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Gado poderia ter minimizado queimadas no Pantanal, diz Tereza Cristina

A ministra da Agricultura afirmou que os bois no Pantanal atuam como "bombeiros", pois se alimentam do capim que acabou fomentando as queimadas

As queimadas já consumiram cerca de 25% da área do Pantanal (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

As queimadas já consumiram cerca de 25% da área do Pantanal (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 9 de outubro de 2020 às 17h18.

Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 18h01.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse em audiência no Senado nesta sexta-feira que uma maior presença de criação de gado no Pantanal poderia ter minimizado o desastre ambiental causado pelas queimadas no bioma, argumentando que os bois atuam como "bombeiros", pois se alimentam do capim que acabou fomentando as chamas.

Em audiência na comissão externa da Casa que acompanha as queimadas no Pantanal a ministra defendeu a necessidade de descobrir e combater as causas dos incêndios na região, mas fez a avaliação de que não seria adequado "criar muitas medidas" em um momento como o atual.

"Eu falo uma coisa que às vezes as pessoas criticam, mas o boi ajuda, ele é o bombeiro do Pantanal, porque é ele que come aquela massa do capim — seja o capim nativo, seja o capim plantado, se feita a troca. É ele que come essa massa para não deixar que ocorra o que neste ano nós tivemos", disse ela na audiência.

"Com a seca, a água do subsolo também baixou em seus níveis. Essa massa virou o quê? Um material altamente combustível, incendiário. Aconteceu um desastre porque nós tínhamos muita matéria orgânica seca, e, talvez, se nós tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, teria sido um desastre até menor do que o que nós tivemos neste ano."

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal fechou o mês de setembro com o pior registro de queimadas no bioma desde 1998, quando o Inpe começou seus registros.

A combinação de um ano extremamente seco com acúmulo de vegetação seca é apontado pelo Ministério do Meio Ambiente como as causas do aumento abrupto de queimadas, que já consumiram cerca de 25% da área do Pantanal, destruindo áreas como o Parque das Águas, maior refúgio de onças-pintadas do país.

No entanto, servidores do Ibama e do ICMBio, em condição de anonimato, disseram à Reuters que houve um atraso de três meses na contratação de brigadistas para o trabalho preventivo de combate aos riscos de queimadas, tanto no Pantanal quanto na Amazônia. O governo federal começou o envio de ajuda aos estados apenas em agosto, quando o Pantanal já queimava há um mês.

Além disso, há suspeitas de incêndios propositais. A Polícia Federal investiga cinco fazendeiros com terras na região onde teriam sido iniciados alguns dos principais focos, que se espalharam pelo bioma.

De acordo com a PF, o local de início das queimadas seria em regiões inóspitas dentro das fazendas e em áreas de proteção próximas a pastagens. A suspeita da PF é que o fogo foi iniciado intencionalmente para ocupar as áreas de proteção e abrir novas pastagens e saiu de controle.

Em nota, o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), disse que a declaração da ministra não faz sentido.

"Isso porque, nos últimos 20 anos, o rebanho bovino no Pantanal cresceu 38% e, mesmo assim, estamos acompanhando queimadas cada vez mais graves", disse.

"Além disso, as cidades mais afetadas são aquelas que têm os maiores rebanhos de gado, como Cáceres, que tem mais de 1 milhão de bovinos — a maior criação no estado —, e Poconé, onde o rebanho cresceu 48% nos últimos 11 anos", completou.

Para o parlamentar, as queimadas no Pantanal se devem a fatores como uma seca extraordinária causada pelo desmatamento, tanto do Pantanal quanto da Amazônia, a mudança global do clima e o desmonte dos órgãos de proteção ambiental promovido pelo governo Bolsonaro.

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