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Com 62 mortes por covid-19, moradores da Rocinha enfrentam falta d'água

Mais de cem residências, incluindo casa onde vive família com quatro crianças, na parte baixa da comunidade estão desabastecidas há uma semana

Rocinha: comunidade já registrou 62 óbitos e 308 casos confirmados (Ricardo Moraes/Reuters)

Rocinha: comunidade já registrou 62 óbitos e 308 casos confirmados (Ricardo Moraes/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 22 de julho de 2020 às 21h00.

Em meio à pandemia do novo coronavirus, que já registrou 62 óbitos e 308 casos confirmados na comunidade, segundo o Painel Covid-19 nas Favelas, centenas de moradores da parte baixa da Rocinha estão precisando se virar com a falta d'água. Um problema no abastecimento feito pela Cedae já dura oito dias e ainda não foi descoberto por técnicos da companhia.

O presidente da Associação de Moradores, Wallace Pereira, gravou vídeos e compartilhou em redes sociais mostrando buracos em vias importantes da área, feitos por técnicos da Cedae que tentam há oito dias encontrar o problema no abastecimento.

"Já estamos assim há sete dias, com algumas áreas sem receber água e eles (funcionários da Cedae) deixam os materiais na rua, atrapalhando o ir e vir das pessoas. São dois buracos feitos pela Cedae para descobrir o problema da água. Sete dias no meio da pandemia e ainda não deram uma solução. É o direito de todos os moradores de comunidades de também ter água. E vocês da Cedae devem dar a solução. É direito dos moradores e obrigação da Cedae dar uma solução o quanto antes possível", disse Wallace nas gravações.

Entre as mais de cem famílias afetadas pelo problema da falta de água, está também a da diarista Raquel Nascimento Cândido, de 35 anos. Ela mora numa localidade conhecida como Largo dos Boiadeiros com quatro filhos pequenos, além do marido, Adriano Cândido do Nascimento, de 42 anos. Para suprir as necessidades da família, o casal está comprando água para beber e buscando em baldes o produto numa torneira próxima de casa, onde vários outros moradores também se abastecem para que consigam tomar banho e até dar descarga nos vasos sanitários. Nesta terça-feira, Raquel recebeu uma doação da Cruz Vermelha, através da escola de três de seus filhos, a Lápis de Cor, que fica na Via Ápia.

— Tenho quatro filhos: de 10, 8, 5 e 2 aninhos. Está sendo horrível, estamos tendo que comprar água para beber. E para dar descarga e tomar banho nós estamos pegando de uma torneira na rua, onde tem um lugar em que está caindo água. Ontem (terça)  recebemos uma doação da Cruz Vermelha, mas já são oito dias (sem água). Meus filhos reclamam porque eles gostam de tomar banho e, principalmente, por causa do problema da pandemia. Mesmo estando dentro de casa eles estão com mania de lavar as mãos a todo instante. Então, precisamos comprar álcool em gel para que eles fiquem usando — relatou a diarista.

Desempregado, fazendo bicos como mototaxista, Adriano Cândido conta que tem se desdobrado em casa para manter as crianças calmas em meio ao problema.

— Os mais velhos estão tendo aulas pelo meu celular, e não está sendo fácil mantê-los tranquilos com essa falta d'água. A todo instante ficam querendo se higienizar, como nós ensinamos para eles. Aí eu preciso descer com baldes e pegar água na torneira — lamentou.

Por meio de nota, a Cedae informou que ainda tenta identificar um vazamento encoberto, mas que construções sobre a rede dificultam o trabalho. A companhia acrescentou que está fazendo abastecimento na comunidade com carros-pipa:

"A companhia vem atuando ininterruptamente na região desde a última sexta-feira (17/07) a fim de identificar vazamento encoberto que estaria reduzindo o abastecimento. No entanto, interferências como construções sobre as redes da Companhia aumentam o grau de complexidade do trabalho.

Técnicos permanecem atuando para localizar o vazamento e concluir o reparo. Vale informar que a Cedae está realizando o fornecimento de água para os moradores por meio de carro-pipa", informou.

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