De volta ao Brasil, Lula deve decidir sobre Ministério do Turismo e emendas parlamentares
Liberação de verba para bases de ministros incomodou lideranças de Centro, aumentando nível de tensão no Congresso
Agência de notícias
Publicado em 26 de junho de 2023 às 07h43.
Última atualização em 26 de junho de 2023 às 07h44.
De volta ao Brasil após viagem oficial à Europa na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma série de nós para desatar na política interna: espera-se que o petista dê fim ao impasse que envolve o comando do Ministério do Turismo e, com isso, assegure apoios do União Brasil. Para garantir base com partidos de Centro, o presidente também deve decidir sobre a liberação de verbas de emendas capazes de acalmar as demandas por cargos no primeiro e segundo escalões. Em meio a pressões para ceder outras pastas ao Centrão, Lula também deve se manifestar pela permanência da ministra Nísia Trindade no Ministério da Saúde.
Dada como certa, a nomeação de Celso Sabino (União-PA) no Turismo tem como objetivo acalmar os parlamentares do partido. A atual ministra, Daniela Carneiro, não tem o apoio da bancada no Congresso e, sob novo comando, o plano é utilizar a capilaridade da pasta para destinar recursos a redutos eleitorais de deputados. Segundo dados da pasta, neste ano o ministério tem R$ 19 milhões para investir tanto em obras de infraestrutura, quanto em campanhas promocionais e apoio a eventos. Este valor deve ser turbinado.
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Parlamentares do União ouvidos pelo GLOBO entendem que o desempenho de Sabino dependerá da “tinta na caneta”. Caso consiga encaminhar demandas por meio da pasta, a chance de conquistar votos a favor do governo no Congresso será maior. A permanência de Daniela virou um problema político para o Planalto depois que a bancada fluminense do União, liderada pelo marido da ministra, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, entrou em conflito com a direção nacional da legenda. O grupo deixou a sigla, migrou para o Republicanos e Daniela foi à Justiça pedir desfiliação.
Em paralelo, novas liberações de verbas devem ser feitas. Apesar de ter um volume três vezes maior de emendas parlamentares liberadas, na comparação com o primeiro ano de Jair Bolsonaro (PL), Lula segue distante de uma base parlamentar sólida e vem enfrentando pressão até de aliados para aumentar o ritmo e incorporar à lista tipos de pagamentos vistos como mais “atrativos”.
Manejo de emendas
Lula fechou um acordo durante a votação da chamada PEC da Transição para que os R$ 9,8 bilhões do antigo orçamento secreto, repassados para os ministérios, fossem destinados conforme indicação dos parlamentares. Entretanto, esse dinheiro ainda está parado, especialmente no Ministério da Saúde, o que amplia o nível de tensão.
O presidente precisará ainda manejar valores dessa rubrica que acabaram sendo destinados para bases eleitorais de ministros, desagradando congressistas, a fim de evitar uma nova crise com o Centrão.
Por fim, espera-se que nesta semana uma outra polêmica caia por terra: cobiçado por aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Ministério da Saúde deve seguir sob a batuta de Nísia Trindade. Indicação técnica no posto, a ministra não deve dar lugar a um indicado por Lira.
Com um dos maiores orçamentos disponíveis para investir nas cidades — R$ 181,6 bilhões — e capilaridade, a pasta é vista como fundamental para o sucesso eleitoral nas próximas eleições. Aliados de Lula, entretanto, afirmam que ele não deve ceder a pressões. Na última semana, Lira negou a interlocutores que tenha pedido o cargo.
Pontos de atenção para o Lula
- Ministério do Turismo — É dada como certa a saída de Daniela Carneiro do Ministério do Turismo, para ser substituída pelo deputado Celso Sabino (PA). A expectativa é que ele melhore a relação do seu partido, o União Brasil, com o governo.
- Emendas parlamentares — Lula está sendo cobrado por parlamentares, especialmente do Centrão, para destravar despesas do governo decorrentes do antigo orçamento secreto. Acordo firmado no fim do ano passado deixou R$ 9,8 bilhões dessas despesas para serem distribuídas pelos parlamentares, mas o recurso tem sido liberado lentamente. A maior parte está no Ministério da Saúde.
- Cobiça pela Saúde — O ministério é alvo de deputados do Centrão, que tentam ter controle sobre a pasta, hoje comandada pela cientista Nísia Trindade. Lula não dá sinais de que irá tirá-la, mas parlamentares seguem pressionando por espaço na estrutura. Entre as queixas dos deputados está uma suposta dificuldade de interlocução e demora na liberação de recursos.