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Inflação vai demorar 2 anos para voltar à meta, diz Goldfajn

Economista-chefe do Itaú acredita que economia aquecida e alta das commodities devem manter inflação em alta

Ilan Goldfajn disse que a valorização dos insumos metálicos e agrícolas surpreendeu (DIVULGAÇÃO/RIO TINTO)
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Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2011 às 13h31.

São Paulo - O economista-chefe do Itaú Unibanco Holding S.A., maior instituição financeira privada do Brasil, Ilan Goldfajn, projeta que a inflação no País não volta para o centro da meta antes de 2013. As pressões que puxarão para cima o Índice de Preços ao Consumidor Amplo virão da valorização das commodities e da demanda doméstica aquecida ao longo dos próximos 24 meses.

“Uma parte da inflação vai levar dois anos para voltar, uma parte vai ficar para 2012”, disse Goldfajn, também sócio do Banco Itaú BBA durante entrevista concedida hoje em São Paulo no estúdio da Bloomberg. “Os agentes econômicos viram que a inflação em 2010 fechou alta e que havia dúvidas com relação ao novo governo. Se tudo fosse bem, essas expectativas iriam voltando devagarinho para o centro da meta. Mas nesse tempo houve o choque de commodities”.

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A projeção do mercado para a inflação em 2011 está mais de um ponto percentual acima do centro da meta, de 4,5 por cento, e também supera este patamar para 2012, segundo a pesquisa Focus do Banco Central divulgada hoje. Os economistas que participam da Focus aumentaram a projeção de inflação de 2012 pela primeira vez em 122 semanas. A estimativa mediana para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo subiu para 4,54 por cento no ano que vem, ante 4,5 por cento na pesquisa da semana passada. Para 2011, a projeção do IPCA também subiu, pela sétima semana seguida, passando de 5,42 por cento para 5,53 por cento, segundo a Focus.

Commodities

Ilan Goldfajn, que foi diretor de Política Econômica do Banco Central entre 2000 e 2003, afirma que a valorização dos insumos metálicos e agrícolas surpreendeu. Ele diz que choques climáticos cortaram de maneira estrutural a oferta de commodities agrícolas pelos próximos dois anos, enquanto o crescimento nos países emergentes associado à retomada da expansão nos Estados Unidos reforça a demanda por metais.

“Ninguém esperava uma alta dessas,” disse o economista.

Ilan Goldfajn diz que além da valorização das commodities, pressões inflacionárias virão do mercado doméstico. Ele diz que o governo não vai conseguir cumprir promessas de corte de gastos no nível que sinalizou. O economista-chefe do Itaú Unibanco afirma que um ajuste que gere 3 por cento de superávit em relação o Produto Interno Bruto seria o maior já feito no Brasil desde 2003. “Acho mais provável um corte para 2,5 por cento”.

O Comitê de Política Monetária elevou a Selic na semana passada em 0,5 ponto percentual, de 10,75 por cento para 11,25 por cento. No comunicado divulgado após a reunião, o Copom disse que a alta de juros, associada a medidas macro-prudenciais para conter o crescimento do crédito, irá ajudar a trazer a inflação para a meta de 4,5 por cento. A inflação subiu 5,91 por cento no ano passado, o ritmo anualizado mais acelerado em 25 meses.

Câmbio

A valorização das commodities, segundo Goldfajn, tem sido determinante para a valorização do real ante o dólar. Embora o economista-chefe do Itaú Unibanco admita que parte dessa apreciação é puxada pelos movimentos de capitais em busca de taxa de juros mais elevadas, ele diz que o impacto dos preços agrícolas e de metais é relevante. Isso pode afetar a estratégia do Banco Central na política cambial, disse o economista do Itaú.

“Houve mudança. Antes, o Banco Central só buscava suavizar o movimento de apreciação do real; agora ele quer evitar a apreciação. Pode fazer sentido se a valorização for resultado de exageros do mercado, mas como o movimento hoje é uma combinação também da alta das commodities, a tarefa do BC é mais difícil”.

No mercado de juros, a taxa do contrato de juros futuros com vencimento em janeiro de 2012 subia 5 pontos-base para 12,42 por cento às 10h30.

No mercado cambial, a moeda americana operava em baixa de 0,26 por cento, cotada a R$ 1,6733, às 11h45. Na sexta, o dólar fechou em alta de 0,25 por cento, a R$ 1,6777. No exterior, a moeda americana e valoriza e commodities sobem à espera de dados que podem mostrar aceleração econômica nos Estados Unidos.

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