Mônica Moura teria recebido US$ 50 mi da Odebrecht, diz delator
A esposa e sócia de João Santana estaria entre os "top five" na lista dos maiores recebedores de dinheiro do setor de propinas
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de março de 2017 às 16h52.
Brasília - Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas explicou como era a relação com Mônica Moura, esposa e sócia do publicitário João Santana , e a rotina de pagamentos extraoficiais feitos ao casal.
Mascarenhas chefiou de 2006 a 2015 o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como "departamento da propina" da empreiteira.
No depoimento, ele diz que todo o contato de pagamento ao casal era feito com Mônica Moura, que estaria entre os "top five" - na lista dos cinco maiores recebedores de dinheiro do setor de propinas.
Ele estima que tenham sido pagos em torno de US$ 50 milhões e US$ 60 milhões para Mônica, identificada com o codinome "Feira".
O delator disse que foram feitos pagamentos ao casal por campanhas no Brasil de 2010, 2012 e 2014.
"Tinha diretores de obras no exterior, diretores que aprovavam indicações, aditivos, etc, que recebiam fortunas também. Com um detalhe, lá eles recebiam para eles, bolso, e aqui muitas vezes era para eleições, campanhas, etc", narra Mascarenhas, sobre os outros integrantes do topo do ranking de pagamentos da Odebrecht.
Ele detalhou no depoimento que os pagamentos a Mônica Moura saíam da conta corrente vinculada ao "italiano", apelido que seria para identificar o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
A conta era usada na medida em que o partido dele, o PT, necessitasse, segundo o delator.
"Existia uma conta corrente onde foi aberto um crédito de X para o 'Italiano' por ele ter apoiado a empresa em determinada coisa. Aquele dinheiro que tinha aberto crédito não ia para ele, ficava para ele usar na medida em que o partido dele, que era o PT, necessitasse. Então pagar ao marqueteiro da campanha de Dilma é uma necessidade do PT. Então ele autorizava: 'Preciso pagar dez milhões ao dr. João Santana'. João Santana nunca apareceu, sempre quem aparecia era a dra. Mônica Moura, que essa eu botei o codinome", descreve Mascarenhas.
Ele explicou que pagamentos ao marqueteiro não foram feitos só relacionados a campanhas políticas no Brasil, mas também a serviços no exterior.
"Pessoas de países que nós trabalhávamos, como Angola, Panamá, El Salvador, queriam eles na campanha deles. E eles diziam: 'Só vou se a Odebrecht garantir o pagamento'. Então sobrava para a gente pagar, não é? O responsável pelo país lá, nosso diretor de país, assumia o ônus de pagar a campanha que eles iam fazer para esses países", descreve o delator.
Segundo ele, os valores eram sempre "bastante grandes" e Mônica Moura exigia que parte fosse paga no Brasil, com a justificativa de que tinha que pagar serviços feitos no País e funcionários.
No Brasil, os valores eram pagos em espécie.
Normalmente pagamentos a Mônica Moura eram próximos de eleições no Brasil ou no exterior.
O advogado Juliano Campelo Prestes, que representa Mônica e João Santana, disse que só pode se manifestar após ter acesso à integra dos depoimentos.