Motocicletas avançaram também nas cidades menores e já ultrapassam o número de carros na maior parte dos municípios de 17 estados do país (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de julho de 2018 às 11h55.
Última atualização em 2 de julho de 2018 às 11h56.
Brasília - Opção para fugir do trânsito nas metrópoles, as motocicletas avançaram também nas cidades menores e já ultrapassam o número de carros na maior parte dos municípios de 17 estados do país - todos os das Regiões Norte e Nordeste, além do Mato Grosso, no Centro-Oeste.
Estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo e com divulgação prevista para estas segunda-feira, 2, mostra que a frota de motocicletas no País é de 26,4 milhões de unidades, o que representa uma para cada 7,86 habitantes. Em relação ao ano passado, houve um aumento de 3,44%. No total, há mais motos do que carros circulando nas ruas em 46% dos municípios. No Nordeste, o número alcançou a marca de 7,49 milhões, ante 6,67 milhões de carros nas ruas. Já no Norte há 2,49 milhões de motos ante 1,67 milhão de automóveis.
Para o presidente da CNM, Glademir Aroldi, ex-prefeito de Saldanha Marinho (RS), o crescimento na aquisição de motos está relacionado à facilidade no crédito, ao baixo preço das prestações e aos incentivos e isenções do governo federal ao mercado, além da deficiência dos serviços de transporte público.
Ele destaca, por outro lado, fatores de preocupação. "Isso cria algumas situações, como um maior número de acidentes no trânsito. Afeta o SUS (Sistema Único de Saúde), aumenta as aposentadorias por invalidez e retira do mercado de trabalho jovens no auge de sua força de trabalho", diz Aroldi .
O professor Rafael Almeida Cavalcante, que mora em Pereiro, no interior do Ceará, é adepto do transporte em duas rodas e justifica a escolha pela facilidade de se locomover e pelo baixo gasto com combustível. "É muito mais viável aqui ter moto em vez de carro", afirma. Pereiro é a cidade com a maior proporção de motos em relação à população (54%).
O estudo da CNM também aponta que, em cidades do Norte e do Nordeste, as motocicletas estão substituindo transportes movidos por animais, como cavalo, jumento e burro. Na casa de Cavalcante, toda a família tem motos, o que inclui a mulher, o pai e a irmã. "É muito mais rápido, até porque as estradas aqui são muito ruins", diz ele, que comprou sua primeira motocicleta há dez anos.
Embora nunca tenha se acidentado, Cavalcante cita que a cidade tem altos índices de ocorrências envolvendo motociclistas. "A minha maior preocupação é a falta de responsabilidade de alguns, que não são habilitados e não usam capacete."
A falta de segurança também é apontada como desvantagem pelo advogado Marino Sugijama de Beija, que mantém em sua garagem, na zona sul de São Paulo, uma moto e um carro. No dia a dia, utiliza a moto para atividades rotineiras, como trabalho e estudo, e o carro apenas para viagens e passeios nos fins de semana. "Se o carro me dá conforto, a moto me dá agilidade e me faz ganhar horas preciosas que eu perderia parado no trânsito."
Segundo o presidente da CNM, o estudo tem como objetivo aprimorar políticas públicas. "São dados que precisamos avaliar para um melhor planejamento. Os gestores públicos municipais precisam dar mais atenção à mobilidade urbana."
Com base no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a CNM também aponta um total de 53,4 milhões de carros no País em abril de 2018, configurando um aumento de 3,3% em relação a abril de 2017. No Brasil, há um carro para cada 3,89 habitantes. Mais da metade dessa frota está concentrada no Sudeste, que tem 29,3 milhões de veículos - só São Paulo tem 5,6 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.