MP: a despesa com pessoal em SP consome cerca de 44% do que entra nos cofres do Estado (Wikicommons/Wikimedia Commons)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de agosto de 2019 às 12h43.
Mais de um terço dos cargos criados nos Estados em 2019 correspondem a vagas a serem ocupadas nos Ministérios Públicos. Assembleias Legislativas, entre elas as de Estados que enfrentam grave crise financeira, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais, já aprovaram ou discutem propostas que visam a abertura de novos cargos. Ao menos 1.357 funções já foram criadas - cerca de 500 delas ligadas a Promotorias - impondo novos gastos obrigatórios aos cofres públicos estaduais. Em São Paulo, projeto em tramitação prevê mais 400 promotores para o Estado.
No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) sancionou, no mês passado, a contratação de 300 assessores em cargos comissionados para o MP estadual. O custo é de R$ 27 milhões por ano, com salários e benefícios. O projeto original ainda pedia a criação de mais um "penduricalho", o 13º auxílio-alimentação para servidores do MP, mas esta parte do texto foi vetada.
Segundo os dados do Tesouro Nacional mais atualizados, de 2017, o custo com o pagamento de pessoal no Espírito Santo correspondia a 44% da receita líquida (R$ 6,7 bilhões) do Estado. O Ministério Público estadual justificou o projeto pela necessidade de melhorar a estrutura das promotorias.
No Piauí, o governador Wellington Dias (PT) aprovou a contratação de 155 assessores de promotoria e 45 ministeriais - todos comissionados. O projeto, de autoria do procurador-geral de Justiça do Estado, Cleandro Moura, foi apresentado ainda em 2018. O pagamento de servidores no Estado, em 2017, equivalia a R$ 5,1 bilhões - ou 54% da receita. O projeto justifica que o aumento é para garantir a presença de servidores em funções auxiliares aos trabalhos das promotorias.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG), Paulo Cezar dos Passos, afirmou que "a ampliação dos quadros do Ministério Público está dentro do orçamento de cada unidade e visa o interesse público, ante as atribuições destinadas constitucionalmente ao Ministério Público".
Para além do Ministério Público, há ainda a criação de cargos nos tribunais de Justiça. Em Pernambuco, 216 funções comissionadas já foram criadas neste ano, e outros 27 foram reformulados - todos no Tribunal de Justiça do Estado.
O projeto, contestado pelos concursados do TJ-PE e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tem um impacto anual de R$ 11 milhões nos cofres do Estado. A proposta teve tramitação célere. Chegou à Assembleia em 17 de junho, foi aprovado em 2º turno dois dias depois e promulgado em 29 de junho - um dia antes do início do recesso parlamentar. A despesa com servidores no Estado chega a R$ 14 bilhões.
Há ainda cargos comissionados de assessor nas próprias Assembleias - como os 58 aprovados no Mato Grosso do Sul este ano. No Estado, a despesa anual com o pagamento de funcionários é de R$ 7,3 bilhões, 58% da receita líquida.
Na Paraíba, também há novos funcionários para a área educacional como os 400 agentes socioeducativos para a Fundação da Criança e do Adolescente. O salário médio é de R$ 1.500, já inclusas as gratificações. Com isso, o gasto anual da medida seria próximo a R$ 7,8 milhões. O pagamento de funcionários representa 56% das receitas no Estado - R$ 6 bilhões.
Em São Paulo, o Ministério Público encaminhou projeto para a Assembleia Legislativa que prevê a contratação de mais 400 promotores de Justiça - aumento de 20% em relação aos cargos disponíveis hoje.
Se aprovada a proposta, o custo aos cofres públicos seria de R$ 160 milhões por ano, levando-se em conta a remuneração atual de um promotor no Estado. A última vez em que foram abertos cargos de promotores em São Paulo foi em 2015. A despesa com pessoal consome aproximadamente 44% do que entra nos cofres do Estado.
Rio Grande do Sul e Sergipe também têm projetos similares tramitando. O MP gaúcho deseja abrir 41 novas vagas para cargos comissionados de assessoramento de promotores, o que geraria um custo de R$ 3,4 milhões por ano. O Estado vive uma crise fiscal e, bem como o Rio de Janeiro, descumpre o limite de 200% na relação entre a dívida consolidada líquida e a receita consolidada líquida. Isso faz o Rio Grande Sul ter a pior classificação de capacidade de pagamento.
Já em Sergipe, a demanda do Ministério Público local é por mais 25 profissionais, sendo 15 de comissão de nível superior e 10 de qualquer nível. Por outro lado, o projeto de lei que visa a criação destes cargos comissionados também prevê a extinção de 53 postos efetivos do MP do Estado - entre analistas e técnicos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.