Denunciado por racismo, Bolsonaro vai a evento de quilombolas
O candidato vai hoje a Parauapebas (PA), cidade a cerca de 530 quilômetros de Belém, para encontrar Paulo Quilombola
Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2018 às 05h44.
Última atualização em 13 de julho de 2018 às 10h19.
O pré-candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro , participará de um evento de quilombolas nesta sexta-feira, numa tentativa de reduzir os impactos eleitorais negativos da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele.
Em abril, a procuradora-geral Raquel Dodge denunciou Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crime de racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. Parte da denúncia é baseada nas declarações de Bolsonaro sobre uma comunidade quilombola.
“Eu fui em um quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”, afirmou o deputado. Bolsonaro disse ainda que os quilombolas da comunidade “não fazem nada” e “nem para procriador eles servem mais”.
Para Dodge, as declarações são inaceitáveis por alinharem-se à escravidão. “Bolsonaro tratou com total menoscabo os integrantes de comunidades quilombolas. Referiu-se a eles como se fossem animais, ao utilizar a palavra arroba”, disse Dodge.
Para limpar sua barra, então, Bolsonaro vai hoje a Parauapebas (PA), cidade a cerca de 530 quilômetros de Belém, para participar de um evento organizado por Paulo Quilombola, que se identifica como líder da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado do Pará.
Até o mês passado, Paulo apoiava a candidatura do senador Álvaro Dias (Podemos) ao Palácio do Planalto. Mas, no último dia 28, postou um vídeo em suas redes sociais rompendo com Dias e anunciando seu apoio a Bolsonaro.
“Eu apoio Jair Bolsonaro, sei que, se ele assumir o Brasil, muita coisa vai mudar, muita coisa que está errada dentro do movimento afroindígena, dentro do movimento negro, vai mudar”, afirma ele no vídeo.
O movimento de Bolsonaro, no entanto, pode ter efeito pontual, já que Paulo Quilombola não é reconhecido por outras lideranças dos quilombos. Em abril, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas divulgou uma nota de repúdio, assinada por dez entidades, contra Paulo. A nota repudia atitudes que teriam como “pessoal e único interesse desmantelar todo o processo político até aqui construído por instituições sérias do nosso movimento”.
Na semana passada, Bolsonaro defendeu, em vídeos publicados nos perfis de Paulo Quilombola, que as áreas destinadas a esses povos possam ter atividades de mineração e até serem vendidas. O risco é o encontro de hoje alimentar as polêmicas, em vez de dissipá-las.