Agência de notícias
Publicado em 28 de maio de 2024 às 16h29.
Nesta segunda-feira, 27, a secretária de Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS), Arita Bergmann, utilizou as redes sociais para enfatizar a necessidade de a população gaúcha procurar atendimento médico imediato ao apresentar sintomas de leptospirose. Arita ressaltou que há medicamentos suficientes e que o diagnóstico precoce é crucial para evitar a evolução para quadros graves e óbitos.
“Entrou em contato com a lama, andou na água da enchente e apresentou sintomas de leptospirose? Procure atendimento de saúde imediatamente. A doença tem tratamento e há medicações disponíveis. Não espere em casa achando que vai passar, pois a doença pode se agravar e o tratamento não pode ser adiado”, alertou Arita.
Conforme boletim divulgado pela SES, até ontem o Estado contabilizava 124 casos confirmados de leptospirose, um aumento de 129,6% em relação à sexta-feira, 24, quando eram 54 casos confirmados. Além disso, foram registrados 5 óbitos e 922 casos suspeitos estão em investigação.
No vídeo, Arita reforçou a importância de seguir as recomendações de proteção, como o uso de botas e luvas em situações de contato com água, barro ou lama potencialmente contaminados pelo vírus da leptospirose. Segundo a titular, as orientações são especialmente relevantes para aqueles envolvidos em resgates e para as pessoas que iniciam a limpeza de suas casas após inundações.
Em resposta ao vídeo, que além do perfil pessoal da titular também foi divulgado nos perfis da SES e do Governo do RS, a população gaúcha cobrou medidas profiláticas. Além disso, pessoas questionaram a orientação sobre o uso de equipamentos de proteção, como luvas e botas, ressaltando os valores dos materiais e as condições vividas por aqueles que foram atingidos pelas inundações.
A SES afirmou que está trabalhando em conjunto com os municípios para capacitar equipes no encaminhamento dos exames diagnósticos ao Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen/RS) que está operando integralmente na análise dos testes. “Estamos nos organizando com os municípios para qualificar o fluxo das amostras captadas pela rede assistencial. O Lacen está processando essas amostras e nossa tarefa é reduzir o tempo de resposta”, declarou Tani Ranieri, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs).
A leptospirose, conforme esclarece o infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Renato Grinbaum, é uma doença infecciosa provocada pela bactéria do gênero Leptospira, geralmente adquirida por meio do contato com água ou solo contaminados pela urina de animais infectados, principalmente ratos. Dessa forma, enchentes são reconhecidas como ambientes propícios para a disseminação da doença, elevando o risco para aqueles expostos às águas ou lamas.
É importante ressaltar que a transmissão é zoonótica, ou seja, ocorre do animal para o ser humano, não havendo transmissão direta de pessoa para pessoa. Além disso, lesões na pele aumentam a suscetibilidade à infecção, embora seja importante destacar que, mesmo sem ferimentos visíveis na pele, a infecção ainda é possível.
De acordo com o Ministério da Saúde, as manifestações clínicas variam desde formas assintomáticas até quadros graves, associados a manifestações fulminantes. São divididas em duas fases: fase precoce e fase tardia.
Os principais da fase precoce são:
Além disso, pode ocorrer diarreia, dor nas articulações, vermelhidão ou hemorragia conjuntival (na região dos olhos), fotofobia, dor ocular, tosse, manchas vermelhas na pele, aumento do fígado e/ou baço e aumento de linfonodos (gânglios presentes principalmente no pescoço, axilas e virilhas).
Em aproximadamente 15% dos pacientes com leptospirose, ocorre a evolução para manifestações clínicas graves, que normalmente iniciam-se após a primeira semana de doença. Nas formas graves, a manifestação clássica da leptospirose é a síndrome de Weil, caracterizada por icterícia (tonalidade alaranjada ou amarelada muito intensa na pele), insuficiência renal e hemorragia, mais comumente pulmonar. Pode haver necessidade de internação hospitalar.
“Esta é uma doença grave, pois a bactéria penetra na pele e se dissemina por vários órgãos do corpo, causando sua disfunção progressiva. Assim, pode resultar em hepatite, comprometimento renal e até afetar o cérebro, desencadeando encefalite. Todos esses sintomas são consequências da invasão direta da bactéria no organismo”, explicou Grinbaum.
Sim, existe tratamento. Segundo Grinbaum, para os casos leves, o atendimento é ambulatorial e com muita hidratação. Já nos casos graves, a hospitalização deve ser imediata, como forma de diminuir as complicações e a letalidade. Os cuidados do paciente também vão depender das complicações associadas ao quadro.
Além disso, o Ministério da Saúde afirma que, ao suspeitar da doença, a recomendação é procurar um serviço de saúde e relatar o contato com exposição de risco. O uso de antibióticos é indicado em qualquer período da doença, mas a eficácia costuma ser maior na primeira semana do início dos sintomas. Na fase precoce, são utilizados doxiciclina ou amoxicilina; para a fase tardia: penicilina cristalina, penicilina G cristalina, ampicilina, ceftriaxona ou cefotaxima.
A automedicação deve ser evitada em qualquer um dos casos, leves ou graves.
A melhor forma de prevenir a leptospirose é evitar o contato com águas possivelmente contaminadas. Caso não seja possível evitar, o médico recomenda o uso de equipamentos de proteção, como botas ou galochas de borracha e roupas impermeáveis. Se houver exposição da pele à água contaminada, é importante lavar o corpo prontamente para reduzir o tempo de exposição e minimizar o risco de infecção.
Além disso, o ministério ressalta as seguintes orientações:
Além da higienização após o contato, conforme orientado por Grinbaum, recentemente a Sociedade Brasileira de Infectologia, em conjunto com a Sociedade Gaúcha de Infectologia e a Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, divulgou nota técnica orientando sobre a melhor forma de realizar a profilaxia para prevenir a doença em casos onde há exposição contínua e inevitável com água de enchentes, como tem acontecido no Rio Grande do Sul.
Embora o uso de antimicrobianos não seja recomendado como conduta de rotina, sendo administrado apenas quando há o diagnóstico da doença, a nota ressalta que em situações de alto risco, onde há muita exposição a alagamentos e águas possivelmente contaminadas, essa intervenção pode ser considerada com o objetivo de minimizar os riscos.
A principal recomendação das entidades responsáveis pelo documento é o uso de doxiciclina, administrada em dose única para adultos em pós-exposição de alto risco. Para crianças, a dose é calculada com base no peso corporal, com dose máxima estabelecida. Como alternativa, a azitromicina pode ser utilizada nas mesmas condições.
Considerando esses pontos, as recomendações para identificar pessoas em situação de alto risco e elegíveis para o uso de medicamentos de emergência são as seguintes:
É importante frisar que a profilaxia deve ser feita apenas com orientação médica. Além disso, ela não oferece uma proteção absoluta contra a leptospirose, e mesmo aqueles que fazem uso dos medicamentos recomendados ainda podem contrair a doença. Além disso, gestantes e lactantes não devem utilizar doxiciclina como medida preventiva.