Investimento em educação cai para 4,2% do PIB na América Latina
Segundo a Unesco, 59 de 171 países não cumpriram metas
Agência de notícias
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 15h48.
Os investimentos nacionais e internacionais em educação estão diminuindo. É o que aponta o Relatório de Monitoramento Global da Educação (GEM) 2024, divulgado nesta quinta-feira, 31, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Segundo o documento, os gastos com educação global caíram em média 0,4 ponto percentual do PIB — a soma das riquezas produzidas globalmente.
Com isso, 59 de 171 países não cumpriram as metas de destinar ao menos 4% do PIB e 15% das despesas públicas à educação. Na América Latina e Caribe, por exemplo, o investimento caiu de 4,6% do PIB em 2010 para 4,2% em 2022, enquanto a América do Norte registrou queda ainda maior, de 4,8% para 3,8% do PIB no mesmo período.
No entanto, o sul da Ásia e a África Subsaariana caminham em direção contrária, com aumentos de 3,1% para 3,6% e de 3,7% para 3,9%, respectivamente, entre 2010 e 2022.
Estagnação dos gastos e queda na ajuda internacional
O relatório também revela que o valor médio de gastos com educação por criança permanece praticamente o mesmo desde 2010. A ajuda internacional para o setor educacional também caiu, passando de 9,3% em 2010 para 7,6% em 2022.
O índice GEM 2024 monitora as ações globais para atingir o ODS 4 — objetivo da ONU para educação inclusiva e de qualidade. Parte da Agenda 2030, esse objetivo busca erradicar a pobreza e promover igualdade até 2030, com apoio dos 193 Estados-Membros da ONU.
Desafios adicionais: clima, tecnologia e violência escolar
Além da crise de financiamento, o relatório destaca novos desafios, como as mudanças climáticas. “Em todo o mundo, quase 1 em cada 4 escolas primárias não tem acesso básico a água potável, saneamento e higiene”, aponta o documento, e frisa que os governos devem ampliar os investimentos para proteger os estudantes das temperaturas extremas e desastres naturais.
Outro aspecto é o uso crescente da tecnologia na educação, que, embora beneficie estudantes sem acesso, traz novas disparidades. Em países de alta renda, por exemplo, 80% dos adultos conseguem enviar um e-mail com anexo, mas em países de renda média, esse número cai para apenas 30%. Já atividades de segurança em smartphones, como configurar medidas de proteção, são dominadas por 51% dos jovens e adultos em países ricos, contra apenas 9% em países de renda média.
A violência nas escolas também é um fator preocupante. “Em 2022, os ataques a escolas chegaram a cerca de 3 mil, agravados pela guerra na Ucrânia e, em 2023, pela guerra na Palestina. Em julho de 2024, 61% das escolas em Gaza foram atingidas diretamente”, destaca o relatório.
Liderança na educação e igualdade de gênero
O foco do GEM 2024 é a liderança educacional, evidenciando o impacto de diretores e gestores eficazes no ambiente escolar. “Líderes educacionais, muitas vezes negligenciados, conduzem a direção de suas instituições e equipes”, diz o relatório, que enfatiza a importância de líderes qualificados para assegurar escolas seguras, inclusivas e saudáveis.
Para uma liderança eficaz, o relatório recomenda práticas justas de contratação e oportunidades de crescimento. Enquanto 76% dos países exigem que diretores tenham qualificação, apenas três em cada dez também exigem experiência em gestão.
No que se refere à igualdade de gênero, o estudo revela que parlamentares mulheres contribuíram para o aumento dos gastos com a educação primária. No entanto, entre 2010 e 2023, a porcentagem de mulheres ministras aumentou de apenas 23% para 30%. Embora muitas mulheres sejam professoras, poucas ocupam cargos de direção. “A proporção de diretoras é, em média, 20 pontos percentuais menor do que a proporção de professoras, e apenas 11% dos países possuem políticas para promover a diversidade de gênero na seleção de diretores.”
O relatório foi apresentado na Reunião Global de Educação (GEM) 2024, em Fortaleza, que ocorre até sábado (2). Organizada pela Unesco, a GEM reúne a comunidade internacional para discutir estratégias de aceleração para a Agenda 2030.