Como será a tramitação da reforma da Previdência por Câmara e Senado
Previsão é que texto não pode estar aprovado antes de setembro; Proposta de Emenda Constitucional exige apoio de dois terços do plenário
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2019 às 11h39.
São Paulo - A apresentação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de reforma da Previdência a ser feita hoje pelo governo Bolsonaro é apenas o primeiro passo de um longo caminho até uma eventual aprovação.
Na transição e no início da gestão, havia sido discutida a possibilidade de acelerar o trâmite no Congresso Nacional aproveitando a reforma apresentada pelo governo de Michel Temer, já pronta para votação.
A estratégia foi abandonada oficialmente na semana passada pois limitaria o alcance da reforma, poderia ser questionada juridicamente e daria margem para a oposição alegar que o debate foi atropelado.
"A frustração do mercado, que esperava uma aprovação mais rápida, deve ser compensada com a elaboração de uma reforma mais consistente", escreve a consultoria Arko Advice em relatório.
Uma das chaves para acelerar o processo será garantir o quórum. Uma sessão pode ser aberta oficialmente entre terça e quinta-feira se pelo menos 51 deputados estiverem presentes a partir das 14 horas.
Às segundas e sextas-feiras, o prazo é 9 horas da manhã. Nesses dias, é comum que os deputados estejam indo ou voltando das suas bases em outros estados, e portanto não estejam presentes.
A aposta de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, é que em um começo de ano legislativo será mais fácil ter deputados presentes também nas segundas e sextas-feiras. Com isso, estariam garantidas cinco sessões por semana.
Os partidos também podem coordenar suas bases para escalar o número mínimo de deputados necessários para abrir cada sessão.
Veja como será o trâmite da reforma da Previdência:
Primeiro passo: análise na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ)
Neste primeiro momento, a Comissão analisa se a matéria pode sequer ser admitida pela Câmara. Esta fase poderia começar logo após o recesso de Carnaval, por volta do dia 11 de março.
O número e composição de membros será definido por Maia com base na proporcionalidade partidária e por indicação dos líderes. A CCJ da legislatura passada tinha 66 membros.
Um relator para o texto será escolhido pelo presidente da comissão, um parecer será apresentado e após dois pedidos de vista, que podem ser solicitados por parlamentares e adiam o cronograma, o texto pode ser ser discutido e votado.
Toda essa fase pode durar entre cinco e dez dias, podendo ser encerrada ainda em março.
Segundo passo: análise na Comissão Especial
Aqui a proposta já foi considerada admissível e começa a análise do mérito ao longo de no máximo 40 sessões, que podem ser prorrogadas.
Nas primeiras dez sessões, emendas podem ser apresentadas se tiverem a assinatura de pelo menos um terço da Casa (171 dos 513 deputados).
Essa fase pode durar mais do que os 10 dias úteis previstos, e audiências públicas poderão ser realizadas.
Encerrado o prazo para emendas, o relator pode comunicar seu parecer, que após duas sessões pode ser discutido e votado. É possível que esta fase esteja encerrada, portanto, em meados de maio.
Terceiro passo: votação na Câmara
Aprovada pela CCJ e pela Comissão Especial, a proposta precisa esperar duas sessões para então ser incluída na pauta do plenário, discutida e votada.
Por ser uma emenda constitucional, a reforma precisa ser aprovada por dois terços da Casa, o que significa 308 dos 513 deputados, em dois turnos.
Após aprovação no primeiro turno, há um intervalo de cinco sessões para o segundo. Nesse intervalo, o texto volta para a Comissão Especial para que a redação seja aprovada.
Na hipótese mais rápida, isso tudo pode acontecer por volta de maio e junho, mês também afetado pelas celebrações juninas.
Quarto passo: comissão no Senado
Aprovada na Câmara, a redação final da reforma segue para o Senado. Lá não há Comissão Especial, mas o texto também precisa passar por uma Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.
A CCJ no Senado tem 27 membros designados pelo presidente da Casa também por indicação dos líderes e respeitando a proporcionalidade partidária.O relator da matéria é escolhido pelo presidente da Comissão, que deve ser Simone Tebet (MBD-MS).
O trâmiteé parecido com o da CCJ na Câmara e deve durar cerca de um mês, podendo entao ser encerrado logo após o recesso parlamentar que acontece no mês de julho.
Quinto passo: votação no Senado e sanção presidencial
Após análise na CCJ, a reforma vai para votação no Senado, o que só deve ocorrer no segundo semestre.
Para uma sessão ser aberta, precisam estar presentes um quinto da Casa, ou 16 entre os 81 senadores. A votação do texto é em dois turnos e uma PEC precisa ser aprovada por dois terços, ou 49 entre os 81 senadores.
Se for alterado, o texto volta para a Câmara, que analisa apenas as alterações, podendo mantê-las ou recuperar o texto original. Em seguida, vai para sanção ou veto do presidente da República.
Isso significa que é possível, em tese, que a reforma esteja aprovada em setembro. No entanto, é preciso considerar que a oposição pode tentar adiar os trabalhos ao longo de todo o processo, com recursos como requerimentos para retirar a pauta, adiar discussões ou com questões de ordem, por exemplo.