Marcha de sem-terra segue para o escritório da presidência
Cerca de 300 sem-terra, da Frente Nacional de Luta, chegaram hoje à capital paulista, após caminhas mais de 500 km
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2014 às 13h39.
São Paulo - Após caminhar mais de 500 quilômetros (km), partindo da cidade de Assis no dia 8 de junho, cerca de 300 sem-terra, da Frente Nacional de Luta (FNL), chegaram hoje (3) à capital paulista.
Na chegada, no Largo da Batata, zona oeste paulistana, eles foram acolhidos por cerca de 200 integrantes, segundo estimativa da Polícia Militar, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto ( MTST ).
O grupo saiu em caminhada por volta das 11h30 para o escritório da Presidência da República, na Avenida Paulista, onde vai protocolar um pedido de audiência com a presidenta Dilma Rousseff e entregar a pauta de reivindicações.
Os sem-terra avaliam que pelo menos mil pessoas participam do ato. Além dos sem-teto, outros movimentos sociais e categorias de trabalhadores, como os metroviários e estudantes da Universidade de São Paulo, estão na marcha. “Eles lutam pela terra no campo e nós pela terra na cidade. Nossas lutas se aproximam.
Além disso, queremos saúde, educação, transporte público, por isso estamos aqui em solidariedade, mas também porque a luta é nossa”, explicou Simone Teles, uma das coordenadoras do MTST. Ela explica que o movimento não deve apresentar pautas específicas no escritório da Presidência.
De acordo com José Rainha, dirigente da FNL, o apoio à agricultura familiar e o enfrentamento do latifúndio improdutivo são os principais pontos de reivindicação. “Em parte da pauta, fomos atendidos, que são áreas de desapropriação aqui [São Paulo] e no Nordeste. Agora, essas outras questões são políticas de governo e queremos discutir”.
Ele avalia que esses pontos devem ser enfrentados pelo governo e não mediados. “O governo está muito técnico e isso tem emperrado os processos nos gabinetes. Há muitas áreas passíveis de reforma agrária, mas não avança”, disse. Segundo a frente, há no Brasil mais de 180 milhões de hectares de terras improdutivas.
Rouco, em consequência do frio e do calor que enfrentou na longa caminhada de quase um mês, o lavrador Valdeci Camargo, 40 anos, diz que está cansado, mas acredita que a mobilização dos trabalhadores sem terra pode mudar a condição de vida que ele tem hoje. Morador do município paulista de Iepê, a cerca de 500 km da capital paulista, ele participa da FNL há cinco anos e espera um pedaço de terra para produzir o próprio sustento. “Trabalho no campo e é uma lida difícil.
Na fazenda em que trabalho, a gente faz de tudo, planta, cuida de gado”, relatou. Por dia, o grupo caminhava de 15 a 25 km, fazendo as refeições na própria estrada e passando a noite em cidades no percurso.
A lavradora Jucilene Meriles, 38 anos, também de Iepê, comemora o fato de ter sido assentada em fevereiro deste ano, mas ainda aguarda o loteamento para iniciar o plantio. “Por enquanto, é só consumo próprio”, contou.
O assentado Luciano Lima, 36 anos, destaca que, mesmo tendo conseguido o lote há sete anos, continua na luta pela reforma agrária, pois é preciso reivindicar políticas de assistência técnica e de crédito para os pequenos agricultores. “Não é só dar a terra, é preciso apoiar para que os trabalhadores possam produzir cada vez melhor”, lembrou.