PGR pede que Segovia seja proibido de falar sobre investigação
Raquel Dodge pediu ordem judicial para impedir que Segovia faça manifestações a respeito do inquérito dos portos, sob pena de pedir seu afastamento do cargo
Reuters
Publicado em 26 de fevereiro de 2018 às 19h11.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2018 às 20h54.
Brasília - A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu nesta segunda-feira que o ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), conceda uma ordem judicial para impedir que o diretor-geral da Polícia Federal , Fernando Segovia, faça novas manifestações públicas a respeito do chamado inquérito dos portos, sob pena de apresentar um pedido de afastamento dele do cargo.
O pedido de Dodge é uma reação à entrevista exclusiva que Segovia concedeu à Reuters na qual o diretor da PF disse não haver indício de crime na investigação contra o presidente Michel Temer , no chamado inquérito dos portos, indicando tendência de que a corporação recomende o arquivamento. Ele também disse que o delegado do caso, Cleyber Malta Lopes, poderá ser investigado pelos questionamentos feitos a Temer, se a defesa do presidente apresentar uma queixa formal. [nL2N1Q41M7]
Na petição, a procuradora-geral faz menção às declarações do diretor-geral da PF à imprensa e frisou que, conforme prevê o regimento interno da corporação, o cargo ocupado por Segovia tem natureza administrativa, de forma que o seu titular não tem atribuição para conduzir investigações.
"Quaisquer manifestações a respeito de apurações em curso contrariam os princípios que norteiam a Administração Pública, em especial o da impessoalidade e da moralidade", disse Dodge, um em dos trechos do documento.
Dodge solicitou a Barroso que dê uma ordem judicial para que Segovia se abstenha de "qualquer ato de ingerência sobre a persecução penal em curso", inclusive de manifestações públicas a respeito das investigações em curso, sob pena de afastamento do cargo.
A procuradora-geral também decidiu remeter cópia da representação ao Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) para a adoção de medidas cabíveis dentro do chamado controle externo concentrado da atividade policial, uma das atribuições do MP.
Barroso havia pedido uma manifestação da procuradora-geral a respeito do caso.
O inquérito dos portos é a única apuração formal contra o presidente ainda em curso perante o Supremo, requerida ainda pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Prorrogação do inquérito
Na mesma manifestação, Raquel Dodge informou ao STF ter concordado com o pedido do delegado do caso para prorrogar o prazo para a conclusão das investigações. Cleyber Malta Lopes pediu mais 60 dias de prazo para que haja tempo hábil para concluir as novas diligências.
A procuradora-geral, entretanto, fez uma ressalva de que, em dezembro, o STF havia dado mais prazo para realizar as investigações a pedido da Polícia Federal, sem que a PGR fosse consultada. Ela pediu que, nas próximas manifestações, o MPF seja consultado antecipadamente.
"Embora o objetivo tenha sido nobre, o deferimento de prorrogação de prazo sem prévia manifestação do titular da ação penal acaba por atrapalhar o próprio andamento da apuração, pois prejudica o conhecimento por parte do Parquet da linha investigatória desenvolvida e do estágio das investigações", resumiu Dodge.