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Índios reclamam terras em frente ao estádio Maracanã

Indígenas e o governo do Rio de Janeiro disputam desde 2006 um prédio ao lado do estádio

Arassari, liderança indígena da tribo pataxó, observa as obras do Maracanã (Christophe Simon)

Arassari, liderança indígena da tribo pataxó, observa as obras do Maracanã (Christophe Simon)

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Da Redação

Publicado em 10 de agosto de 2012 às 12h31.

Rio de Janeiro - A poucos metros do estádio Maracanã, de onde sairá o vencedor da Copa do Mundo de 2014, dezenas de indígenas de todo o Brasil ocupam um edifício em ruínas, que as autoridades do Rio de Janeiro querem transformar em centro comercial, e lutam contra uma eventual expulsão.

Índios guajajaras, pataxós, tukanos, fulni-o e apurinãs, entre outras etnias, vivem desde 2006 em casas de barro construídas em torno do prédio que abrigou o primeiro Museu do Índio, a 100 m do estádio que está em reformas para receber a final do mundial de futebol.

As autoridades do Rio de Janeiro querem transformar este espaço simbólico e estratégico em um centro comercial ou em um anexo da secretaria de Esportes. Já os índios reivindicam o lugar para que se converta na primeira Universidade Indígena, um centro de educação para o ensino da história, cultura e conhecimentos ancestrais.

Na ocupação, batizada de "Aldeia Maracanã", cultivam verduras e frutas em uma pequena horta e cozinham em um forno a lenha coletivo. O lugar, além de centro cultural, serve de abrigo temporário ou permanente para índios de todo o país que chegam ao Rio de Janeiro para trabalhar, estudar e participar de eventos.

"Sempre fomos excluídos e quando se lembram de nós é sempre no passado, quando se fala da chegada dos portugueses ou da colonização, mas e hoje? Nós estamos aqui, estamos vivos e vamos resistir", disse emocionado à AFP o cacique da ocupação, Carlos, da tribo tukano da Amazônia.

"Nosso medo é que nosso povo fique fora deste grande evento", disse Dava, da etnia puri (centro do Brasil), referindo-se ao mundial de futebol. "Não queremos ser expulsos, mas sabemos que isso pode acontecer", acrescentou.

Na "Aldeia Maracanã" são realizados eventos com contação de histórias, pinturas corporais, danças, produção de comidas típicas, além de serem ministradas aulas de tupi-guarani e outras atividades de resgate das culturas indígenas.


Os índios criaram também um site para divulgar seus projetos e a partir de 2012 esperam exibir na internet a "Televisão Aldeia Maracanã".

"Queremos mostrar aos brasileiros que os índios não são uma coisa só, que existe uma enorme diversidade cultural e étnica que precisa ser valorizada e preservada", disse Afonso, da tribo apurinã.

No Brasil vivem cerca de 800.000 indígenas (0,4% da população), segundo dados do governo.

Em 2010, Afonso foi informado pelo governo da existência de um projeto para derrubar o prédio e construir no lugar lojas de artigos esportivos e que, no máximo, algumas salas seriam cedidas aos índios para venderem artesanato.

Outro rumor que chegou aos indígenas é que o prédio seria comprado pela secretaria de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro.

A ligação dos índios com este terreno remonta a 1865, quando o primeiro proprietário, o Duque de Saxe, doou o espaço à União para a construção de um Centro de Investigação Cultural Indígena.

O edifício abrigou o antigo Museu do Índio em 1953, mas a partir de 1977, com a transferência do museu para o bairro de Botafogo, a construção foi abandonada e ficou sob responsabilidade do Ministério da Agricultura.

À medida que as obras do Maracanã avançam - tudo deve ficar pronto até o final de 2012 -, cresce a preocupação dos indígenas, já que nenhum funcionário do governo os procurou o quis se manifestar sobre os projetos para o terreno ocupado.

A prefeitura do Rio de Janeiro não respondeu as preguntas da AFP sobre o assunto. O governo do estado do Rio se limitou a informar que está negociando com o ministério da Agricultura a compra do terreno.

Mais de 2.000 pessoas já foram desalojas no Brasil devido às obras ligadas à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos que vão acontecer no Rio em 2016, segundo movimentos sociais, acadêmicos e organizações políticas. Os índios esperam não se somarem a esta estatística.

"Viemos aqui para resistir. Viemos para a guerra. É verbal, física, moral. Estamos aqui lutando e nossa luta é justa e respeitosa. Então o guerreiro não precisa ter medo", afirmou Arassari, da etnia pataxó, enquanto pintava seu rosto, vestia sua túnica de palha, um grande colar de sementes vermelhas e um cocar com penas azuis e amarelas.

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