Iemanjá: a comemoração é celebrada pelas religiões de matriz africana em todo o país (Agência Brasil)
Agência Brasil
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 18h03.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2017 às 18h03.
Bonecas, rosas, ramos de arruda, palmas brancas e muitas frutas coloriram os balaios cheios de presentes à Iemanjá, entregues hoje (2), por devotos na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.
Mais uma vez, religiosos e curiosos se reuniram no local para celebrar a "Rainha do Mar" no seu dia, fazer pedidos, orações e agradecer pelo que acreditam ser bençãos da orixá, celebrada pelas religiões de matriz africana em todo o país.
No Rio, pelo menos duas festas atraíram centenas de pessoas. Uma delas, a da Praça XV, onde a presidenta da Casa de Cultura Estrela d'Oya, Atanízia Bispo, voltou a organizar uma procissão, partindo da Lapa, no centro, e que faz parte de uma promessa feita há mais 20 anos, quando seu filho recém-nascido corria risco de morrer.
"Prometi à Iemanjá que se ele sobrevivesse, nunca mais daria presente a ele, mas à ela", explicou a mãe de santo. A cinco quilômetros dali, o Afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro organizou uma celebração para a "Rainha do Mar"no Cais do Valongo.
Dezenas de pessoas aderiram ao cortejo na Lapa e seguiram, por dois quilômetros, até a Praça XV, um carro de som onde músicos tocavam e cantavam em yorubá, fazendo saudações. Fogos de artifício também foram disparados para "acordar" e celebrar a orixá, também chamada Janaína.
Entre os devotos, estava Ivonte de Cruz, de 84 anos, carregando flores para depositar no mar. Todos os anos ela se junta ao cortejo. "Essa procissão daqui é muito bonita. É Iemanjá é quem nos dá proteção, venho sempre", disse, carregando com dificuldade suas arrudas e palmas.
Com um balaio colorido que lhe cobria a cabeça, Patrícia Souza, 42 anos, integrou o cortejo pelo 22º ano. Ela não é da umbanda ou candomblé, mas é devota da orixá.
"Não está pesado [o balaio], aqui tem frutas e flores, como em um sonho que eu tive e Iemanjá me pedia", contou ela que, que carregava um cesto enfeitado com maças, uvas e rosas brancas e amarelas
No fim do trajeto, na Praça XV, dezenas de pessoas de diversas regiões do Rio aguardavam a chegada do "presente", como é chamado o cortejo com barcos e balaios com oferendas à Iemanjá.
D Pai Alexandre, que comanda uma casa religiosa em Itaboraí, na região metropolitana, explicou que celebrar Iemanjá, na umbanda, é "celebrar a paz". "Todos nós devemos agradecer a eIa pelo nosso equilíbrio é discernimento, é ela quem é responsável por isso".
A cinco quilômetro dali, o Afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro organizou a 52ª cerimônia de entrega do presente à Iemanjá. Os integrantes do grupo se reuniram no Cais do Valongo, principal porto de desembarque de africanos escravizados nas Américas, onde cantaram, jogaram capoeira e depois partiram para a Praça Mauá, para depositar oferendas.
O objetivo deles era ocupar o cais, um ponto de importância histórica para entender a diáspora negra.
"Para nós, é muito importante estar aqui, nesse lugar muito caro, que está sendo cada vez mais elitizado, invisibilizando à população local. Porque aqui é o coração nacional [da chegada] dos negros, africanos, que foram escravizados. Então, isso aqui é resistência, estamos ressignificando esse espaço", disse Thiago Laurindo, diretor de projetos do afoxé.
Como parte das celebrações do Dia de Iemanjá, religiosos também ofereceram ao público uma peixada nas sedes de suas entidades religiosas, na Saúde e na Lapa.
Este ano, não houve a tradicional saída da barca da Praça XV com os presentes para serem depositado em alto-mar. A concessionária disse que não recebeu pedidos para cessão do veículo.