"Amar mulheres é um ato político", afirmam criadoras de revista Brejeiras (Scott Barbour/Getty Images)
Naiara Albuquerque
Publicado em 29 de agosto de 2019 às 20h19.
Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 15h48.
São Paulo — O Dia da Visibilidade Lésbica é comemorado nesta quinta-feira (29) e se tornou, ao longo do tempo, um importante marco sobre as agressões e invisibilidade sofrida por mulheres lésbicas, no Brasil.
A data nasceu como referência ao primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), que aconteceu pela primeira vez em 1996, para tratar sobre a violação de direitos humanos sofrida por mulheres lésbicas. Apesar da data do evento, o movimento no Brasil teve início antes, em 1979, com o surgimento do Grupo Lésbico-Feminista (LF).
Em 1980, importantes pioneiras do movimento, como Rosely Roth e Míriam Martinho, decidiram criar o Grupo de Ação Lésbica Feminista (Galf), que atuou fortemente contra as prisões e torturas durante a Ditadura Militar. Além disso, as lésbicas do Galf criaram a revista "ChanacomChana", em 1983, e sofreram duras críticas do regime. As ativistas do Galf costumeiramente se reuniam no Ferro's Bar, no centro de São Paulo, para protestar e se organizar politicamente.
Apesar da falta de dados sobre a violência contra mulheres lésbicas no país, no ano passado pesquisadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançaram um Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil.
De acordo com o dossiê, durante 2000, foram registrados dois casos de lésbicas assassinadas. No ano de 2017, esse número teve um assalto, houve 54. O documento também aponta que 57% dos lesbocídios ocorreram com mulheres de até 24 anos e 83% dos agressores são do sexo masculino.
Em entrevista ao jornal O GLOBO, Camila Marins, Cristiane Furtado, Laila Maria, Luísa Tapajós e Roberta Cassiano, criadoras da revista Brejeiras, lançada em 2018, falam sobre a invisibilidade sofrida por esse público, especialmente em relacionamentos afetivos.
"Nossas relações tendem a ser vistas como incompletas. Mesmo quando se reconhece a existência de uma relação afetivo-sexual, geralmente somos colocadas como "amigas que moram juntas", explicam as criadoras.
"Amar mulheres é um ato político e revolucionário, porque desloca a centralidade do patriarcado na construção da sociedade", concluem.