União Brasil: o presidente da legenda será o atual presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), e a secretaria-geral ficará com ACM Neto, que hoje comanda o DEM. (Democratas/Twitter/Reprodução)
Bloomberg
Publicado em 6 de outubro de 2021 às 18h07.
Última atualização em 23 de dezembro de 2021 às 18h13.
O DEM e o PSL aprovaram a fusão dos dois partidos em convenções realizadas na manhã desta quarta-feira, dando origem ao União Brasil. Ao mesmo tempo que o novo partido se movimenta para garantir filiações de deputados e consequentemente ter ainda mais participação no bolo dos fundos eleitoral e partidário para as eleições do próximo ano, lideranças de direita buscam se libertar da influência direta do presidente Jair Bolsonaro.
O União Brasil chega com cinco governadores, dois ministros, mais de 80 deputados, oito senadores, incluindo, pelo menos por ora, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Como o maior partido na Câmara, controlará cerca de um sexto do fundo eleitoral de 5,7 bilhões de reais reservado para o próximo ano.
O acesso ao dinheiro público será crucial para a sobrevivência de muitos desses grupos políticos em 2022, quando o Brasil está prestes a enfrentar mais uma eleição polarizada, possivelmente entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil tem mais de 30 partidos políticos, a maioria deles sem uma ideologia clara, que muitas vezes são criados ou extintos por conveniência. É comum que os políticos mudem de lado algumas vezes, especialmente antes das eleições.
Entre os partidos mais à direita e que apoiaram Bolsonaro em 2018, alguns estão repensando sua estratégia depois de se colocarem contrariamente a algumas das políticas do atual governo, especialmente após a tentativa do presidente de lançar dúvidas sobre o sistema de votação eletrônica do país.
“Respeitamos as instituições democráticas do país”, disse Luciano Bivar, presidente do PSL e que assumirá o comando do União Brasil, em entrevista. “Este é um partido que respeita as instituições.”
O União Brasil é uma fusão do Partido Social Liberal, que hospedou Bolsonaro durante sua campanha de 2018, e os Democratas, cujas origens remontam ao partido que apoiou a ditadura militar entre 1964 e 1985.
Alguns dos integrantes da nova sigla apoiam Bolsonaro, que atualmente não é filiado a nenhum partido, e devem seguir o caminho do presidente assim que ele decidir qual partido o hospedará como candidato à reeleição no próximo ano.
Contrário à fusão DEM-PSL, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pressiona o novo partido para que defina se apoiará ou não a reeleição de Bolsonaro, o que é visto internamente como uma possibilidade remota, hoje.
“A base dos dois partidos apoia Bolsonaro. Se o [novo] partido não está com o presidente, eu estou fora”, disse Lorenzoni, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul.
Governador de Goiás e um dos mais influentes políticos do partido, Ronaldo Caiado rebateu o ministro: “O debate do cenário nacional será feito, mas nós, neste momento, temos de ouvir todos os que querem trazer para o Brasil um momento de paz, de tranquilidade”.
O União Brasil surge com três potenciais candidatos à Presidência: o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que ganhou fama depois de desafiar publicamente as estratégias de Bolsonaro para combater a pandemia; o apresentador José Luiz Datena e Pacheco.
Nenhum deles tem mais de 3% das intenções de voto em pesquisas recentes, e não está claro se um candidato de terceira via encontrará espaço nas eleições do próximo ano.
Mesmo assim, dinheiro e tempo de TV irão aumentar o apelo do União Brasil, à medida que coalizões políticas começam a ser negociadas.
“O que é importante com este partido é ver qual a taxa de conversão de dinheiro de campanha em voto”, disse Sergio Abranches, sociólogo com doutorado em ciência política pela Universidade Cornell.