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Comissão da Verdade recebe primeiro relato de tortura

O empresário Boris Tabacof relatou as violações que sofreu ao ser preso em 1952


	Inauguração da Comissão da Verdade: Tabacof prestou depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em novembro de 2012.
 (Wilson Dias/ABr)

Inauguração da Comissão da Verdade: Tabacof prestou depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em novembro de 2012. (Wilson Dias/ABr)

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Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2013 às 11h34.

São Paulo – O empresário Boris Tabacof demorou 60 anos para revelar as violações por que passou ao ser preso, por motivos políticos, em 1952. “Me obrigaram a tirar a roupa e a ficar nu durante vários dias e a única coisa que tinha nesse cubículo era um balde para as necessidades e esse balde não era retirado. Então, tinha que dormir no chão e, de vez em quando, chegava um soldado e jogava água”, contou, em depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em novembro de 2012.

O depoimento é o primeiro tomado pela CNV de uma vítima de violação de direitos humanos fora do período da ditadura militar (1964-1985). “O único que falou que está dentro do período da comissão [de 1946 a 1988], mas que não foi torturado na ditadura, foi no governo Getúlio Vargas [de 1951 a 1954 ]”, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil a psicanalista Maria Rita Kehl, um dos membros da comissão presentes ao depoimento de Tabacof.

Hoje com 84 anos, Tabacof era à época membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dava suporte a militantes que atuavam dentro das Forças Armadas. “Fui secretário de organização do Comitê do PCB na Bahia, o segundo cargo do partido no estado. É aí que entra como eu tenho a ver com todo esse movimento, que foi um movimento dentro da esfera militar”, explica o empresário que fornecia material ideológico para os militares comunistas. “Eu só tinha contato com uma pessoa, um cabo do Exército cujo nome de guerra era Plínio”, completa.


Em 20 de outubro de 1952, Tabacof foi preso dentro de um ônibus. “Foram bofetadas de todo jeito e me arrancaram do ônibus, me colocaram em uma caminhonete e essa caminhonete foi direto para o Forte do Barbalho [em Salvador]”, conta. No local, começou o período de 400 dias de prisão ao qual foi submetido. Segundo o empresário, as grades das celas do forte eram cobertas com tábuas, “para ninguém ver o que estava acontecendo”.

Além de Tabacof, foram presos na operação para desmantelar a infiltração comunista nas Forças Armadas mais um civil e 28 militares. De acordo com o empresário, os agentes do governo de Getúlio queriam provar que havia um complô comunista simpático à União Soviética para assumir o poder no Brasil. “Como eu não estava contando nada que eles queriam, nem queria assinar, eles foram piorando as coisas. Eu fiquei alguns dias de pé com um soldado, de baioneta calada, ao meu lado que não deixava que eu me sentasse”, lembra sobre o período de cárcere que também incluiu 50 dias de isolamento em uma penitenciária em Sergipe.

Ao final, o empresário acabou assinando uma confissão, junto com os demais presos. Ele respondeu a processo até julho de 1954, quando foi solto após o julgamento.

O trauma impediu que Tabacof revelasse sua história até mesmo para a família, que só recentemente soube desses eventos. “Até a família não sabia, era uma coisa de humilhação que ele não conseguia contar”, ressalta Maria Rita Kehl.

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