uma investigação sobre o caso. "Sobre o relatório do Coaf sobre movimentação financeira atípica do sr. Queiroz, o sr. presidente eleito já esclareceu a parte que lhe cabe no episódio. O restante dos fatos deve ser esclarecido pelas demais pessoas envolvidas, especialmente o ex-assessor, ou por apuração."
Moro disse, no entanto, que não tem "esse papel" de comentar ou de interferir em casos específicos. "O ministro da Justiça não é uma pessoa para ficar interferindo em casos concretos", afirmou.
"Vou colocar uma coisa bem simples. Fui nomeado para ministro da Justiça. Não cabe a mim dar explicações sobre isso. Eu acho que o que existia no passado de um ministro da Justiça opinar sobre casos concretos é inapropriado", afirmou.
No domingo, 9, Bolsonaro afirmou que Fabrício Queiroz, ex-motorista de seu filho Flávio, é quem dará as explicações sobre os depósitos que foram feitos em sua conta. Afirmou, ainda, que não conversou com o ex-assessor do filho sobre o caso.
Fabrício José Carlos de Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 15 de outubro. Registrado como assessor parlamentar, Queiroz é também policial militar e, além de motorista, atuava como segurança do deputado.
O Coaf informou que foi comunicado das movimentações de Queiroz pelo banco porque elas são "incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira" do ex-assessor parlamentar.
O relatório também cita que foram encontradas na conta transações envolvendo dinheiro em espécie, embora Queiroz exercesse uma atividade cuja "característica é a utilização de outros instrumentos de transferência de recurso".
Uma das transações na conta de Queiroz citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. A compensação do cheque em favor da mulher do presidente eleito Jair Bolsonaro aparece na lista sobre valores pagos pelo PM.
"Dentre eles constam como favorecidos a ex-secretária parlamentar e atual esposa de pessoa com foro por prerrogativa de função - Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil", diz o documento do Coaf.
Na sexta-feira, 7, ao site O Antagonista, Bolsonaro confirmou uma justificativa que vinha sendo difundida reservadamente ao longo do dia por seus auxiliares próximos. O repasse, disse o presidente eleito, se refere a uma parcela do pagamento de um débito antigo de Fabrício Queiroz com ele.
"Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil", disse Bolsonaro ao site.
Também na sexta, Flávio Bolsonaro saiu em defesa de Queiroz. O senador eleitor disse que o ex-assessor lhe apresentou "uma explicação plausível" para a movimentação de R$ 1,2 milhão em um ano. Flávio Bolsonaro se recusou três vezes, porém, a revelar a versão apresentada pelo ex-assessor sob a justificativa de que estava atendendo a um pedido do advogado de Queiroz.
"Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar o devido esclarecimento." Flávio disse ainda concordar que a quantia movimentada pelo ex-assessor em um ano "é muito dinheiro". "O acusado é ele (Queiroz), não eu", ponderou. "A versão que ele coloca é bastante plausível, mas não sou eu que tenho de ser convencido, é o Ministério Público."
Auxiliares afirmam que Jair Bolsonaro conheceu Fabrício Queiroz em 1984. Os dois integravam a mesma turma de um curso no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista.
Foro privilegiado
Sérgio Moro também defendeu, nesta segunda-feira, a aprovação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) que acaba com o foro privilegiado. Segundo ele, a proposta está em discussão no Congresso nesta semana.