JOÃO DORIA: / Germano Lüders
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2016 às 20h41.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.
Talita Abrantes, de EXAME.COM
Depois de uma ascensão surpreendente na campanha, João Doria Jr (PSDB) é o novo prefeito de São Paulo. Com 95,23% das urnas apuradas, ele aparece com 53,4% dos votos válidos contra 16,67% de Fernando Haddad (PT), atual prefeito que tentava a reeleição.
Sem nunca ter assumido um cargo eletivo, o tucano começou a corrida eleitoral com apenas 5% das intenções de voto, segundo o Datafolha de 26 de agosto. Com mais tempo na TV que seus rivais (no total, 12 minutos e 45 segundos) e mais dinheiro em caixa, Doria ganhou cerca de 30 pontos no último mês, ainda segundo os dados do Datafolha.
Celso Russomanno (PRB), que começou a campanha na dianteira das sondagens, caiu pela metade na preferência dos entrevistados pelo instituto. Haddad (PT) já aparecia com uma tendência de ascensão nas últimas pesquisas e estava empatado com o candidato do PRB na pesquisa Datafolha divulgada na noite de ontem (1). O crescimento do petista nas pesquisas não foi suficiente, contudo, para levá-lo ao segundo turno.
“Desgraça para o PSDB”
O desempenho de Doria, contudo, não deve agradar uma parte considerável do PSDB em São Paulo, que convive com um racha interno desde que o empresário foi lançado candidato da legenda.
Doria é acusado por membros do partido de comprar votos e fazer propaganda ilegal durante as prévias do PSDB para escolher o candidato à prefeitura de São Paulo. Doria levou o primeiro turno com 2.681 votos (43,13%) contra 2.045 de Andrea Matarazzo (equivalente a 32,89% do total) e 1.387 de Ricardo Tripoli (22,31%). Dias depois, o hoje vice de Marta Suplicy (PMDB) anunciou sua desfiliação do PSDB e ingressou na campanha da candidata do PMDB.
Na última terça, o Ministério Público Eleitoral de São Paulo pediu à Justiça Eleitoral a cassação da candidatura de João Doria Júnior (PSDB) por abuso de poder político. Segundo a denúncia, o governador Geraldo Alckmin, que é padrinho político do candidato, ofereceu a Secretaria de Meio Ambiente do estado ao Partido Progressista (PP) em troca de apoio para a chapa tucana, o que pode configurar desvio de finalidade.
Há uma semana, um terço da cúpula do partido na cidade abdicou de seus cargos como forma de boicote à chapa encabeçada pelo empresário. “Somos forçados, neste momento, quando deseja nos representar alguém que simboliza tudo contra o que lutamos desde a nossa fundação, a dizer não a esta candidatura”, afirmaram os dirigentes em manifesto. Alberto Goldman, vice-presidente nacional da legenda, afirmou recentemente em seu blog que Doria é uma “desgraça para o PSDB”.
O “João”
Com 58 anos, Doria é casado e pai de três filhos. Ele é dono do Grupo Doria, que abriga 6 empresas, entre elas o Lide — Grupo de Líderes Empresariais. Para a Justiça Eleitoral, ele declarou um patrimônio de 180 milhões de reais, o que o tornou o prefeiturável mais rico em São Paulo. É também o principal doador da própria campanha.
Filho de um deputado federal, o novo prefeito nunca assumiu um cargo eletivo. E fez questão de deixar isso claro durante a campanha por meio do mote “não sou político, sou trabalhador” — lema que pode explicar a sua ascensão em um momento de de elevada rejeição a políticos.
Apesar do mote, Doria é filiado ao PSDB há 15 anos. Segundo levantamento do UOL por meio da Lei do Acesso à Informação, suas empresas receberam ao menos 10,1 milhões de reais de governos tucanos desde 2010.
Ao longo de toda campanha, o tucano tentou se desvencilhar da imagem de multimilionário. Aposentou o terno e a gravata e passou a referir a si próprio como o João. Entre suas promessas de campanha, Doria afirma que irá doar o salário público de 24 mil reais.
Promete também retomar as antigas velocidades das marginais e privatizar o Autódromo de Interlagos e Arena Anhembi. Além disso, afirma que irá firmar uma parceria com hospitais privados para oferecer exames de saúde das 20h da noite às 8h da manhã.