Tropas brasileiras na Guerra do Paraguai: 75 mil brasileiros e 300 mil paraguaios morreram no conflito (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2015 às 10h30.
São Paulo - Da Guerra do Paraguai nos restaram lembranças vagas, estátuas equestres do Duque de Caxias nos jardins, ruas e avenidas batizadas como Voluntários da Pátria e a figura de Solano López como vilão (no Paraguai ele é herói).
Passados 150 anos da maior guerra travada na América do Sul, o canal History lança este especial sobre a Guerra do Paraguai, no sábado, 11, às 22 h, tentando mostrar pontos de vista multifacetados sobre o conflito.
A Guerra do Paraguai envolveu a união entre Brasil, Argentina e Uruguai (a Tríplice Aliança) para combater o país vizinho. Foi um morticínio ao longo dos cinco anos de combates.
Calcula-se que tenham morrido 75 mil brasileiros, 18 mil argentinos e três mil uruguaios, entre os aliados. Já a nação derrotada perdeu 300 mil pessoas - quase 70% da sua população. Os números são espantosos, pois expressam uma política de terra arrasada nas fases finais da guerra.
A quase totalidade da população masculina foi eliminada. Mulheres, velhos e crianças foram assassinados. Crianças, aliás, eram os últimos combatentes convocados por Solano López, quando já não havia mais adultos para empunhar armas.
Essa tragédia, que teve lugar entre 1865 e 1870, durante o reinado de Pedro II, é reconstituída em depoimentos de historiadores, especialistas, jornalistas e curiosos.
E se vale também da dramatização de cenas de batalhas e assassinatos, com sequências às vezes bastante explícitas e algumas de gosto a ser discutido.
O diretor Matheus Ruas serve-se também de recursos da computação gráfica para ilustrar batalhas e estratégias de guerra empregadas nesse conflito. De maneira particular na terrível batalha fluvial que destruiu a frota paraguaia.
O especial tem assim essa preocupação didática, meritória na medida em que temas históricos são sistematicamente ignorados no Brasil.
Mas se trata de um didatismo preocupado em ser também entretenimento capaz de prender a atenção desse público arredio a grandes reflexões sobre acontecimentos do passado.
Daí a presença de batalhas encenadas e algum simplismo no trato de questões complicadas, de ordem geopolítica.
A polifonia de opiniões é, no entanto, interessante. Ouvem-se historiadores conhecidos como Mary del Priore e Francisco Doratioto, um descendente direto do governante paraguaio, Miguel Solano López, um filósofo ligado à teologia como Mario Sergio Cortela e o jornalista Eduardo Bueno, divulgador pop da História do Brasil.
Guerra do Paraguai traz a intenção saudável de relativizar certos lugares-comuns ligados ao conflito e a seus personagens. Por exemplo, D. Pedro II ainda é lembrado como um velhinho sábio e bondoso, amigo da cultura e humanista.
O retrato dele pintado em Guerra do Paraguai é o de monarca impiedoso e vingativo, que poderia ter detido a mortandade quando a vitória era líquida e certa e não o fez.
Já o Duque de Caxias é visto como o militar que botou ordem num exército bagunçado e indisciplinado e, com isso, abriu caminho para a vitória.
Poucas vozes, no entanto, aliviam a memória de Solano López. De passagem cita-se a versão de que López seria incômodo para a potência então dominante, a Inglaterra, e teria sido eliminado por isso. A hipótese, bastante familiar a historiadores de esquerda, é logo descartada.
Presta-se mais atenção ao López tirano, condottiere enlouquecido numa guerra inútil. Alguém se lembra de que o povo estava com ele, mas esse dado não encontra maior repercussão.
O fato é que se D. Pedro poderia ter sido magnânimo como vencedor, Solano melhor faria sendo bom perdedor, isto é, poupando seu povo do sacrifício inútil quando a derrota era inevitável. Não quis se render. Morreu na batalha e levou muita gente consigo.
Não falta nem mesmo o lado gossip do episódio, com o perfil curioso da irlandesa Elisa Lynch, mulher de Solano López. Diziam as línguas maldosas que ele a havia conhecido num bordel de Paris, quando era diplomata na França. Não se sabe.
Elisa contesta a versão. Consta que era uma beldade, vaidosa e liberal, e teria acompanhado o marido nas batalhas. Saiu ilesa da guerra e morreu em Paris, em 1886, muito depois do final do conflito.
Guerra do Paraguai, o programa, é isso: informação, emoção, entretenimento. Pouco profundo, porém interessante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.