Luis Inácio Lula da Silva: "impeachment consagrado apenas por conta de maioria política eventual, sem levar em conta a inexistência de crime de responsabilidade, é crime", disse petista (Adriano Machado/ Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2016 às 19h09.
Brasília - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, 12, ao deixar a cerimônia de posse da ministra Cármem Lúcia como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que o impeachment da presidente Dilma Rousseff ensinou ao País que ainda é preciso aprender "muito para consolidar o nosso processo democrático".
"O impeachment consagrado apenas por conta de uma maioria política eventual, sem levar em conta a inexistência de crime de responsabilidade, é crime, é grave", disse, ressaltando que todos os parlamentares - tanto na Câmara como no Senado - sabem que não havia base legal para afastar Dilma.
"Não tinha um crime que pudesse referendar aquilo. É um alerta pra gente aperfeiçoar o nosso processo democrático. A democracia é uma construção constante, não tem limite", completou.
Questionado se pretende conversar com o presidente Michel Temer em algum momento, Lula disse que, "se algum dia for necessário", mas que não acredita que isso é viável neste momento.
"Se algum dia for necessário conversar com qualquer pessoa, eu conversarei. Não acho necessário neste momento. Acho que primeiro precisamos arrumar as coisas dentro do PT", afirmou.
Lula disse ainda que o PT vai ter que reaprender a fazer oposição. "Aqui no Brasil muita gente exige que a oposição contribua com o governo. Nos Estados Unidos, os republicanos fazem oposição oito anos aos democratas e os democratas fazem oposição oito anos aos republicanos e ninguém se queixa. Ou seja, é normal, é da vida democrática. Eu acho que o PT vai ter que fazer oposição, vai ter que brigar", afirmou, ressaltando que obviamente o partido avaliará temas que são interesses do conjunto da sociedade.
Manifestações
Enquanto Lula dava as declarações à imprensa, um pequeno grupo de manifestantes gritava palavras de ordem contra ele e pedia sua prisão.
Questionado se não se incomodava, Lula disse que nasceu na vida política fazendo manifestação. "Tudo o que eu quero na vida é que o povo se manifeste quantas vezes quiser", disse.
O ex-presidente disse ainda que acredita que os movimentos de rua contrários ao governo Temer devem durar "muito tempo". "Eu acho que isso vai perdurar, porque uma parcela da sociedade brasileira continua indignada", disse.
"Obviamente que o Temer vai ter que fazer um exercício muito grande como presidente para fazer com que esse País saia da crise econômica que ele está submetido", completou.
Lula comentou ainda a polêmica envolvendo o reajuste do Judiciário e afirmou que todas as categorias que merecem reajuste devem ter reajuste.
"Eu fui presidente da República e partia do seguinte pressuposto: o dia que não puder dar aumento real de salário, eu vou dizer que não posso dar aumento real, mas a reposição inflacionária é obrigação de todos nós porque significa a perda de poder aquisitivo do trabalhador. De qualquer poder, seja da presidência, metalúrgico", afirmou.
"A reposição inflacionária é um direito das pessoas. O que não pode é você ficar dizendo que é preciso diminuir o custeio e fazer reajuste exagerado para qualquer categoria, pública ou privada. Acho que, se o Brasil precisa de sacrifício, é importante fazer sacrifício."
Lula disse ainda que o governo não pode tentar resolver problemas da crise "mexendo em direitos dos trabalhadores". "É inaceitável."