Em depoimento, Frota diz que Bolsonaro lhe pediu para defender Queiroz
Na CPMI das Fake News, deputado diz que Planalto virou "porto seguro de terroristas digitais" articulado via assessores "credenciados e remunerados"
Clara Cerioni
Publicado em 30 de outubro de 2019 às 17h18.
Última atualização em 30 de outubro de 2019 às 21h00.
São Paulo — O deputado federal Alexandre Frota (ex-PSL e atual PSDB) fez um depoimento nesta quarta-feira (30), na condição de convidado, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das fake news do Congresso Nacional.
Em seu depoimento de abertura, o parlamentar afirmou que só ele sabe "tudo o que vi, ouvi e vivi". Ele denunciou que "o Palácio do Planalto virou um porto seguro de terroristas digitais", cuja atuação, segundo Frota, é articulada via assessores parlamentares "credenciados e remunerados".
Ele afirmou estar fazendo uma investigação sobre essa rede e levou, inclusive, fotografias de "três assessores que estão no gabinete do presidente Bolsonaro contratados" para disseminar informações falsas. Segundo Frota, eles são gerenciados "obviamente por Carlos Bolsonaro".
"Carlos Bolsonaro coordena direto do Rio de Janeiro as milícias virtuais, realizando reuniões, disparando via WhatsApp seus comandos", disse o deputado.
Em um dos questionamentos, o parlamentar afirmou que em um telefonema no começo do ano, o presidente Bolsonarosaiu em defesa de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL).
O episódio teria ocorrido depois que Frota criticouQueiroz na tribuna em uma sessão onde o líder do PT, Paulo Pimenta, provocou aliados de Bolsonaro a pedir a prisão do ex-assessor.
"Eu subi e pedi a prisão do Queiroz", afirmou Frota. Na sequência, relata, o telefone tocou. "Era Jair Bolsonaro reclamando que eu teria, no plenário, pedido a prisão do Queiroz".
Frota também afirmou ter sido abordado por Flávio Bolsonaro no Congresso e ouvido do senador: "Papai ficou chateado com você". Em outro evento, no Palácio do Planalto, conta Frota, Bolsonaro o puxa e diz: "Cala sua matraca, p*".
Durante a sessão, que durou cerca de quatro horas, o deputado afirmou diversas vezes que a divulgação de informações falsas nas redes sociais, bem como os linchamentos públicos promovidos "tanto pela oposição quanto pelo governo", "atrapalha muito a nossa democracia".
Em determinado momento, Frota apresentou um dossiê em que ele diz que provará que o guru do presidente Jair Bolsonaro, o filósofo Olavo de Carvalho, convocou milícias virtuais para atacar o vice-presidente Hamilton Mourão.
Aliados do presidente Bolsonaro interromperam em alguns momentos as falas de Frota. O deputado Filipe de Barros afirmou que o parlamentar, hoje filiado ao PSDB, é "ressentido com o PSL" por ter sido expulso.
A próxima audiência marcada é com Allan dos Santos, jornalista do Terça Livre, no dia 05.