Governo Lula: o presidente eleito terá à frente do Exército, da Marinha e da Aeronáutica comandantes de perfil discreto caso siga o critério de antiguidade (Roque de Sá/Agência Senado/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 5 de dezembro de 2022 às 07h47.
Com a sinalização positiva de militares para a nomeação do ex-ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro como ministro da Defesa, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva tem sido aconselhado a também não arriscar na definição dos comandantes das Forças Armadas e adotar o critério de antiguidade.
Se fizer isso, Lula terá à frente do Exército, da Marinha e da Aeronáutica comandantes de perfil discreto, avessos às redes sociais e sem alinhamento — ao menos declarado — a Jair Bolsonaro. Dois deles também tiveram papel de destaque em grandes operações durante governos do PT, o que tem sido citado nos bastidores para que sejam escolhidos.
Pelo critério de antiguidade, o general quatro estrelas Júlio César de Arruda, de 63 anos, é quem deverá assumir o Exército. A seu favor conta o fato de ter sido ajudante de ordens do general Enzo Peri, comandante da Força de 2007 a 2015, o mais longevo das gestões do PT. No governo de Dilma Rousseff, participou da preparação do esquema de segurança das Olimpíadas de 2016, como chefe do Comando de Operações Especiais. Na época, chegou a ser homenageado pela Assembleia Legislativa de Goiás, quando parlamentares do PT elogiaram seu papel ao cuidar da segurança da própria presidente.
Ingressou na carreira militar ainda jovem, aos 15 anos, por influência de um dos irmãos, que havia feito um curso preparatório para oficiais em Cuiabá. No atual governo, foi escolhido para substituir o general Walter Braga Netto no Comando Militar do Leste, em 2019, sediado no Rio. Atualmente, é chefe do Departamento de Engenharia e Construção. Militares que atuam com ele citam sua capacidade operacional como principal virtude. Diferentemente dos últimos comandantes do Exército, Arruda vem da arma de engenharia do Exército, considerada mais técnica e menos rígida do que as demais vertentes, como infantaria, artilharia e cavalaria.
Já na Aeronáutica, o favorito é o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, de 63 anos, considerado um militar com bom trânsito político e habilidade para negociar. O oficial tem como trunfo a boa relação com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, de quem se aproximou em 2015, quando chefiou uma unidade da Força em São Paulo. Na mesma época, Alckmin era governador e enfrentou um dos episódios mais tristes da sua vida: a morte do filho Thomaz na queda de um helicóptero. Na ocasião, segundo interlocutores, Damasceno foi prestativo ao repassar informações sobre o acidente.
Pessoas que atuaram no governo Dilma também lembram da participação de Damasceno na Operação Ágata, realizada em 2012 para combater o narcotráfico e contrabando na região de fronteira. Na ocasião, segundo militares que atuaram na ação, foi de Damasceno a ideia de usar barcos apreendidos para construir um hospital de campanha fluvial no Amazonas.
Damasceno chefia há quatro anos o Estado Maior da Aeronáutica, órgão de assessoramento direto do comando e responsável por planejamento, formação de militares e aparelhamento da Força, como os novos caças Gripen e a aeronave KC 390. Com a experiência de ter atuado na área de comunicação da FAB, no atual governo foi escalado como porta-voz da missão que resgatou brasileiros que estavam na China para uma quarentena em Anápolis (GO), no início da pandemia de Covid-19.
A Marinha, por sua vez, é onde há mais indefinição. Dois oficiais generais quatro estrelas figuram como possíveis comandantes, ambos almirantes de esquadra. São eles Renato Rodrigues Aguiar Freire, atual chefe do Estado Maior da Armada, e Marcos Sampaio Olsen, comandante de Operações Navais.
Aguiar Freire, de 63 anos, é o oficial mais antigo e atualmente chefia o órgão máximo de assessoria do comandante, mas tem enfrentado problemas de saúde. Por causa disso, havia uma expectativa entre integrantes da Marinha que ele pudesse antecipar sua ida para a reserva. Neste caso, o segundo mais antigo da tropa, Olsen, assumiria.
Segundo pessoas próximas, tanto Olsen quanto Aguiar Freire são reservados e têm perfis opostos ao do comandante atual, almirante Almir Garnier Santos, considerado midiático e o mais bolsonarista dos três chefes das Forças de Bolsonaro.
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