Depoimento para o MP deve ocorrer por videoconferência, oito meses após a primeira convocação (Câmara RJ/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 9 de julho de 2020 às 06h36.
Última atualização em 9 de julho de 2020 às 06h37.
A segunda ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, presta depoimento por videoconferência ao Ministério Público do Rio nesta quinta-feira, depois de oito meses da primeira convocação. Ela é investigada junto com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) nos procedimentos que apuram uso de funcionários fantasmas e eventual prática de “rachadinha”, como é conhecida a devolução de salários. Ana Cristina foi lotada como chefe de gabinete do vereador Carlos Bolsonaro entre 2001 e 2008. Procurada, a defesa de Ana Cristina se limitou a confirmar que ela irá prestar depoimento nesta quinta-feira.
Além de Ana Cristina, o MP convocou outros parentes dela que constaram como assessores de Carlos, mas relataram à revista Época no ano passado que não atuavam como funcionários do filho ‘02’ do presidente Jair Bolsonaro. Tinham sido intimados para depor na quarta-feira, mas não atenderam à convocação. São eles: Marta Valle, cunhada de Ana Cristina, e Gilmar Marques, ex-cunhado de Ana Cristina. Ambos sempre viveram em Minas Gerais. Na atual fase do procedimento, os investigados não são obrigados a comparecer.
Marta é professora e moradora de Juiz de Fora (MG), ela passou sete anos e quatro meses lotada no gabinete de Carlos, entre novembro de 2001 e março de 2009. Segundo a Câmara de Vereadores, ela não teve crachá da Casa. Além disso, abordada por Época, disse que não havia trabalhado no gabinete. Outro caso descoberto foi o de Gilmar Marques, que mora em Rio Pomba (MG). Questionado, também disse não se recordar da nomeação.
Durante seus mandatos como vereador, desde 2001, Carlos Bolsonaro nomeou sete parentes de ex-madrasta. Parte deles, no período em que ela viveu em união estável com o presidente Jair Bolsonaro, entre 1998 e 2008.
Além de Marta e Gilmar, o MP também investiga a situação do advogado Guilherme Henrique de Siqueira Hudson, que constou como assessor-chefe de Carlos por dez anos — entre abril de 2008 e janeiro de 2018. Guilherme é primo de Ana Cristina e, apesar de todo o tempo em que ficou lotado na chefia do gabinete, jamais teve crachá. Desde 2012, possui residência fixa em Resende e um escritório de advocacia na cidade.
Quando Hudson era assessor-chefe, Ananda Hudson, sua mulher, foi nomeada no gabinete entre 2009 e 2010. Ao mesmo tempo, porém, ela cursava Letras em Resende. Depois, Monique Hudson, cunhada de Guilherme e igualmente estudante, em Resende, também foi nomeada.
Em fevereiro, O GLOBO revelou imagens mostrando que na mesma semana em que o advogado Guilherme Henrique de Siqueira Hudson foi prestar depoimento em outubro do ano passado ele também foi no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro. Ela estava acompanhado de seu pai, Guilherme dos Santos Hudson, investigado no caso de Flávio Bolsonaro.
A primeira intimação de Ana Cristina ocorreu em novembro. No entanto, Magnum Roberto Cardoso, advogado de Ana Cristina, contou ao GLOBO que a defesa solicitou que o depoimento fosse prestado em Resende, no Sul do Estado, onde ela possui residência e trabalha como assessora de Renan Marassi, vereador daquele município.
A investigação foi aberta em julho do ano passado, tramita sob segredo de Justiça e era conduzida pelo Gaocrim (Grupo de Atribuição Originária Criminal), ligado à Procuradoria-Geral de Justiça. No entanto, na semana passada, ela foi repassada para a primeira instância.
Em dezembro do ano passado, logo depois da busca e apreensão em endereços ligados a outros nove parentes seus devido às investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro, Ana Cristina gravou um vídeo no qual dizia que não era investigada.
— O MP veio a Resende, fez algumas buscas e apreensões em familiares meus, mas o mais importante que eu quero dizer para vocês é que eu, Ana Cristina Siqueira Valle, não estou sendo investigada. Isso é fato. Então eu acredito que isso seja uma estratégia da mídia para atingir o nosso presidente Jair Bolsonaro — afirmou, na ocasião, sobre as medidas que envolviam o procedimento sobre Flávio, irmão de Carlos.
Procurado, o vereador Carlos Bolsonaro não retornou. O GLOBO não conseguiu contato com Marta Valle e Gilmar Marques.