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Dallagnol recebeu R$ 33 mil para palestrar em empresa citada na Lava Jato

Novos vazamentos mostram que palestra na Neoway ocorreu dois anos depois da primeira menção à companhia em chats dos quais o procurador participou

Dallagnol: quatro meses depois da palestra, procurador disse que descobriu citação à empresa (José Cruz/Agência Brasil)

Dallagnol: quatro meses depois da palestra, procurador disse que descobriu citação à empresa (José Cruz/Agência Brasil)

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Clara Cerioni

Publicado em 26 de julho de 2019 às 10h45.

Última atualização em 26 de julho de 2019 às 10h52.

São Paulo — O procurador Deltan Dallagnol recebeu R$ 33 mil para palestrar no evento da empresa de tecnologia Neoway, que havia sido citada em um acordo de delação premiada na Lava Jato, mostram novas mensagens reveladas nesta sexta-feira (26) pelo site The Intercept Brasil em conjunto com a Folha de S.Paulo.

Segundo as reportagens, o evento aconteceu em março de 2018, dois anos depois da primeira menção da companhia nos chats secretos da operação, no grupo do Telegram chamado "Acordo Jorge Luz".

Os chats tinham a finalidade de discutir os termos da delação de Jorge Antonio da Silva Luz, um operador do MDB que tentava negociar uma delação, que tem como personagem central Cândido Vaccarezza, ex-líder de governos petistas na Câmara, preso em 2017.

Dellagnol não só participou do evento da Neoway, mas também aproximou membros da Procuradoria e representantes da empresa para viabilizar o uso de produtos dela em um trabalho da Lava Jato.

"Olhem que legal. Sexta vou dar palestra para a Neoway, do Jaime de Paula. Vejam a história dele. A neoway é empresa de soluções de big data que atende 500 grandes empresas, incluindo grandes bancos etc", disse o procurador.

Logo em seguida, ele é incentivado pelo procurador Júlio Noronha a marcar uma reunião com o dono da empresa para tratar de produtos para um projeto da Procuradoria chamado de Laboratório de Investigação Anticorrupção. "Exatamente. Isso em que estava no meu plano. Vou até citar ele na palestra pra ver se sensibilizo kkkk", completa Dallagnol.

Quatro meses depois de ter vendido a palestra, em 21 de julho de 2018, Dallagnol disse aos procuradores que havia descoberto a citação à empresa na colaboração de Jorge Luz apenas naquele dia.

“Qto isso é ruim? Legalmente não vejo qualquer problema, mas já estou sofrendo por antecipação com as críticas. Dando uma passada de olhos nos anexos do Luz, vejam o que achei. Empresa de TI que veio apresentar produtos de TI para LJ”, afirmou. “Isso é um pepino pra mim”, completou.

Apesar disso, foi só quatro meses depois, em 4 de junho de 2019, que o procurador enviaria um ofício ao corregedor do Ministério Público Federal Oswaldo José Barbosa Silva admitindo sobre o evento.

"Em 3 de março de 2018 participei de congresso anual da empresa Neoway, que oferece soluções de bancos de dados e softwares, inclusive para fins de compliance e investigações internas, realizando palestra remunerada por valor de mercado, sobre combate à corrupção e ética nos negócios".

"Palestras remuneradas são legais"

Em entrevista à rádio Jovem Pan, na manhã desta sexta-feira (26), depois das revelações, Dellagnol afirmou que as palestras que realiza pelo Brasil a convite de empresas privadas são "legais e admitidas pela Constituição".

De acordo com o procurador, a maior parte de suas palestras é gratuita. Ele também disse que as palestras têm o propósito de serem "educativas, falar de combate à corrupção e de cidadania". 

A jornalista Vera Magalhães perguntou a Dallagnol, na entrevista da rádio, se, independentemente da questão legal envolvendo os pagamentos pela Neoway, é papel de um agente público se envolver financeiramente com empresas privadas. 

Dallagnol respondeu que sua "missão" ao fazer as palestras é "educar a sociedade sobre a corrupção e promover a Operação Lava Jato na sociedade". 

O procurador também falou sobre a possibilidade de as primeiras mensagens vazadas pelo site The Intercept gerarem suspeição sobre a atuação do então juiz federal Sergio Moro no julgamento dos processos da Lava Jato. 

De acordo com ele, um juiz só pode ser considerado suspeito se for amigo íntimo de uma das partes ou quando tiver interesse pessoal nos processos.

"Nunca fomos amigos, eu e o ministro Moro. Nunca frequentei sua casa nem ele a minha, nunca fomos a aniversários um do outro, não somos íntimos", falou sobre a primeira hipótese, limitando-se a dizer que Moro julgou muitos processos sem conexão entre si para que fique provado interesse pessoal em algum deles.

Entenda os vazamentos

Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.

Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

 

O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.

Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.

O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.

Fonte do Intercept

Segundo reportagem publicada nesta sexta-feira (26) pela VEJA, a fonte que entregou os diálogos ao jornalista Glenn Greenwald negou que também tenha sido responsável pela invasão ao Telegram do Ministro da Justiça, Sergio Moro.

Em mensagens trocadas em 5 de junho, o Greenwald pergunta à fonte se ela havia lido uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre a invasão ao celular do ministro.

O título da matéria dizia que o hacker usou aplicativos do aparelho e trocou mensagens por seis horas. “Posso garantir que não fomos nós”, responde a fonte, em mensagem transcrita de forma literal.

"Nunca trocamos mensagens, só puxamos. Se fizéssemos isso ia ficar muito na cara”, diz a fonte em outra mensagem, antes de criticar o método de ação empregado contra o ministro. “Nós não somos ‘hackers newbies’ [amadores], a notícia não condiz com nosso modo de operar, nós acessamos telegrama com a finalidade de extrair conversas e fazer justiça, trazendo a verdade para o povo".

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