Coaf fez relatório sobre David Miranda, diz Globo; Deputado nega acusações
Órgão enviou ao MP-RJ, dois dias após início da Vaza Jato, um documento que aponta "movimentações atípicas" de R$ 2,5 milhões do parlamentar
Clara Cerioni
Publicado em 11 de setembro de 2019 às 18h21.
São Paulo — Reportagem publicada nesta quarta-feira (11) pelo jornal O Globo revela que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviou um relatório ao Ministério Público do Rio de Janeiro apontando "movimentações atípicas" de R$ 2,5 milhões do deputado David Miranda (PSOL-RJ).
Segundo o veículo, o documento diz que as movimentações aconteceram entre 2 de abril de 2018 e 28 de março de 2019. O relatório chegou ao MP-RJ dois dias após o site The Intercept Brasil começar a divulgar mensagens de autoridades da Operação Lava Jato, em 9 de junho.
A partir do documento, o MP abriu uma investigação sobre as movimentações do parlamentar. De acordo com o jornal, o Coaf aponta que, no período analisado, R$ 1,3 milhão entrou na conta corrente do parlamentar, registrada em uma agência do Banco do Brasil em Ipanema.
As saídas da conta somaram R$ 1,2 milhão no mesmo período. A movimentação considerada atípica pelo órgão não significa que tenha sido identificada uma ilegalidade.
Em nota divulgada por seu partido, o PSOL, Miranda nega as acusações e diz que "quando o MP se refere a movimentação financeira, soma entrada e saída em conta bancária", ele "induz à percepção de que o dinheiro que passou pela conta foi o dobro do que realmente a conta movimentou".
Cita, ainda, as atividades de Glenn Greenwald, marido do parlamentar, que é editor do site The Intercept Brasil. "Como eu disse anteriormente, o relatório enviado pelo COAF ao MP-RJ mostra uma quantia totalmente compatível com a renda de nossa família". Ele fala em projetos com ONGs, venda de livros, filmes e palestras.
Leia a nota de David Miranda na íntegra:
"Há duas semanas, soube por meio de matéria jornalística que havia um procedimento aberto pelo MP-RJ que investigava minhas movimentações financeiras, procedimento que supostamente corria em segredo de justiça. No mesmo consta movimentação de R$ 1,3 mi em minha conta bancária. Quando o MP se refere a movimentação financeira, soma entrada e saída em conta bancária — o que induz à percepção de que o dinheiro que passou pela conta foi o dobro do que realmente a conta movimentou.
Como eu disse anteriormente, o relatório enviado pelo COAF ao MP-RJ — dois dias depois que meu marido, o jornalista Glenn Greenwald, deu início à publicação da série de reportagens com revelações sobre a Lava Jato — mostra uma quantia totalmente compatível com a renda de nossa família. Desde o início da Vaza Jato, esperávamos este nível de retaliação e desinformação deliberada.
Para além da renda de parlamentar, possuo sociedade com meu marido em uma empresa com projetos importantes. O salário anual do Glenn — como co-fundador e jornalista investigativo do portal The Intercept e da Intercept Brasil — é informação pública, porque essas empresas são ONGs. Qualquer jornalista pode compará-lo com os valores reportados pelo COAF para constatar a compatibilidade óbvia. Além disso, seus projetos — dos quais participei como parceiro — incluem livros que figuram nas listas dos mais vendidos do mundo, filmes e palestras.
Sobre a tal gráfica citada na matéria, não faço ideia do que se trata, nunca rodei material em Mangaratiba. Sempre fiz meus materiais de divulgação na cidade do Rio e, poucas vezes, em Niterói.
Na semana passada, o juiz negou o pedido do MP-RJ para quebrar meu sigilo bancário, para que eu pudesse enviar os documentos que demonstram a origem dessa renda. Nossos advogados estão fazendo exatamente isso para cumprir a ordem do juiz. A única ilegalidade existente é a praticada por aqueles que vazam essas informações para prejudicar minha reputação como retaliação pelas reportagens do Intercept. Estou aguardando a citação da justiça para explicar detalhadamente meus rendimentos".