Lula e Dilma na Paraíba em março: caravana a reduto eleitoral é estratégia para definir foco das eleições do ano que vem (Ricardo Stuckert/Facebook Lula/Reprodução)
Talita Abrantes
Publicado em 17 de agosto de 2017 às 11h05.
Última atualização em 17 de agosto de 2017 às 11h16.
São Paulo – Com seis ações penais e uma condenação na bagagem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca hoje para a sua peregrinação por nove estados do Nordeste em uma espécie de reedição das “Caravanas da Cidadania”, que embalaram a sua campanha para a presidência da República na década de 90.
Como na viagem de 24 anos atrás, Lula pega a estrada nessa quinta (a bordo de um ônibus que deve percorrer cerca de 4 mil quilômetros) com um objetivo claro: consolidar seu capital político.
Se na primeira caravana, a peregrinação tinha um peso estritamente eleitoral, agora, o foco é garantir sua sobrevivência política (e jurídica) até 2018. “Hoje há muito mais um movimento defensivo de Lula procurando recompor minimamente suas bases”, afirma Milton Lahuerta, coordenador do Laboratório de Política e Governo da Unesp.
O Nordeste que recebe Lula a partir desta quinta até o próximo dia 5 de setembro ainda oferece as maiores taxas de intenção de voto para o ex-presidente. Mas também é o Nordeste onde o número de prefeituras comandadas pelo PT caiu quase pela metade nas eleições do ano passado – mesmo com Lula no palanque em alguns casos.
“As condições conjunturais e estruturais mudaram muito para o PT”, diz Walmir Lopes de Lima, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Ceará. “Em 1994, Lula e o PT viviam um processo crescente de popularidade. Agora, estão em uma crise tremenda de descrédito e acusações. É um caldo bem diferente”.
Por outro lado, a fragilização do governo de Michel Temer com escândalos de corrupção e a crise econômica abrem uma janela de oportunidade para a oposição – e, de certo modo, para Lula.
“O mesmo processo que anulou o petismo, agora, está se auto anulando”, diz o psicanalista Tales Ab´Sáber, professor da Unifesp e autor do livro “Lulismo, carisma pop e cultural anticrítica” (Editora Hedra). “Esse quadro é favorável ao Lula, ainda mais quando ele colocar os números de seu governo na mesa”.
É certo que Lula não começa a sua peregrinação hoje apenas com um legado de feitos na presidência. E o fato de estar na mira da Lava Jato deve influenciar tanto seu discurso (de que é vítima de uma perseguição política) quanto a sua recepção em algumas regiões.
Segundo levantamento do site Uol, das 25 cidades que serão visitadas por Lula nos próximos 20 dias, apenas 14 são governadas por aliados do petista — e a maior parte delas é de pequeno porte. Há relatos até de ameaças a quem se propôs organizar honrarias ao ex-presidente.
O fato é que o clima nas estradas e nas ruas do Nordeste nos próximos dias será fundamental para determinar a estratégia de Lula e do PT para o próximo pleito. Com 32% das intenções de voto, ainda é uma incógnita se ele vai chegar até as urnas em 2018. Mas escolheu o lugar mais fácil (na teoria) para começar o teste do alcance de seu poderio.
No mínimo, a expectativa entre os lulistas é de que a viagem que começa hoje em Salvador (BA) renda mais espólio político para constranger eventuais avanços da Justiça contra o ex-presidente e, se necessário, para ser transferido a um eventual herdeiro. Ou no melhor dos mundos, que o deixe em melhores condições para a campanha de 2018.
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