Exame Logo

Empreiteira teria pago R$ 5,4 mi a ex-diretor por seis obras

Uma tabela com detalhes da propina paga foi entregue pelo engenheiro Shinko Nakandakari em sua delação premiada

Obra da Galvão Engenharia: a propina teria sido paga a Renato Duque (Divulgação/ Galvão Engenharia)
DR

Da Redação

Publicado em 2 de março de 2015 às 08h22.

Curitiba - Em sua delação premiada à força-tarefa da Operação Lava Jato , o engenheiro Shinko Nakandakari entregou uma tabela com detalhes da propina paga, segundo ele, pela empreiteira Galvão Engenharia ao ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, indicado pelo PT, e a seu braço direito, o ex-gerente Pedro Barusco.

Na lista constam seis obras da estatal que renderam aos dois R$ 5,4 milhões.

Shinko, como é conhecido, é o primeiro de 11 operadores de propina na Diretoria de Serviços, segundo a investigação, a firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público e a Polícia Federal.

Para ter o acerto homologado pela Justiça, ele precisa apresentar provas do que afirma em seus depoimentos. A tabela consta em troca de mensagens entre o engenheiro e o ex-diretor de Óleo e Gás da Galvão Engenharia Luiz Augusto Distrutti.

De acordo com os registros, a obra que rendeu o maior volume de propina, em um único contrato, é a do Gasoduto Cabiúnas-Reduc (Refinaria Duque de Caxias), no Rio de Janeiro: R$ 1,6 milhão aos ex-funcionários da Petrobrás.

O valor corresponde a 1,5% dos recursos pagos mensalmente pela Petrobrás à Galvão Engenharia entre agosto de 2008 e maio de 2009.

Há pagamentos de propina também em três contratos nas obras do Complexo Portuário e Industrial do Pecém, no Ceará, que somam R$ 1,8 milhão.

O documento registra ainda propinas pagas nas obras do Gasoduto Cacimbas-Catu (Gascac), entre a Bahia e o Espírito Santo (R$ 833,3 mil); do Gasoduto Japeri-Reduc, no Rio (R$ 555,5 mil); do Terminal Aquaviário de Ilha Comprida, no Rio (R$ 133 mil); e da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia - nesse caso o registro de propina não está contabilizado.

Ao todo há oito tabelas diferentes no documento, cada uma referente a um contrato firmado com a Petrobrás pela Galvão Engenharia.

A empresa é uma das 16 acusadas de cartel e corrupção na estatal pelos investigadores da Lava Jato.

Segundo a apuração, o doleiro Alberto Youssef atuava como operador do PP na Diretoria de Abastecimento, e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, atuava em nome do PMDB na Diretoria Internacional.

Shinko é importante figura para a Lava Jato elucidar como atuaram os indicados do PT no esquema montado na estatal.

Segundo os investigadores, a Diretoria de Serviços era cota do partido no esquema montado na estatal.

Duque teria sido indicado pelo ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção no escândalo do mensalão. O petista nega a indicação.

Em depoimento prestado no dia 19 de fevereiro, Shinko afirmou que entregou dinheiro "em espécie diretamente" a Duque e a Pedro Barusco.

O ex-gerente também fez acordo de delação premiada. Duque chegou a ser preso em novembro do ano passado e solto, em dezembro, por decisão do Supremo Tribunal Federal.

O ex-diretor nega as acusações. Segundo o engenheiro, ele foi contratado a partir de 2008 pela Galvão para "facilitar" a entrada da empreiteira no cartel.

Codinomes

Outro material revelador para os investigadores entregue pelo engenheiro são cópias dos e-mails trocados com um ex-diretor da Galvão em que se discutem "valores que iriam ser pagos a Renato Duque e Pedro Barusco, para que concordassem com os aditivos que seriam celebrados entre a Galvão e a Petrobrás".

Em um dos casos, os dois falam de "aditivos" nas obras do Complexo Pecém. "As aprovações no Jurídico e Diretoria serão monitorados diretamente pelo Zé com apoio do João."

As expressões "nosso amigo" e "Zé" usadas nos e-mails referem-se a Barusco. "Nobre" e "João" eram as formas usadas para falarem de Duque.

Por meio de seu advogado, Duque nega o recebimento de propina, "jamais tendo mantido relacionamento ilícito com o senhor Shinko Nakandakari".

O advogado Renato Moraes, defensor do ex-diretor, declarou que seu cliente está "à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos necessários sobre sua gestão à frente da Diretoria de Serviços da Petrobrás".

A Galvão Engenharia informou que "os pagamentos feitos (a Shinko) resultaram de prática de extorsão e concussão, conforme relatado às autoridades competentes".

Segundo a Galvão Engenharia, por meio de sua assessoria de imprensa, "o sr. Shinko Nakandakari nunca foi funcionário da empresa". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

São Paulo – Aos 42 anos, o juiz federal Sérgio Fernando Moro é o principal nome por trás dos feitos históricos e, por vezes, polêmicos do processo envolvendo a Operação Lava Jato – que investiga suposto esquema de corrupção na Petrobras . Deflagrada em março de 2014, a operação mirava, em um primeiro momento, desmantelar uma teia de lavagem de dinheiro estimada em 10 bilhões de reais. As investigações apontaram o envolvimento de executivos da Petrobras no esquema. Veja 6 respostas sobre a Operação Lava Jato.  No mesmo mês, o doleiro Alberto Yousseff e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foram presos. Um dos principais especialistas em lavagem de dinheiro do país, Moro já havia julgado Yousseff no passado durante o processo do caso Banestado. Na época, o juiz condenou 97 pessoas envolvidas no desvio de 28 bilhões de reais para o exterior. O doleiro da Lava Jato estava entre eles. Durante os últimos 16 meses de investigações, Moro colecionou práticas consideradas necessárias para uns ou questionáveis para outros (principalmente, para os defensores dos acusados), como o uso da delação premiada e a divulgação de alguns depoimentos. Em um seminário no Rio de Janeiro na útlima quinta-feira, ele negou ser herói nacional. Discreto, tende a não revelar muitos detalhes da sua vida pessoal. A esposa dele seria assessora jurídica de Flávio José Arns (PSDB), vice-governador do estado do Paraná, de acordo com informações do blog Conversa Afiada.  Moro é um dos três indicados pela Associação dos Juízes Federais do Brasil para ocupar o lugar de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. Em 2012, durante o julgamento do mensalão, foi juiz instrutor do Supremo Tribunal Federal como auxiliar da ministra Rosa Weber. Professor de Direito Processual Penal Universidade Federal do Paraná, Moro concluiu o Program of Instruction for Lawyers da Universidade de Harvard e é doutor em Direito pela UFPR.
Veja nas imagens algumas frases que revelam o pensamento do juiz.
  • 2 /12(EXAME.com)

  • Veja também

  • 3 /12(EXAME.com)

  • 4 /12(EXAME.com)

  • 5 /12(EXAME.com)

    .
  • 6. .

    6 /12(EXAME.com)

    .
  • 7. .

    7 /12(EXAME.com)

    .
  • 8. .

    8 /12(EXAME.com)

    .
  • 9. .

    9 /12(EXAME.com)

    .
  • 10. .

    10 /12(EXAME.com)

    .
  • 11. .

    11 /12(EXAME.com)

    .
  • 12. Veja outras reportagens sobre a Operação Lava Jato

    12 /12(Nacho Doce/Reuters)

  • Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasGás e combustíveisIndústria do petróleoOperação Lava JatoPetrobrasPetróleo

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Brasil

    Mais na Exame