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Lula sabia de tudo, diz Duque sobre corrupção na Petrobras

O ex-diretor de Serviços da estatal relatou ao juiz Sérgio Moro três encontros pessoais com o ex-presidente quando a Lava Jato já estava nas ruas

Lula: Duque declarou o ex-presidente teria dito que Dilma "tinha recebido informação que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro numa conta na Suíça, da SBM" (Fernando Donasci / Reuters/Reuters)

Lula: Duque declarou o ex-presidente teria dito que Dilma "tinha recebido informação que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro numa conta na Suíça, da SBM" (Fernando Donasci / Reuters/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de maio de 2017 às 17h36.

Última atualização em 6 de maio de 2017 às 08h12.

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque afirmou ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "tinha pleno conhecimento de tudo, tinha o comando" do esquema de corrupção instalado na estatal petrolífera. A declaração foi dada em depoimento ao juiz Sérgio Moro, na primeira vez em que o ex-executivo, que é candidato a delator, falou sobre as irregularidades na empresa.

Duque disse a Moro que teve três encontros pessoais com Lula, o último em 2014, em um hangar do Aeroporto de Congonhas, quando a Operação Lava Jato já estava nas ruas.

"(No encontro) Ele me perguntou se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da empresa SBM", afirmou Duque. O relato sobre os encontros foi antecipado ontem pela Coluna do Estadão.

Segundo Duque - preso na Lava Jato e condenado a mais de 57 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em quatro ações penais -, Lula teria dito que a então presidente Dilma Rousseff "tinha recebido informação que um ex-diretor da Petrobrás teria recebido dinheiro numa conta na Suíça da SBM (empresa holandesa que tinha contratos com a estatal)".

"Eu falei não, não tenho dinheiro da SBM nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM. Aí ele vira para mim e fala assim: 'Olha, e das sondas, tem alguma coisa?' E tinha né, (mas) eu falei não, também não tem."

Segundo ele, Lula então fez um alerta: "'Olha, preste atenção no que vou te dizer: se tiver alguma coisa (no exterior) não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome'. Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Não tinha mais o que fazer. Aí ele falou que ia conversar com a Dilma, que ela estava preocupada com esse assunto e que ia tranquilizá-la", afirmou Duque.

"Nessas três vezes ficou claro, muito claro para mim, que ele tinha pleno conhecimento de tudo, tinha o comando", acrescentou o ex-diretor.

Duque ocupou o cargo estratégico na estatal petrolífera por indicação do PT de 2003 a 2012. Foi o próprio ex-diretor quem pediu para ser novamente ouvido por Moro após ficar em silêncio em depoimentos anteriores.

Segundo Duque, nos encontros que teve com Lula, o ex-presidente sempre o questionava sobre contratos da estatal, mesmo após ele ter saído do cargo.

"(No encontro de 2012) Ele (Lula) começou a fazer algumas perguntas sobre a questão das sondas, uma delas porque não tinha sido aprovado ainda. 'Presidente, eu não sei responder, eu estou fora da empresa'", disse.

"Aí, teve um segundo encontro que, da mesma maneira, ele fez perguntas sobre sondas, porque não estava recebendo até então, em 2013. Eu não soube responder."

Institucionalizado. Segundo o ex-diretor da estatal, o sistema de contribuições na Petrobras era institucionalizado e ocorria sempre nos grandes contratos, com valores superiores a R$ 100 milhões.

"Quando existia um contrato, seja ele qual fosse o contrato, em que corria uma licitação normal, o partido ou normalmente o tesoureiro do partido procurava a empresa e pedia contribuição. E a empresa normalmente dava porque era uma coisa institucionalizada", afirmou.

"Todos sabiam. Todos do partido, desde o presidente do partido, o tesoureiro, secretário, deputados, senadores, todos sabiam que isso ocorria."

Na audiência com Moro, Duque afirmou que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto era o "homem" de Lula no esquema de corrupção na Petrobrás.

"Vaccari é da criação do PT, salvo engano. Ele foi apresentado como homem do presidente Lula, que iria cuidar dos interesses das empresas que atuavam junto à Petrobrás, interesses do presidente Lula, interesses políticos."

Duque disse que Vaccari começou a arrecadar propinas ainda em 2007. "Ele não era tesoureiro, mas começou a atuar na arrecadação", afirmou. Moro então quis saber o motivo. "Porque o então presidente Lula determinou isso", respondeu.

Ele disse que conheceu Vaccari naquele ano de 2007, por meio do então ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Naquele ano, segundo ele, foi chamado a Brasília e, na ocasião, Bernardo teria dito: "Você vai conhecer uma pessoa indicada pelo e aí fazia este movimento (neste momento Duque passa os dedos pelo queixo, como se cofiasse uma barba). Não citava o nome", disse.

"O presidente Lula era chamado por 'chefe, grande chefe', 'nine' ou este movimento com a mão".

Questionado como a arrecadação de dinheiro ilícito era destinada ao PT e como esse dinheiro chegava ao partido, Duque citou também outros tesoureiros do PT. "Sempre através do tesoureiro, com Delúbio Soares, depois Paulo Ferreira e depois o Vaccari. Todos sabiam. Ninguém desconhecia."

Arrependimento. Ao depor ontem a Moro, Duque se disse arrependido das "ilegalidades" que cometeu enquanto ocupou o cargo de diretor da Petrobrás, mas afirmou estar disposto a pagar por seus erros.

"Quero pagar pelas ilegalidades que eu cometi. Se for fazer uma comparação com o teatro, da situação que a gente vive, sou um ator, tenho papel de destaque nessa peça, mas não sou nem o diretor, nem o protagonista dessa história." Ele afirmou ainda que quer "passar essa história a limpo".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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