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Eletronorte pagou R$ 3 mi à Airship para fabricar dirigível

Grupo Engevix recebeu da Eletronorte a missão de fazer o primeiro dirigível de carga a serviço do governo brasileiro

Eletronorte: empresa vai pagar R$ 3 milhões para que Airship entregue um zepelim para manter linhas de transmissão (Paulo Santos/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2015 às 15h44.

Brasília - Acusado de integrar o esquema de corrupção da Petrobras, o Grupo Engevix recebeu da Eletronorte a missão de fazer o primeiro dirigível de carga a serviço do governo brasileiro. A empreiteira é dona de 50% da Airship do Brasil, empresa que já obteve da estatal, após a Operação Lava Jato, R$ 3 milhões para entregar em 2016 um zepelim que servirá para construir, manter e inspecionar linhas de transmissão. Os outros 50% da empresa pertencem ao Transportes Bertolini Ltda.

O contrato com a Eletronorte, que prevê repasses de R$ 37 milhões, foi assinado em fevereiro, com dispensa de licitação, sob o argumento de que a Airship tem notório saber e é a única empresa no Brasil capaz de desenvolver um projeto assim. A fornecedora nunca fabricou um dirigível de carga nos moldes previstos, mas tem experiência na construção de balões-guindaste e aeróstatos (tipo de aeronave não tripulada, sustentada com gás mais leve que o ar).

O projeto envolve também a construção de uma fábrica em São Carlos (SP), já em curso, onde será feito o dirigível. Para isso, além da verba da estatal do setor elétrico, a empresa obteve financiamento de R$ 102,7 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição não informa quanto já repassou por meio do empréstimo.

Os R$ 3 milhões já pagos pela Eletronorte foram transferidos entre agosto e dezembro, a título de custear a compra de materiais e a realização de testes. A Eletronorte adianta que a Engevix continuará no projeto, apesar do escândalo de corrupção, pois nenhuma irregularidade foi detectada. Nos últimos anos, o presidente da Airship foi o vice-presidente da empreiteira, Gerson de Mello Almada, preso desde novembro, por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás.

"Se ela (a Engevix) tem alguma coisa fora do conceito ético, moral, não é no projeto da Airship. Posso garantir. Mostro a cara e mostro tudo", afirma o diretor de Operação da Eletronorte, Wady Charone Júnior, que se intitula o pai da ideia do dirigível do setor elétrico.

Segundo o diretor, o projeto é auditado "com rigor" pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela própria Eletronorte. "Todos os contratos da Engevix estão sob suspeita. Até concordo com essa teoria. Mas, então, vá examinar tudinho", acrescenta, dizendo que a estatal está aberta a quaisquer outras investigações.

A Airship foi fundada em 2005 numa parceria entre a Engevix e a Transportes Bertolini - grupo do setor de logística, que não está entre os investigados da Lava Jato. Dono da outra metade do capital, o sócio assumiu a presidência da empresa em novembro, dois dias antes de a Polícia Federal prender executivos envolvidos no esquema da Petrobrás.

Funcionário de carreira da Eletronorte, nomeado para o cargo na cota do PT, Charone diz que teve um "click" anos atrás, ao fazer um serviço em linhas de transmissão, e começou a pensar sobre o uso do zepelim. Sem "saber de nada" sobre essas aeronaves, pesquisou com especialistas e concluiu que a tecnologia era viável para o setor elétrico. Mais tarde, o projeto foi aprovado pela Eletrobrás, o que permitiu a celebração do Contrato.

A promessa é que o dirigível decole pela primeira vez em julho de 2016 e, a partir daí, passe a fazer consertos, inspeções e construções de redes. A ideia é diminuir os custos e dar agilidade aos serviços, além de evitar impacto ambiental. Para levar e trazer uma torre das que sustentam cabos de energia para o meio da floresta amazônica, é necessário hoje desmatar e abrir estradas, o que pode custar de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões.

"A 'sacada' é essa: quem trabalha de baixo para cima, vai trabalhar de cima para baixo. Muda a lógica", resume Charone, dizendo que nenhuma outra empresa do mundo usa zepelins com essa finalidade.

As manutenções e inspeções da rede podem ser feitas com helicópteros, mas a operação seria mais cara. Além disso, eles teriam menos autonomia de voo. O novo dirigível voaria a até 120 km/h, com menor consumo de combustível e capacidade para carregar 30 toneladas.

O diretor diz que a Eletronorte sondou fabricantes em países como a Alemanha e os Estados Unidos, mas nenhum faz dirigíveis com essa capacidade de carga. Como o dirigível será construído com verba específica de um programa de pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico, a legislação que disciplina esses investimentos, segundo Charone, impõe a contratação de instituições e empresas brasileiras. "A Airship era a única que tinha a documentação necessária para fazer", diz ele.

O jornal O Estado de S.Paulo procurou a Airship e enviou questionamentos por e-mail. A empresa não respondeu. Por meio de sua assessoria de imprensa, justificou que os funcionários que podem falar sobre o projeto estavam de recesso.

