Marisa Letícia: Dagre disse que que, um dia, estava reunido com o representante da OAS no apartamento quando Marisa adentrou o apartamento o filho Fábio Luiz, um engenheiro da OAS e o ex-presidente da empreiteira Léo Pinheiro (.)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 07h26.
São Paulo - O engenheiro Armando Dagre, sócio da Talento Construtora, disse ao Ministério Público de São Paulo que "praticamente" refez o tríplex 164-A, no condomínio Solaris, no Guarujá, no litoral de São Paulo - imóvel que a Promotoria suspeita pertencer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele disse que não teve nenhum contato com Lula, mas com a ex-primeira-dama, Marisa Letícia.
Dagre afirmou que, um dia, estava reunido com o representante da OAS no apartamento "quando Marisa adentrou o apartamento com um rapaz e dois senhores" e que depois soube que os acompanhantes da mulher de Lula eram um filho do casal, Fábio Luiz, um engenheiro da OAS e o ex-presidente da empreiteira Léo Pinheiro - condenado na Lava Jato a 16 anos de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
"Em verdade tomou um susto quando vislumbrou a dona Marisa Letícia ingressando no meio da reunião existente no interior do apartamento", diz o depoimento de Dagre. A reforma, contratada pela OAS, alvo da Operação Lava Jato, custou R$ 777 mil, segundo Dagre. Os trabalhos foram realizados entre abril e setembro de 2014.
O advogado Aloísio Lacerda Medeiros, constituído por Dagre, confirmou que seu cliente estava no apartamento quando Marisa, o filho Fábio e Léo Pinheiro chegaram. Segundo Medeiros, "nada foi dito" sobre a quem pertenceria o imóvel.
Dagre disse que o contrato com a OAS para reforma do tríplex incluiu novo acabamento, além de uma outra piscina, mudança da escada e instalação de elevador privativo que custou R$ 62,5 mil. Ele disse que a ex-primeira-dama "os cumprimentou". "Ela estaria conhecendo o apartamento, tendo, inclusive, ressaltado a vista (para o mar)."
As informações sobre o depoimento de Armando Dagre foram divulgadas no Jornal Nacional, da TV Globo.
Flores
A Promotoria também tomou o depoimento do zelador José Afonso Pinheiro, que trabalha no condomínio desde 2013. Questionado se Lula esteve no prédio, o funcionário confirmou.
Segundo ele, Lula chegava normalmente em dois carros com seguranças que "prendiam" o elevador para a família, o que provocava reclamações de outros moradores.
O zelador relatou que a OAS "limpava o prédio, colocava flores para receber a família do ex-presidente". Segundo ele, um funcionário da empreiteira lhe pediu que não falasse que o apartamento era de Lula e da mulher, "mas da OAS".
Depois que as investigações sobre o apartamento foram tornadas públicas a família de Lula não retornou ao prédio, segundo o zelador.
Em 2006, quando se reelegeu presidente, Lula declarou à Justiça eleitoral possuir uma participação em cooperativa habitacional no valor de R$ 47 mil.
A cooperativa é a Bancoop que, com graves problemas de caixa, repassou o empreendimento à OAS. A Polícia Federal e a Procuradoria da República suspeitam que a empreiteira pagou propinas a agentes públicos em troca de contratos da Petrobrás.
A investigação sobre o apartamento que seria de Lula estão sendo realizadas pelo promotor de Justiça Cássio Conserino, do Ministério Público paulista.
O promotor diz ter indícios de que houve tentativa de esconder a identidade do verdadeiro dono do tríplex, o que pode caracterizar crime de lavagem de dinheiro.
Fisco
O advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente Lula, negou que o petista ou familiares dele sejam os donos do tríplex. Ele relatou que a família comprou uma cota de um projeto da Bancoop.
A cota foi paga e declarada ao Imposto de Renda pelo petista. O advogado disse que "não tem a menor ideia" de quem reformou o imóvel.
Zanin reiterou que o apartamento "não é do ex-presidente".
Esclareceu que Lula tinha uma cota do projeto da Bancoop e, quando o empreendimento foi transferido para outra empresa, tinha duas opções: pedir o resgate da cota ou utilizá-la para compra do imóvel no condomínio Solaris.
A família fez a opção pelo resgate. Procurada pela reportagem, a OAS não se manifestou.