Exército autoriza instalação de fábrica de armas em Goiás
É a primeira vez em 80 anos que uma empresa recebe permissão para produzir armas leves no país
Rodrigo Caetano
Publicado em 26 de março de 2020 às 10h59.
Última atualização em 26 de março de 2020 às 12h22.
Pela primeira vez em 80 anos, o Estado Maior do Exército Brasileiro autorizou a instalação de uma fábrica de armamentos leves no país. O direito foi concedido à empresa goiana DFA (Delfire Fire Arms), que pretende fabricar no país pistolas e rifles da marca eslovena Arex.
A indústria bélica ficará localizada no distrito industrial de Anápolis, em Goiás. Em fevereiro, o vice-governador do Estado, Lincoln Tejota, se reuniu com o embaixador da Eslovênia, Gorazd Recenlj, para negociar os últimos detalhes do projeto.
Segundo Tejota, o governo goiano tem atuado para atrair investimentos estrangeiros para o estado. A expectativa é de que a fábrica de armas gere 195 empregos diretos e 950 indiretos.
A DFA planeja iniciar a produção em 2021. No primeiro ano, segundo o governo goiano, a meta é produzir 90 mil pistolas calibres 380 e 9mm. O foco inicial da empresa será o mercado civil e a venda direta para policiais e militares.
Não há incentivos fiscais para o projeto, segundo o governo goiano. A DFA, no entanto, está registrada no mesmo endereço da empresa Delfire Indústria e Comércio de Extintores, que recebeu, em 2006, um apoio da antiga GoiásFomento (atual Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás) para a construção de uma fábrica de extintores. O terreno onde será instalada a fábrica de armamentos pertence à Delfire e foi concedido por meio de um subsídio.
O contrato que estabelece os incentivos à Delfire foi renovado em 2017. Inicialmente, o valor previsto em créditos tributários era de cerca de 3,2 bilhões de reais, mas foi corrigido pra 6,4 bilhões de reais, com validade até 2040. Delfire e DFA pertencem aos mesmos sócios, os empresários goianos Augusto de Jesus Delgado e Gustavo Daher Delgado.
A renovação dos incentivos pelo governo goiano se deu em um momento em que a Delfire buscava trazer outra fabricante estrangeira de armas para o País, a Caracal, dos Emirados Árabes. Em 2016, o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, assinou, em Abu Dhabi, um protocolo de intenções com o governo dos Emirados. O projeto, no entanto, naufragou.
Após o encerramento das tratativas com a Caracal, a DFA passou a importar armamentos da Arex. No catálogo do ano passado, uma pistola 9mm, modelo Zero 1 CP, era vendida no Brasil por 7.500 reais. De acordo com o governo de Goiás, a Arex estima faturar cerca de 2,5 bilhões de reais, em cinco anos.
Não é a primeira vez que uma empresa estrangeira de armas leves busca se instalar no Brasil. A austríaca Glock e a alemã Sig Sauer chegaram a pedir autorização, mas não conseguiram.
Procurado, o Ministério da Defesa não se pronunciou até o fechamento da reportagem.