Em nota, o BNDES informou que "as liberações para o referido projeto estão sendo efetuadas com o rigor usual". Segundo o banco, desembolsos de recursos estão condicionados à comprovação de que a parcela liberada anteriormente foi utilizada nas finalidades definidas no projeto.

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Brasília - Acusado de integrar o esquema de corrupção da Petrobras, o Grupo Engevix recebeu da Eletronorte a missão de fazer o primeiro dirigível de carga a serviço do governo brasileiro. A empreiteira é dona de 50% da Airship do Brasil, empresa que já obteve da estatal, após a Operação Lava Jato, R$ 3 milhões para entregar em 2016 um zepelim que servirá para construir, manter e inspecionar linhas de transmissão. Os outros 50% da empresa pertencem ao Transportes Bertolini Ltda.

O contrato com a Eletronorte, que prevê repasses de R$ 37 milhões, foi assinado em fevereiro, com dispensa de licitação, sob o argumento de que a Airship tem notório saber e é a única empresa no Brasil capaz de desenvolver um projeto assim. A fornecedora nunca fabricou um dirigível de carga nos moldes previstos, mas tem experiência na construção de balões-guindaste e aeróstatos (tipo de aeronave não tripulada, sustentada com gás mais leve que o ar).

O projeto envolve também a construção de uma fábrica em São Carlos (SP), já em curso, onde será feito o dirigível. Para isso, além da verba da estatal do setor elétrico, a empresa obteve financiamento de R$ 102,7 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição não informa quanto já repassou por meio do empréstimo.

Os R$ 3 milhões já pagos pela Eletronorte foram transferidos entre agosto e dezembro, a título de custear a compra de materiais e a realização de testes. A Eletronorte adianta que a Engevix continuará no projeto, apesar do escândalo de corrupção, pois nenhuma irregularidade foi detectada. Nos últimos anos, o presidente da Airship foi o vice-presidente da empreiteira, Gerson de Mello Almada, preso desde novembro, por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás.

"Se ela (a Engevix) tem alguma coisa fora do conceito ético, moral, não é no projeto da Airship. Posso garantir. Mostro a cara e mostro tudo", afirma o diretor de Operação da Eletronorte, Wady Charone Júnior, que se intitula o pai da ideia do dirigível do setor elétrico.

Segundo o diretor, o projeto é auditado "com rigor" pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela própria Eletronorte. "Todos os contratos da Engevix estão sob suspeita. Até concordo com essa teoria. Mas, então, vá examinar tudinho", acrescenta, dizendo que a estatal está aberta a quaisquer outras investigações.

A Airship foi fundada em 2005 numa parceria entre a Engevix e a Transportes Bertolini - grupo do setor de logística, que não está entre os investigados da Lava Jato. Dono da outra metade do capital, o sócio assumiu a presidência da empresa em novembro, dois dias antes de a Polícia Federal prender executivos envolvidos no esquema da Petrobrás.

Funcionário de carreira da Eletronorte, nomeado para o cargo na cota do PT, Charone diz que teve um "click" anos atrás, ao fazer um serviço em linhas de transmissão, e começou a pensar sobre o uso do zepelim. Sem "saber de nada" sobre essas aeronaves, pesquisou com especialistas e concluiu que a tecnologia era viável para o setor elétrico. Mais tarde, o projeto foi aprovado pela Eletrobrás, o que permitiu a celebração do Contrato.

A promessa é que o dirigível decole pela primeira vez em julho de 2016 e, a partir daí, passe a fazer consertos, inspeções e construções de redes. A ideia é diminuir os custos e dar agilidade aos serviços, além de evitar impacto ambiental. Para levar e trazer uma torre das que sustentam cabos de energia para o meio da floresta amazônica, é necessário hoje desmatar e abrir estradas, o que pode custar de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões.

"A 'sacada' é essa: quem trabalha de baixo para cima, vai trabalhar de cima para baixo. Muda a lógica", resume Charone, dizendo que nenhuma outra empresa do mundo usa zepelins com essa finalidade.

As manutenções e inspeções da rede podem ser feitas com helicópteros, mas a operação seria mais cara. Além disso, eles teriam menos autonomia de voo. O novo dirigível voaria a até 120 km/h, com menor consumo de combustível e capacidade para carregar 30 toneladas.

O diretor diz que a Eletronorte sondou fabricantes em países como a Alemanha e os Estados Unidos, mas nenhum faz dirigíveis com essa capacidade de carga. Como o dirigível será construído com verba específica de um programa de pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico, a legislação que disciplina esses investimentos, segundo Charone, impõe a contratação de instituições e empresas brasileiras. "A Airship era a única que tinha a documentação necessária para fazer", diz ele.

O jornal O Estado de S.Paulo procurou a Airship e enviou questionamentos por e-mail. A empresa não respondeu. Por meio de sua assessoria de imprensa, justificou que os funcionários que podem falar sobre o projeto estavam de recesso.

Em nota, o BNDES informou que "as liberações para o referido projeto estão sendo efetuadas com o rigor usual". Segundo o banco, desembolsos de recursos estão condicionados à comprovação de que a parcela liberada anteriormente foi utilizada nas finalidades definidas no projeto.

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