Defensoria diz que pelo menos sete mortos no Fallet podem não ter reagido
Em visita à comunidade, representante do órgão contou que relatos convergentes mostram que parte dos mortos teriam sido baleados sem que houvesse reação
Agência Brasil
Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 11h27.
Uma equipe da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro esteve, na tarde desta terça-feira (12), na Favela do Fallet, onde 15 pessoas suspeitas de ligação com o tráfico foram mortas na última sexta-feira (8).
Os representantes da Defensoria conversaram com os moradores e parentes dos mortos, para apurar se houve troca de tiros, como informou a Polícia Militar (PM), ou se parte das pessoas foi baleada após estar rendida.
O ouvidor-geral da Defensoria, Pedro Strozemberg, contou que os relatos das pessoas foram convergentes, no sentido de dizer que, pelo menos sete dos mortos, que estavam em uma casa, teriam sido baleados pelos PMs sem que houvesse reação.
"Fomos fazer uma escuta e levantar os fatos. Não para fazer uma investigação, porque não é papel da Defensoria, mas para poder acompanhar de forma mais colaborativa e próxima do que os órgãos vão fazer. Uma operação policial que resulta em 15 mortos é preciso apurar se as condutas foram condizentes. É um número muito alto de letalidade. É preciso saber se os procedimentos foram seguidos ou se houve algum tipo de desvio. No relato dos moradores, parte dessas mortes poderia ter sido evitada e ter sido efetuadas prisões", disse Strozemberg.
Rendição
Segundo Strozemberg, os relatos dos parentes e moradores apontam que sete jovens que estavam em uma casa, já em condição de rendição, foram executados pela PM.
Os morros Fallet e Fogueteiro foram palco de uma briga entre duas facções criminosas pelo controle dos pontos de tráfico, ao longo da última semana, quando a PM entrou na área para controlar a situação, terminando na morte de 15 pessoas apontadas como traficantes.
O próximo passo, segundo o ouvidor da Defensoria, é ter acesso aos laudos cadavéricos da perícia, já que o local das mortes foi desmanchado, pois os policiais levaram as vítimas para o hospital, embora quase todas elas já estivessem mortas.
Strozemberg destacou que é preciso evitar que este tipo de ação se torne comum no governo do estado recém-iniciado. "O desafio é que isto não seja naturalizado. Esta fatalidade não pode ser padrão".
Em nota, a PM informou que os jovens que estavam na casa reagiram à voz de prisão e atiraram contra os militares.
A Polícia Civil está investigando o fato, por meio da Delegacia de Homicídios, e requisitou as armas dos policiais que participaram da ação para perícia.