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Em 2 meses, 265 mil alunos abandonam cursos em universidades particulares

82% dos estudantes dizem que a perda de renda foi o principal motivo para interromper os estudos

Aula em faculdade: migração das aulas físicas para as virtuais sem desconto das mensalidades dos alunos tem impulsionado movimentos estudantis pela redução dos valores (Germano Lüders/Exame)

Aula em faculdade: migração das aulas físicas para as virtuais sem desconto das mensalidades dos alunos tem impulsionado movimentos estudantis pela redução dos valores (Germano Lüders/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de julho de 2020 às 13h54.

Última atualização em 7 de julho de 2020 às 13h56.

As universidades particulares perderam 265 mil estudantes - que abandonaram o curso ou trancaram matrícula - em abril e maio, aponta levantamento do Semesp, sindicato que representa o setor do ensino privado no Brasil. A evasão foi quase 32% maior, ante o mesmo período de 2019, quando foram registradas 201 mil desistências. Segundo a entidade, o cenário traz outro alerta: no mínimo 11,3% dos estudantes devem terminar o ano inadimplentes, com ao menos uma mensalidade atrasada.

Só em maio, a evasão teve alta de 14,3%, puxada por cursos presenciais. A rede privada reúne 75,4% (6,3 milhões) das matrículas de graduação, conforme o Censo da Educação Superior de 2018 do Ministério da Educação (MEC), o mais recente.

Pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) apontou, em junho, que 82% dos estudantes dizem que a perda de renda foi o principal motivo para interromper os estudos. Realizado de 28 a 31 de maio, o levantamento ainda concluiu que 42% dos alunos estão sob risco de desistir dos estudos - 5% a mais do que o declarado em março, no início da pandemia.

O Semesp prevê que julho será ainda mais complicado, comprometendo a captação das instituições, já atingidas por queda de 70% nas buscas por cursos superiores, em comparação com o mesmo período em 2019. "Nosso grande termômetro é o interesse nas buscas do Google", diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.

Ele diz que a Medida Provisória (MP) 936, que permite a redução de salários e jornada durante a crise, prejudicou os alunos. Esses fatores, alinhados à queda na previsão do PIB e recorde de desempregados no País, constroem cenário "preocupante" para o setor.

Valéria Félix, de 22 anos, mal havia começado o 1.º semestre de Psicologia em São Paulo quando a pandemia chegou. Foram só duas semanas de aulas presenciais antes de voltar à casa dos pais, em Frei Lagonegro, no interior de Minas. A irmã dela, Ângela, que pagava seus estudos, perdeu o emprego que tinha em um bar e, até agora, não conseguiu outro.

E, assim, fica difícil para a família arcar com a mensalidade de R$ 360, valor já reduzido graças ao desconto do Programa de Inclusão Universitária (Priuni), parceria da Uninove com ONGs da Grande São Paulo.

No início, a necessidade de trancar o curso deixou Valéria deprimida. Agora, ela diz que está aceitando melhor. "Não é só comigo que isso acontece. Quando der, quero voltar."

A migração das aulas físicas para as virtuais sem desconto das mensalidades dos alunos tem impulsionado movimentos estudantis pela redução dos valores, pois, segundo eles, as instituições de ensino viram suas contas de água, luz e manutenção caírem.

Custos

Rogério Sampaio Gomes, de 44 anos, é aluno de Direito no Centro Universitário Módulo, do Grupo Cruzeiro do Sul, e representa seus colegas na negociação pela redução de 30% das mensalidades a partir de março e até quando as aulas forem virtuais. Ele afirma também que a universidade utiliza equipamentos dos quais já dispunha antes da pandemia e que as aulas foram gravadas, diminuindo a qualidade. Para ele, configura quebra de contrato.

Segundo Sólon Caldas, secretário executivo da Abmes, porém, esse não é o cenário de todas as universidades. Ele explica que muitas instituições pouparam dinheiro nas contas mensais, mas por outro lado investiram além do esperado em tecnologias e treinamentos que tornassem as aulas remotas possíveis. "O custo aumentou."

A Uninove, a Cruzeiro do Sul e a Laureate, grupo detentor da FMU e da Anhembi Morumbi, deram explicação semelhante. Em nota, a Uninove disse que providenciou celulares de última geração para os professores e que chips de dados com 5 GB foram distribuídos aos alunos. No próximo semestre, a capacidade será ampliada para 20GB, gratuitamente.

A Cruzeiro do Sul disse que as aulas presenciais foram substituídas por aulas "ao vivo", ministradas pelo professor no mesmo dia e horário da aula presencial, mas com o uso da tecnologia. E a Laureate informou que instalou um programa para que alunos tivessem aulas remotas e treinou todos os docentes.

A Cruzeiro do Sul e Uninove ainda demitiram parte de seus professores, o que motivou protestos dos alunos. As duas instituições disseram que a reestruturação foi necessária para manter os serviços, diante da crise da covid-19, mas que preservaram o maior número possível de empregos. Para o Sindicato dos Professores de São Paulo, as faculdades poderiam ter usado a MP de corte de salário.

A Laureate e a Cruzeiro do Sul informaram ainda que adotaram políticas para flexibilizar pagamentos, como parcelar mensalidades. A Uninove afirmou oferecer descontos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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