Coronavírus: a pesquisa conclui que aproximadamente 3,5 milhões de pessoas já se infectaram na capital, mais que o triplo do 1,1 milhão registrado oficialmente (Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de maio de 2021 às 14h06.
Um estudo realizado em São Paulo entre o fim de abril e o início de maio aponta que 41,6% da população da capital paulista acima dos 18 anos já desenvolveu algum tipo de anticorpo contra o coronavírus. O porcentual de pessoas com anticorpos chega a 51,1% quando há a soma de adultos já vacinados contra a doença.
Os números são de um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com o Grupo Fleury e o Ipec - Inteligência em Pesquisa e Consultoria.
Na sexta fase de análise, a pesquisa conclui que aproximadamente 3,5 milhões de pessoas já se infectaram na capital, mais que o triplo do 1,1 milhão registrado oficialmente.
Dentre os casos positivos, 11,7% foram registrados durante a segunda onda da pandemia, entre a última semana de março e 1.º de maio.
A discrepância entre o número encontrado pela pesquisa e o registrado pela Prefeitura nos boletins diários, que dão conta de aproximadamente 1,1 milhão de casos confirmados na capital, vem das pessoas que simplesmente não se testaram para a covid e, consequentemente, não são incluídas no sistema, explica o biólogo Fernando Reinach. "O número de infectados reportado pela Prefeitura é bem menor do que o verdadeiro", explica o biólogo. "Você fica com a impressão de que a pandemia está começando na capital, mas na verdade já são 3,5 milhões de infectados."
Ainda assim, São Paulo está longe de atingir o porcentual entre 70 e 80% da chamada "imunização de rebanho". Até chegar lá, a população vai continuar desenvolvendo anticorpos, seja pelas novas infecções, seja pela ampliação do acesso às vacinas.
Como o ritmo de imunização tem oscilado, Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, acredita que as recém-anunciadas flexibilizações da quarentena no Estado são uma "atitude de alto risco", principalmente com as novas variantes e o "vírus mais transmissível".
"Isso vai depender da quantidade de casos e do número de vacinação. Se tiver pouca vacina, o caso vai subindo por causa da infecção. Por enquanto, estamos perdendo a batalha contra o vírus - ele tem se espalhado mais rápido do que a nossa capacidade de imunizar", explica Reinach.
Mesmo com pouco mais de metade da população com algum tipo de anticorpo contra a Sars-Cov-2, isso não significa que ela está completamente protegida do vírus. "A vacinação não é proteção total e ser infectado também não protege completamente, porque existem as reinfecções."
Os dados da pesquisa são apresentados com base em 1.187 amostras de sangue coletadas em domicílios divididos entre maior e menor renda média. Eles constatam outra tendência da pandemia que se reforçou ao longo da segunda onda: mulheres negras, de baixa renda e pouca escolaridade, foram as mais atingidas pelo vírus em São Paulo.
Os distritos mais pobres apresentaram uma taxa de infecção 12% maior do que os ricos. Pela primeira vez também, há uma maior discrepância entre o número de moradores nas residências. Em lares onde moram cinco ou mais pessoas, a soroprevalência é de 48,2%, ante 34,3% dos domicílios com uma ou duas pessoas.
O índice de pessoas com apenas o ensino médio completo que se contaminaram com a covid (48%) é o dobro do encontrado em quem já completou o ensino superior (24,7%).
Pretos e pardos também tiveram mais contato com a covid, apresentando soroprevalência de 48,3%, ante 35% daqueles que se declararam brancos. "Os dois grupos cresceram, mas os pretos e pobres se contaminaram ainda mais", observa Reinach.
Outra mudança registrada pela pesquisa no perfil de pacientes aponta que a soroprevalência hoje é maior entre adultos mais jovens, com o pico de 51,3% na faixa etária entre 35 e 44 anos, enquanto só 36,2% dos idosos acima de 60 anos testaram positivo para o vírus.
Na quarta, o coordenador do Centro de Contingência de São Paulo, Paulo Menezes, admitiu que os dados da doença seguem em "patamares elevados", tanto em internações quanto em óbitos e casos, mas avaliou que a tendência é de estabilização.
A média móvel de novas internações (calculada com dados dos últimos sete dias) relacionadas ao novo coronavírus está em uma curva ascendente desde 6 de maio, quando marcava a taxa de 2.195 hospitalizações por dia, chegando a 2.376 nesta terça-feira.
O número é superior ao pico da pandemia de 2020, quando chegou a 1.972 em 16 de julho, embora seja inferior ao auge deste ano, quando se alcançou uma média de 3.399 hospitalizações em 26 de março. Além disso, a taxa é superior à registrada antes do agravamento da segunda onda, quando era de 1.445 hospitalizações em 16 de fevereiro. No início de novembro, essa média era de 840.
Para João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência, embora especialistas projetem a possibilidade de uma terceira onda, a tendência é de estabilização. "Se nós tivermos uma garantia, uma segurança, de que 95%, 96% da população esteja usando máscaras, nós temos uma projeção positiva da pandemia. Nós acreditamos que nos próximos 15, 30 dias, no máximo, até a metade do mês que vem, nós vamos conviver com números elevados", comentou.
Segundo ele, a velocidade de vacinação definirá a redução das taxas.